Ivan Iunes
postado em 08/08/2010 07:00
Ainda sob ecos do debate presidencial, a candidata Dilma Rousseff (PT) criticou o adversário José Serra (PSDB) ontem, no Rio de Janeiro, pela adoção de medidas antissociais. A petista atribuiu ao tucano e ao partido aliado, o DEM, as tentativas de pôr fim às cotas para negros em universidade públicas, durante encontro promovido pela Central Única de Favelas (Cufa), na Cidade de Deus. As acusações vieram à luz dois dias depois de Serra ter acusado o governo federal de retirar dinheiro destinado à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).A contar da visita de ontem, ao Rio de Janeiro, às críticas às políticas sociais implementadas por Serra quando governador de São Paulo e às propostas do tucano para área devem dar o norte da campanha petista nos próximos dias. Logo no início da tarde, Dilma disse a jovens da Cidade de Deus que era favorável à reserva de vagas para negros e pobres no ensino superior. Ao mesmo tempo, também criticou a forma como o adversário tratou movimentos grevistas quando ainda era governador e a ação do DEM na Justiça, contestando políticas de cotas. ;O DEM entrou no Supremo Tribunal Federal com a alegação de que estávamos nivelando a educação por baixo ao abrirmos vagas para a população mais pobre. Aconteceu o oposto. Os jovens se superaram e tiveram extraordinário desempenho;, afirmou.
Desde julho do ano passado corre uma ação do DEM no STF com pedido de declaração de inconstitucionalidade de atos que resultaram na instituição de cotas na Universidade de Brasília. Ao defender o diálogo franco com movimentos sociais e trabalhadores, a petista aproveitou para carimbar outra crítica em Serra, devido aos confrontos entre grevistas e a polícia paulista quando o tucano era governador de São Paulo. ;Temos de ter professores capacitados e repudiar os que acham que professor não precisa reivindicar e, quando pleiteia, tem que ser tratado a cassetete. Professores serem reprimidos é coisa do passado. Com professores e movimentos sociais, a gente dialoga;, disse a petista.
Aos jovens da Cidade de Deus e às lideranças da Cufa, Dilma prometeu estender o programa de acesso à banda larga e fortalecer o combate à corrupção. Ela assistiu a apresentações de capoeira, dança de rua e de teatro. Ganhou ainda de presente um retrato seu feito pelos alunos da Oficina de Grafite.
MEC desmente boicote à Apae
O governo federal reagiu à acusação do candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) de que o Ministério da Educação (MEC) teria retirado recursos essenciais da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). O tucano declarou durante o debate presidencial, na quinta-feira, que a pasta teria cortado o transporte escolar e proibido a entidade de atuar como escolar. De acordo com o MEC, o governo teria destinado à entidade R$ 293 milhões em 2010.
O cerne das críticas de Serra à atuação do governo federal em relação às Apaes se concentra em um programa do MEC voltado para a educação de pessoas com deficiência. O projeto teria incentivado o descredenciamento das Apaes para atuação como escolas. Para exigir que crianças e adolescentes cursassem escolas comuns, o ministério teria determinado a criminalização dos pais que descumprissem a norma. Os alunos ficariam apenas duas horas semanais em salas especiais, modelo criticado pela Apae, especialmente no caso de estudantes com deficiências mais graves.
O MEC contra-argumenta com o aumento no número de matrículas. ;Hoje, a rede pública contempla 454.927 matrículas de estudantes com deficiência. Mais alunos da educação especial estão em classes comuns do ensino regular em relação a 2003, quando havia 145.141 matrículas. Dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2009 já apontam 387.031 estudantes incluídos;, diz a nota do ministério.