Politica

Discursos longe da realidade no primeiro debate dos presidenciáveis

postado em 07/08/2010 11:36
A diferença entre as dimensões de 80 campos de futebol e de apenas um tem o tamanho da divergência de discurso de candidatos em época de eleição. Números são detalhes e brincando com eles pode-se elevar o reajuste do salário mínimo, diminuir valores absolutos de pobres no país e confundir meta com realidade. O jogo vale para camuflar os fatos e parecer pujante diante do eleitorado. [SAIBAMAIS]O primeiro debate presidencial mostrou que os dois principais concorrentes ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), escorregaram nos dados. Mais exposta, a petista cometeu uma série de erros. Foram, pelo menos, cinco deslizes graves para um administrador público. A maior falta de precisão ocorreu na área de Educação. Ela, no entanto, derrapou em dados sobre salário mínimo e sobre o número de pessoas que deixaram os níveis de pobreza. A petista afirmou durante o debate que o mínimo, que saltou de R$ 240 em abril de 2003 para R$ 510 este ano, teve reajuste real de 74%. Não é verdade. Segundo estudo do Dieese, levando-se em conta a inflação medida pelo INPC, o reajuste real é de 53,67%. O curioso é que a informação repassada por Dilma é a mesma que o presidente Lula repete à exaustão em seus discursos. Nos dados sobre pobreza, ela usou um dado que inclui também o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e tomou como sendo exclusivamente da administração Lula. Dilma disse que 24 milhões saíram da pobreza desde 2003. "Elevamos 31 milhões (de pessoas) à classe média", afirmou no debate televisionado na noite de quinta. Segundo a Fundação Getulio Vargas, 20,9 milhões de pessoas deixaram entre 2003 e 2008 a parcela mais pobre da população, com renda inferior a um salário mínimo, migrando para as classes D e E, e 32 milhões chegaram às classes A, B e C. O governo também discorda dela. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que 12,8 milhões saíram da pobreza absoluta e 12,1 milhões da pobreza extrema entre 1995 e 2008. Ou seja, 24,9 milhões em 13 anos. Irreal Na Educação, a petista acumulou mais erros. Ela primeiro afirmou que o ministério investe entre 5% e 6% do Produto Interno Bruto, ao ser confrontada pela candidata do PV, Marina Silva, sobre a possibilidade de o percentual chegar a 7%. O último dado disponível pela pasta - de 2008, mas divulgado este ano - mostra que 4,7% do PIB é aplicado. Dilma também trocou meta por realidade. Segundo ela, o governo já fez 214 escolas técnicas. Esta, na verdade, é uma aspiração para os oito anos de Lula. Na verdade, o governo construiu 147 escolas desde 2003. Dilma subestimou, ainda, a própria capacidade na época em que chefiava o Ministério de Minas e Energia. Segundo ela, o Luz Para Todos atende 2 milhões de residências, 400 mil a menos do que o número oficial repassado pela pasta, segundo dados de julho. Já o candidato tucano evitou listar números, mas derrapou quando disse que uma propriedade rural de 80 hectares é uma chácara de fim de semana. 80 hectares é igual a 800 mil m², ou 80 campos de futebol, extensão normal de uma boa fazenda.

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