postado em 27/07/2010 08:20
; Ivan Iunes; Igor Silveira
; Vinícius Sassine
O balanço dos primeiros 20 dias de campanha oficial à Presidência traz uma constatação incômoda aos três principais candidatos, José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV): a pouca viabilidade de algumas propostas feitas ao eleitor. Até aqui, a trinca de postulantes ao Planalto já prometeu de enxoval para mulher grávida e desmatamento zero até a aplicação da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mesmo que a primeira ainda esteja longe de conclusão. A maior característica dessas propostas é explorar avanços na área social no país. Mas, muito do além do que deve ser feito, falta aos candidatos a explicação de como fazer.
Ainda dispersas, as propostas saíram, em sua maioria, de comícios, entrevistas e até no corpo a corpo. Exemplar típico de promessa ;pontual; foi a construção de um hospital para mulheres grávidas no Rio de Janeiro, feita por Serra durante visita à capital fluminense. Em outros casos, candidatos se digladiam pela mesma benesse, caso da duplicação do Bolsa Família, alvo de disputa entre o tucano e Dilma. O custo previsto da proposta: R$ 16 bilhões.
Para especialistas, a maior parte das promessas feitas até aqui esbarra na falta de planejamento definido para implementação. ;As medidas populistas são caracterizadas por projetos sem respaldo político ou programas desnecessários. Os candidatos pecam, muitas vezes, por propostas vagas;, afirma o diretor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Marcos Figueiredo. Um exemplo de ;proposta vaga;, de acordo com o cientista político, é o anúncio do aumento de salário para os professores, feito por Dilma Rousseff no último dia 22. Na ocasião, a candidata não soube responder de quanto seria o reajuste ou de onde viriam os recursos para viabilizar a medida.
Outro caso, no mesmo evento, ocorreu quando Dilma foi perguntada sobre a viabilidade de dobrar o número de beneficiados pelo Bolsa Família ; mesma proposta sugerida por Serra. ;Eu não disse que era impossível. Impossível é o Serra fazer isso. Nós podemos dobrar, sim;, respondeu Dilma, sem dizer como realizaria a proeza. A petista também insiste em anunciar o PAC 2, no valor de R$ 958,9 bilhões. Políticos da oposição e críticos do governo, contudo, não se cansam de destacar que a primeira edição do programa sequer foi concluída. ;Quando o presidente Lula anunciou várias de suas propostas, hoje cumpridas, os opositores fizeram chacota. O Brasil tem recursos. É só uma questão de avaliarmos as prioridades;, defendeu o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Clareza
No rol de promessas de José Serra, entram medidas sem qualquer impacto definido ; inexistem até mesmo estudos prévios de logística. Nessa lista, entram a entrega gratuita de remédios para doentes crônicos, via correio, ou a criação de uma bolsa para estudantes do ensino técnico. O esforço para apresentar propostas sociais é explicado pelas pesquisas, que mostram o setor como o mais bem avaliado do governo Lula. ;Há propostas, como a da entrega de remédios, por exemplo, que são viáveis. Ela já é até feita em alguns municípios. O que faltou ao candidato foi uma apresentação mais clara de como isso se daria;, destacou Figueiredo.
Com boa parte da campanha pautada sobre a sustentabilidade, as promessas de Marina flertam com uma espécie de populismo ambiental. A ideia mais distante da realidade feita pela candidata verde é o desmatamento zero em todos os biomas nacionais. Ela pretende aumentar a produtividade do agronegócio, com reaproveitamento de áreas degradadas pela pecuária. Com isso, seria possível restaurar recursos naturais e zerar o desmatamento. À frente do Ministério do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, Marina conseguiu diminuir o ritmo de destruição da Amazônia, o que se manteve nos últimos dois anos. Mas, ainda assim, o principal bioma brasileiro encolheu 110 mil km2 ; ou 19 vezes o DF ; nos seis anos em que ela comandou a pasta ambiental.
Na área social, Marina prometeu neste mês ampliar os gastos individuais com os estudantes, de R$ 1.114 para R$ 2 mil, ampliar as unidades de polícia pacificadoras (UPPs) no Rio de Janeiro e colocar 350 mil agentes sociais na capacitação de beneficiários do Bolsa Família. Ela também promete internet para todos os brasileiros ; hoje, pouco mais de um terço da população tem acesso ao serviço. O que a candidata não conseguiu esclarecer são as brechas que conseguiu enxergar no Orçamento para dar conta de tantas promessas.
Ver para crer
Marina Silva (PV)
- Desmatamento zero em todos os biomas brasileiros
- Mobilização de 350 mil agentes sociais e de saúde para capacitação de beneficiários do Bolsa Família
- Aumento de 80% do investimento em cada estudante brasileiro
- Associar a distribuição de medicamentos a tratamentos de acupuntura ou homeopatia
- Criação da Agência Nacional de Clima e implantação de um sistema nacional de alerta de desastres
- Hospital para grávidas no Rio de Janeiro
- Enxoval às mulheres grávidas
- Bolsa-extra para alunos de escolas técnicas
- Dobrar o Bolsa Família e aumentar o volume de recursos
- Entrega de remédios em casa, pelo correio, a pacientes crônicos e distribuição gratuita para os mais carentes
- Acabar com a miséria
- Aumentar o salário dos professores
- Dobrar o Bolsa Família
- Incluir reforma de casas e reduzir burocracia do Minha Casa, Minha Vida
- PAC 2, obras entre 2011 e 2014, no valor de R$ 958,9 bilhões