Ivan Iunes
postado em 13/08/2010 08:30
Os ministros seguem à risca a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tornaram-se soldados da campanha da candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, e partiram para o ataque ao adversário tucano José Serra. As pastas mobilizaram as estruturas para esmiuçar dados levantados pelo tucano e mostrar as ;inconsistências;, num papel eleitoral que supostamente deveria ser da campanha de Dilma Rousseff (PT).Os ministérios da Saúde e dos Transportes foram a campo ontem para questionar Serra e mostrar as incorreções do adversário, materializando a orientação presidencial que estabeleceu para cada titular da Esplanada uma missão, como mostrado pelo Correio na semana passada. As notas elaboradas pelas assessorias seguem a mesma lógica: criticar o adversário e avançar na comparação entre o governo comandado por Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto isso, Dilma, apesar de todos os erros de dados cometidos, tem sido poupada.
Os ministros estão mobilizados em fornecer dados para a campanha de Dilma, pedir votos em atos eleitorais e abrir canais de conversa com seus setores. Eles se reuniram com senadores e deputados para ouvir as demandas e minimizar insatisfações da base aliada que poderiam refletir em prejuízos à petista. O PT também está fazendo vídeos eleitorais de elogio à candidata com cada titular da Esplanada. As mensagens serão veiculadas na página de internet da campanha e do partido.
A atuação dos dois ministérios deu sequência à posição da pasta de Educação, que iniciou a série de desconstruções do discurso de Serra. Na reunião ministerial da terça passada, Lula pediu que os ministros se empenhassem para não deixar crítica do adversário sem resposta.
Punição
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), candidato ao Senado, disse que os ministérios estão fazendo o papel de porta-vozes da campanha. ;Isso ultrapassa qualquer fronteira, qualquer divisa. O papel é quase de porta-voz de campanha. Como o presidente é recorrente em desrespeitar limites, mas tem sido apenas multado, receio de que exista realmente punição. O pouco que nos resta de instituições está se perdendo;, criticou. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ironizou as críticas. ;Se você fosse ministro ou político, não iria se defender de críticas? Um ministro não é comentarista do que os políticos dizem. Ele não poderia soltar uma nota cada vez que é citado. Mas se alguém faz crítica infundada, aí ele tem a obrigação de se defender;, afirmou.
As respostas do governo só são divulgadas depois de um escrutínio atento das palavras de Serra. O Ministério da Saúde respondeu o tucano dois dias depois de ele dizer que o governo não investe em clínicas para recuperação de drogados, numa nota de 821 palavras escrita para mostrar dados e alfinetar o adversário de Dilma. O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, mobilizou os servidores da pasta para responder a Serra, que criticou o estado das estradas do país. Em 818 palavras, reforça os resultados do governo e ataca o tucano.
O Ministério da Saúde negou objetivo eleitoral na nota e informou ter responsabilidade de zelar pela correta informação à população. ;É dever corrigir informações erradas que forem veiculadas a qualquer tempo e seja por que fonte for;, informou a assessoria. A pasta de Transportes também sustentou que a orientação é rebater todas informações erradas divulgadas por qualquer fonte.
A precisão dos dados tornou-se tema da campanha depois que Dilma listou uma série de valores imprecisos nos últimos dias. Um deles indicava que o Ministério da Educação investe entre 5% e 6% do PIB, quando o valor real é 4,7%. Em outro momento, ela afirmou que foram construídas 214 escolas técnicas desde 2003, quando, na verdade, foram 147. O último tropeço surgiu em uma fala sobre o programa Luz Para Todos, ao citar dados sobre pobreza e inflação. Em nenhum momento, as pastas divulgaram nota oficial para corrigir a candidata do PT.
Fiéis escudeiros
Desde que o candidato do PSDB José Serra passou a questionar dados do governo, o presidente Lula determinou que os ministros não percam nenhuma chance de rebater as acusações.
5 de agosto
Serra questiona programas do Ministério da Educação. Diz que a pasta cortou ajuda de transporte para alunos das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) e impediu o órgão de dar aulas.
7 de agosto
O Ministério da Educação divulga nota para informar que, em 2010, as Apaes e instituições que têm ao todo 126.895 alunos com deficiência receberam R$ 293 milhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
10 de agosto
O candidato do PSDB promete criar uma rede nacional de atendimento aos dependentes do crack e da cocaína e diz que o governo não investe em clínicas para recuperação de dependentes químicos. No mesmo dia, durante reunião ministerial, o presidente Lula passa como ordem a necessidade de não deixar nenhum dado da oposição sem ser respondido.
12 de agosto
O Ministério da Saúde emite nota oficial com números dos investimentos da Política de Saúde Mental, que aumentaram 142% de 2002 a 2009, de R$ 619,2 milhões para R$ 1,5 bilhão ao ano.
Voltando para casa
A reforma do Palácio do Planalto chegou ao fim. As obras, iniciadas em maio do ano passado, deveriam ser entregues em abril deste ano, como parte das comemorações do cinquentenário de Brasília. No entanto, o retorno do presidente Lula ao prédio foi adiado pelo menos três vezes. Ontem, os materiais de alguns departamentos da Presidência foram deslocados do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede provisória do governo, até o edifício na Esplanada dos Ministérios. Móveis usados pelo petista no primeiro mandato deverão ser substituídos por outros da época de Juscelino Kubitschek. Lula continua despachando do CCBB na próxima semana e, se o cronograma de mudanças for cumprido sem imprevistos, ele e os ministros que trabalham no Planalto devem voltar ao prédio no dia 25. ;A obra atende a todas as normas do Corpo de Bombeiros, inclusive ontem já saiu a carta de Habite-se;, disse o chefe-adjunto de gabinete da Presidência da República, Swedenberger Barbosa. Em julho, o Correio publicou reportagem mostrando que 11,5 mil estabelecimentos funcionam irregularmente no Distrito Federal incluindo o Palácio do Buriti.
Lula e os camelos
Igor Silveira
Irritado com as caronas que parlamentares empolgados com as eleições pegaram em projetos de lei no primeiro semestre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, que não enviará o projeto de Consolidação das Leis Sociais antes do pleito, em outubro. Na cerimônia de assinatura do decreto de convocação da II Conferência Nacional da Juventude, que será realizada em setembro de 2011, ele ressaltou que as propostas estavam voltando ao Palácio do Planalto completamente deformadas em comparação com os textos originais.
;Eu não mandei o projeto por causa do processo eleitoral. Essa é a época em que a gente manda um pônei bonitinho de circo e o bicho volta um camelo do Congresso. Para não destruir e deformar, pedi paciência ao Luiz Dulci (ministro da Secretaria-geral da Presidência);, destacou Lula. ;No momento certo, o texto com a Consolidação das Leis Sociais será enviado;, completou, referindo-se ao documento que traria resultados das conferências realizadas nos dois mandatos e a íntegra dos programas sociais do governo Lula.
O presidente aproveitou a oportunidade, ainda, para elogiar o atual momento político do Brasil que, de acordo com ele, representa a vivência plena da democracia. Para Lula, o diálogo entre o Estado e a sociedade acontece, pela primeira vez, sem que haja qualquer tipo de receio. ;Vivemos um momento histórico e essa relação do governo com a população é muito sadia;, elogiou o presidente.