Politica

Relação entre o DEM e o PSDB está cada vez mais desgastada

Daniela Almeida, Ivan Iunes
postado em 11/08/2010 07:40
Falta de recursos, centralização excessiva de decisões estratégicas e crescimento da candidatura petista de Dilma Rousseff abalam a relação dos integrantes do PSDB e do DEM. Ontem, um José Serra (PSDB) irritado bem que tentou varrer para debaixo do tapete a crise entre as duas legendas: ;O ti-ti-ti não acaba;, reclamou, durante visita a São Bernardo do Campo (SP). Mas o descompasso vai além de uma simples frase de efeito. Movimentações e declarações recentes evidenciam que os dois grupos aliados já não falam o mesmo idioma. Pior, o volume das reclamações cresce a cada dia. O cardápio do desgaste seria tema de conversa entre o presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra, Sérgio Guerra, e o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, escalado para tentar contornar as desavenças. O encontro estava marcado para a noite de ontem.

Os ruídos de comunicação entre tucanos e democratas tiveram início nas composições regionais, mas já colocam Serra e o presidente do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), em mesas distintas. Em pelo menos cinco estados (veja quadro), as duas legendas não se entendem quanto aos rumos na campanha. Em Sergipe e no Rio Grande do Sul, a falta de sintonia, mais do que explícita, é oficial. O quadro se agravou ainda mais com o baixo repasse de recursos da campanha nacional para os estados. Diante da reclamação de Fernando Gabeira (PV), de que daria a mesma ;banana; depois das eleições, dispensada a ele agora pelos aliados, Maia recomendou que ela fosse transferida a Serra, pois ele não teria prometido nada ao candidato verde. A fala irritou o presidenciável tucano.

Embora tenha irritado especialmente Serra, os efeitos da frase foram além. Ela atingiu a campanha no Rio de Janeiro e reforçou a reclamação recorrente do DEM de abandono do aliado nos estados em que lidera a cabeça de chapa. ;Toda a oposição está reclamando é da campanha milionária do outro lado. A campanha estadual dos nossos adversários é mais forte, especialmente no Nordeste. Em todos os lugares, as pessoas estão reclamando, pedindo mais recursos, mas ainda não temos como combater isso;, admite Guerra.

Para Sérgio Guerra, existe um exagero nas reclamações dos aliados, que teriam sido prejudicados apenas na composição eleitoral no Pará, onde Valéria Pires Franco (DEM) não teve a legenda ao Senado. Em contrapartida, os tucanos teriam sacrificado aliados em Santa Catarina, na Paraíba, no Espírito Santo, em Sergipe e no Rio Grande do Norte em favor dos democratas. ;Chegamos a fazer uma intervenção no Rio Grande do Norte para colocar um aliado que favorecesse o acordo com o DEM;, ressalta Guerra. O candidato ao Senado pelo Paraná, Gustavo Fruet (PSDB), admite que há uma tensão entre os aliados, especialmente por conta dos repasses financeiros. ;Todos nós enfrentamos problemas, até porque a arrecadação está muito aquém do previsto, mas não adianta sair reclamando. Em campanha é difícil manter a sintonia o tempo todo;, minimiza Fruet.
Outra reclamação recorrente dos aliados é a total inoperância do conselho político montado por Serra, composto pelo próprio candidato e os presidentes nacionais das legendas aliadas (PSDB, DEM, PPS, PTB), além de Aécio e Fernando Henrique Cardoso. Para tentar controlar o incêndio na campanha tucana, Guerra pediu pessoalmente que o ex-governador mineiro intercedesse perante a Rodrigo Maia. Hoje, o presidenciável tucano estará no Rio de Janeiro para dar entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. O esforço seria para que a viagem incluísse uma conversa apaziguadora entre Serra e o presidente do DEM, mas a agenda ainda não foi confirmada. À imprensa, o democrata desencorajou a viagem.

Situação atual
Confira como andam os rachas entre o DEM e o PSDB nos estados:


Bahia
O deputado federal Jutahy Júnior (PSDB) nunca foi ligado aos aliados do ex-senador Antônio Carlos Magalhães. A morte do senador apazigou as desavenças, mas não o suficiente para o parlamentar se engajar na campanha de um dos herdeiros do carlismo. O candidato a governador Paulo Souto (DEM) reclama da falta de empenho de Jutahy.

Pará
Vice-presidente do DEM, Valéria Pires Franco tinha pretensões reais de concorrer ao Senado. Sonhava ainda com a vice de José Serra (PSDB). Por conta das composições regionais e nacionais, os dois planos acabaram naufragando.

Paraíba
Embora o PSDB esteja fechado com o DEM pela candidatura de Ricardo Coutinho (PSB) no pleito local, o senador tucano Cícero Lucena tem feito movimentos claro em direção a José Maranhão (PMDB). Oficialmente, o parlamentar mantém o apoio ao socialista, mas liberou o suplente, o empresário João Rafael de Aguiar, para embarcar na campanha de Maranhão.

Rio Grande do Sul
A governador Yeda Crusius cortou dobrado por quatro anos com o vice Paulo Feijó, do DEM. O segundo nome do Palácio Piratini liderou um movimento de cassação da titular. A batalha desgastou a relação entre os dois partidos, que romperam oficialmente.

Rio de Janeiro
Tucanos e democratas fluminenses simplesmente não se bicam, e isso desde o início das eleições. A escolha de Índio da Costa (DEM-RJ) como vice de José Serra fez políticos locais do PSDB, como Márcio Fortes e Andrea Gouvêa Vieira, criticarem publicamente o partido. Para azedar ainda mais a relação, os tucanos ainda se uniram ao candidato do Partido Verde ao governo fluminense, Fernando Gabeira, em uma tentativa frustrada de barrar o nome de Cesar Maia (DEM) ao Senado. Com as duas legendas rachadas no estado, falta tudo para a campanha presidencial e para a de Gabeira no Rio. De recursos a materiais de mobilização.

Sergipe
O candidato tucano ao Senado, Albano Franco, sempre preferiu reforçar a campanha à reeleição do petista Marcelo Deda do que apoiar João Alves Filho (DEM). Por conta do movimento de Franco, o PSDB estava pronto para deixar o aliado à deriva. Uma intervenção do diretório nacional garantiu a legenda no palanque de Alves Filho ; e minutos preciosos no horário eleitoral. O acordo, contudo, não dobrou Franco. O tucano faz campanha sozinho.

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