postado em 09/08/2010 08:30
;Agora, a guerra é pela sobrevivência.; A frase dita há alguns dias pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) resume o vale-tudo que se passa na sucessão de 54 cadeiras do Senado Federal. O fato de haver duas vagas em jogo em cada estado tem provocado acordos táticos entre candidatos de diferentes coligações e faz aliados caminharem lado a lado com o inimigo. A ordem é chamar o adversário para dialogar e, não raro, propor que ele ;libere; o segundo voto.Na Paraíba, por exemplo, onde Vital do Rego Filho (PMDB), conhecido como Vitalzinho, concorre ao lado de Wilson Santiago, do PMDB, começa a se desenhar um compromisso informal entre o ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) e Vitalzinho, ambos de Campina Grande (PB). Na semana passada, a própria assessoria de Vitalzinho divulgou declarações do candidato, com elogios ao tucano. ;Tenho uma relação respeitosa com o ex-governador. Essa questão se refere exclusivamente a ele. Não vamos tripudiar sobre esse problema (1) que ele passa;, disse Vitalzinho.
Em Minas Gerais, uma parte do PMDB corre para os braços de seu ex-filiado Itamar Franco. Tudo começou quando, há cerca de 20 dias, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) procurou o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado (PMDB) propondo a ele que ocupasse a vaga de primeiro suplente de Fernando Pimentel na campanha ao Senado. A conversa, na casa do peemedebista, durou quase duas horas e terminou com Delgado disposto a entrar na batalha para ajudar Pimentel. O PT de Minas, entretanto, preferiu que a vaga de suplente ficasse com um petista.
O raciocínio do PT para não abrir a suplência de Pimentel para o PMDB está diretamente relacionado à briga que PT e PMDB travam nos bastidores para ver quem terá a maior bancada: se Dilma Rousseff vencer a eleição presidencial, o PT calcula que Pimentel será ministro. E, assim, se Pimentel for senador e o suplente for do PMDB, o PT terminaria por garantir mais um senador aos peemedebistas. Tanto pensamento no futuro pode atrapalhar o presente, porque, irritada, parte do PMDB mineiro começa a descontar a frustração em Pimentel, que, garantem os petistas, tem sido um candidato leal ao projeto de eleger Hélio Costa (PMDB) governador. A expectativa agora é a de que Lula vá a Minas ainda esta semana e ajude a reaglutinar os aliados em torno do projeto estadual.
Chama o Lula
O presidente também foi chamado para ir ao Ceará em prol da boa convivência entre os dois candidatos ao Senado na aliança de Cid Gomes (PSB). Com Tasso Jereissati (PSDB) na liderança de todas as pesquisas para se reeleger senador, os candidatos do lado do governo Lula ; José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB); ficaram embolados em segundo lugar com a clara sensação de que vivem o filme ;dormindo com o inimigo;. Os petistas acreditam que Cid Gomes trabalhará mais por Eunício Oliveira. E os peemedebistas desconfiam que o PT terminará jogando Eunício ao mar para eleger Pimentel. Por isso, um dos motivos da visita de Lula ao estado será aglutinar a campanha ao Senado e tentar convencer os dois de que o projeto é tentar evitar a reeleição de Tasso.
Traição no ar
Em Pernambuco, uma das tarefas da coligação de Eduardo Campos (PSB) ao governo estadual é tentar alavancar a candidatura de Armando Monteiro Neto (PTB) ao Senado. Lá, o quadro indica dois líderes embolados: Marco Maciel (DEM) e Humberto Costa (PT). Há petebistas interessado em fazer uma ponte com Maciel para garantir o segundo voto do candidato do DEM e, assim, tentar empatar o jogo, uma vez que o eleitorado de Armando e o do PT não têm o costume de caminhar juntos.
No Pará, a manobra política foi feita antes da largada eleitoral. Candidato ao Senado(2), Jader Barbalho (PMDB) evitou ficar no mesmo palanque que Paulo Rocha (PT) porque sentiu o cheiro de traição no ar. Ao perceber que o PT poderia lhe abandonar no meio da campanha, Jader lançou um candidato a governador e buscou um acordo tático com o PSDB. Assim, os tucanos lançaram apenas o senador Flexa Ribeiro à reeleição e tiraram Valéria Pires Franco (DEM) da disputa às vésperas da convenção. O DEM paraense ficou tão revoltado que o deputado Vic Pires Franco (DEM), marido de Valéria, anunciou que não iria mais concorrer a um mandato eletivo. Na guerra de Jader pela sobrevivência a que se referiu Renan Calheiros, quem pagou o preço de se sentir traído foi o DEM.
1 - Fisgado pelo Ficha Limpa
Ex-governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima briga na Justiça Eleitoral para ter a candidatura ao Senado chancelada. Na semana passada, o Tribunal Regional Eleitoral do estado impediu o registro do tucano para disputar as eleições de outubro. Os juízes do TRE paraibano vetaram a candidatura de Cunha Lima pautados na Lei da Ficha Limpa. O tucano foi cassado no ano passado pelo TSE por abuso de poder econômico durante a campanha eleitoral. A assessoria do candidato vai recorrer ao TSE. Cunha Lima lidera as pesquisas eleitorais no estado.
2 - Como funciona
O Senado brasileiro tem 81 cadeiras e atua como uma representação dos estados e do Distrito Federal no Congresso Nacional. O mandato de cada senador dura oito anos. A renovação dos nomes é feita a cada quatro anos, de forma gradativa. Em uma eleição, caso desta, são trocados dois terços dos parlamentares, ou 54 integrantes. Na outra, quatro anos depois, um terço das cadeiras recebem novos mandatários, ou 27. Cada Unidade Federativa tem direito a três cadeiras na Casa.