Politica

Proximidade do fim do mandato amplia a face emotiva do presidente Lula

Igor Silveira
postado em 08/08/2010 07:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anda à flor da pele. Faltando pouco menos de cinco meses para o fim de sua gestão à frente do governo federal, o petista tem se emocionado mais que o de costume em eventos da agenda oficial. O tom de despedida alonga as falas do presidente, como se ele não quisesse deixar o momento passar. Em entrevista recente a uma emissora de televisão, ao tentar fazer uma avaliação sobre os dois mandatos, não conseguiu concluir o raciocínio: debulhou-se em lágrimas, deixando até a entrevistadora desconcertada. ;Acho que estou ficando velho;, brincou, enquanto tentava se recompor.

Lula deixa o Palácio da Alvorada, onde morou nos últimos oito anos, em 31 de dezembro. A volta para São Bernardo do Campo, região do ABC paulista onde iniciou sua trajetória política, também balança o petista emocionalmente. Em 1; de maio deste ano, o presidente esteve lá para um evento promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). No palanque, acompanhado pela então pré-candidata à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, Lula chorou bastante.

;Quando eu deixar o cargo de presidente, vou continuar morando no mesmo apartamento, na mesma distância do sindicato que me projetou para a política e das empresas em que fiz as greves mais maravilhosas do Brasil. O que mais vai me dar orgulho é que eu vou poder dizer, ao encontrar qualquer trabalhador, ;bom dia, companheiro;, porque fui leal ao que nós sempre pregamos;, ressaltou, mais uma vez, aos prantos.

Catadores
Não é só o fim do mandato que tem levado Lula às lágrimas. Três temas recorrentes nos últimos discursos emocionam o petista. O primeiro deles é a linha de crédito disponibilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para cooperativas de catadores de papel. No total, serão R$ 225 milhões em dois anos, utilizados, por exemplo, na construção de galpões de tratamento de resíduos.

Outro assunto citado com frequência por Lula em discursos emocionados é a formatura, em junho deste ano, dos primeiros alunos de medicina beneficiados pelo Programa Universidade para Todos (ProUni). O programa, que começou em 2005 e oferece bolsas parciais e integrais para cursos do Ensino Superior, é um dos orgulhos do presidente. Quando fala do assunto, Lula costuma dizer que ;morrerá feliz; e que não sabe se há ;melhor fotografia para justificar a passagem pela Presidência;.

A outra questão lembrada sempre pelo presidente Lula ; e um dos trunfos para a campanha eleitoral de Dilma ; é o programa Luz para Todos. Nas falas sobre o projeto, o petista sempre traz à tona lembranças de tempos difíceis, quando não tinha acesso a eletrodomésticos básicos, como geladeira e televisão. A fase emotiva tem se traduzido em cobrança(1) aos ministros. O presidente não quer deixar furos na saída do governo e pede para que os ministros não fiquem dispersos com o período eleitoral.

Na cerimônia que marcou a sanção da Política dos Resíduos Sólidos, no último mês, Lula foi enfático: ;Eu só tenho cinco meses de mandato. Para a oposição, o tempo demora pra caramba. Para mim, está passando rápido. Tudo isso terá de acontecer até 31 de dezembro. A partir daí, serão outros desafios para quem chegar. Precisamos deixar o paradigma preservado;.

1 - Exigência em alta
Lula não quer mesmo correr o risco de deixar o Planalto dando motivos para que a oposição critique os oito anos de governo. Por isso, na última reunião de coordenação, no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo, avisou aos ministros: ;Vocês têm contrato até 31 de dezembro. Vamos manter o foco para concluir as ações de governo até lá;. Esse recado deve ser reforçado na próxima terça, na reunião ministerial convocada pelo presidente.

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