Politica

Na contramão da visão empresarial, Serra traça sombria herança do governo Lula na economia

Daniela Almeida
postado em 27/07/2010 07:30
São Paulo ; A avaliação do atual cenário econômico e político brasileiro feita pelo candidato José Serra (PSDB), ontem, em discurso para 497 representantes do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) e a opinião da plateia parecem não estar em sintonia. Enquanto Serra gastou toda a artilharia com críticas pesadas às medidas promovidas pelo atual governo Lula (PT), os empresários analisaram positivamente os temas em uma pesquisa divulgada logo após o evento.

Segundo o levantamento promovido pelo Lide e pela Faculdade Getulio Vargas (FGV), 80% dos entrevistados consideram a carga tributária um fator que impede o crescimento de sua empresa. Apenas 3% apontaram o atual cenário político como uma restrição. Críticas à parte, o candidato evitou apresentar propostas para uma reforma tributária, principal problema apontado pelos empresários na pesquisa.

Ele aproveitou, contudo, o tema para alfinetar(1) a candidata do governo nas eleições, a ex-ministra Dilma Rousseff. Ao classificar a arrecadação de impostos como uma das mais pesadas no mundo, o tucano lembrou a afirmação recente de Dilma em uma entrevista para a TV de que não considerava alta a carga tributária brasileira frente a de outros países. ;Outro dia, Dilma disse que isso (ter alta carga tributária) era bom. A assessoria dela se esqueceu de avisá-la que não podemos comparar o Brasil, ainda em desenvolvimento, com a Suíça;, cutucou.

Serra tentou adotar um discurso sobre medida para o empresariado e chegou a citar o economista britânico John Maynard Keynes (defensor da intervenção do Estado com o objetivo de criar empregos) em sua fala. Segundo o candidato, o país sofre de uma demanda de 20 milhões de vagas e, por isso, precisa adotar uma abertura competitiva a exemplo dos países asiáticos. Entre os pesquisados pelo Lide e a FGV, 73% dos afirmaram que seus negócios estão em uma melhor situação, comparado ao ano anterior, e 60% declararam que pretendem empregar funcionários em postos diretos e indiretos de trabalho.

Farpas
Outra fonte das duras críticas ao governo foi a política externa brasileira. Serra colocou em xeque a relação do Brasil com países sul-americanos e com a China. ;Estamos fazendo filantropia com Paraguai e Bolívia. Com a China, só fizemos concessões;, disse. O candidato questionou ainda a posição do governo brasileiro frente a Cuba. ;É amigo de Cuba? Muito bem. Então usa isso para libertar os presos políticos e não deixa isso para a Espanha.;

Ele voltou a abordar a eventual proximidade entre o atual governo, a Venezuela e as Farc. O tema foi cenário de uma troca de farpas recente entre o PSDB e o PT, protagonizada pelo candidato a vice de Serra, deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ), que estava ao lado do tucano no evento. ;É indiscutível que o Brasil sempre teve simpatia pelo (Hugo) Chávez (presidente da Venezuela). E é inegável que o Chávez abriga as Farc.;

1 - Estradas não ortodoxas
Em outro trecho de suas críticas à gestão petista diante do empresariado, José Serra citou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) como um exemplo de ausência de planejamento. ;Tem órgão como o Dnit que é uma piada em matéria de planejamento;, comentou. O ex-governador afirmou ainda que as estradas são feitas segundo interesses eleitorais ou não ortodoxos. Ele avaliou que o país poderia ter crescido mais durante a crise econômica que afligiu boa parte do mundo em 2009. ;O Brasil perdeu a chance de crescer na crise e investir mais. Talvez por falta de conhecimento.;

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