Politica

Tucanos e democratas repercutem a demissão de Erenice Guerra

E vinculam a ex-ministra à presidenciável petista Dilma Rousseff

Igor Silveira
postado em 17/09/2010 08:39
Com a demissão de Erenice Guerra da Casa Civil, a oposição pretende capitalizar o episódio e colocar a presidenciável petista Dilma Rousseff no fogo. A busca por dividendos eleitorais levou tucanos e democratas a defender explicações da candidata sobre sua relação com a ex-ministra e a pedir que o Ministério Público faça uma investigação própria.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, disse que Erenice só teve um cargo importante no governo por conta da aproximação política com Dilma Rousseff. ;Erenice é a ministra que tem DNA da Dilma, que é do sangue da Dilma, e é demitida por denúncias de irregularidades. A Dilma tem que sair da toca. Tem que explicar tudo;, cobrou o tucano.

O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse que os casos de irregularidades na Casa Civil remetem ao começo do governo Lula, quando José Dirceu era o titular da pasta. ;Dilma não é um hiato entre o processo de corrupção iniciado na Casa Civil com o ex-ministro José Dirceu e que chegou agora na ex-ministra Erenice Guerra. O Ministério Público não pode deixar de apurar isso;, afirmou Bornhausen.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, rejeitou qualquer dano eleitoral na demissão de Erenice Guerra e jogou a conta no colo do Palácio do Planalto. ;Não sofre impacto nenhum porque a Erenice não tem nenhuma relação com a campanha. A Erenice faz parte do governo;, afirmou ele, que também é coordenador-geral da campanha presidencial. ;Qualquer governo passa por momentos em que é preciso dar explicação à sociedade;, emendou.

Atitude correta
Dilma elogiou a demissão da antiga assessora para se dedicar à defesa das acusações de tráfico de influência. ;Eu considero que a ministra tomou a atitude mais correta. Como o caso exige investigação, é sempre bom que a autoridade se afaste para garantir e assegurar que a investigação transcorra da melhor forma possível;, afirmou.

O presidenciável tucano José Serra disse que o governo acertou em se livrar de Erenice e pediu aprofundamento das investigações. ;É um primeiro passo. Tem que ver as investigações agora, porque, até ontem, estavam dizendo que era uma jogada eleitoral. Estavam procurando jogar areia nos olhos com essa história;, disse Serra.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, disse que o novo escândalo na Casa Civil tem impacto zero na eleição. Ele citou a manutenção da vantagem de Dilma em relação à Serra nas pesquisas de intenção de votos como exemplo de que o eleitor não está preocupado com isso para definir a escolha do futuro presidente. ;Mesmo com todas as notícias, ela subiu nas pesquisas. A demissão foi boa porque a oposição para de martelar esse fato. Agora a Erenice terá tempo para se defender;, afirmou o peemedebista.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, reforçou o tom de que Erenice é caso para o governo. ;A saída não é assunto de campanha. Foi acusado o filho de uma ministra e existe um processo de investigação sem resultado conclusivo ainda. Não há porque fazer relação desse assunto com a campanha. Erenice saiu para fazer a defesa pessoal dela e da família é um ato de governo e só;, afirmou o petista.

Análise da notícia
Matemática arriscada

A saída de Erenice Guerra da Casa Civil foi decidida depois de o governo debruçar-se sobre uma complexa matemática eleitoral. Preferiu oferecer a cabeça da ex-ministra acusada de tráfico de influência para evitar uma mudança nos rumos da corrida pelo Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer a fatura liquidada a favor de sua candidata Dilma Rousseff no primeiro turno. Entendeu que a demissão agora seria a melhor opção para a sua pupila. E mais: aposta na sua popularidade com a massa do eleitorado para evitar que a demissão da principal auxiliar de Dilma torne-se um desastre.

Até agora, o presidente conseguiu criar uma redoma em volta da candidata do PT, blindando-a das denúncias (dossiê de gastos corporativos, sigilo de tucanos e, agora, tráfico de influência). Essa mesma redoma ele construiu escorado na massa de eleitores de baixa renda. Passou incólume de todas as crises. Mas Dilma não é Lula, apesar de liderar as pesquisas de intenção de votos. Do mesmo jeito que a solução por demitir Erenice pode parecer acertada, há um lado imprevisível: é impossível dissociar Dilma de Erenice? Erenice só chegou a um cargo importante no governo federal graças ao dedo da candidata que, inclusive, a bancou como sucessora. Nisso, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, equivoca-se. Erenice não é um problema só do governo, é uma questão de Dilma Rousseff também.

E o imprevisível pode se materializar justamente com o que Lula não gostaria de ver: o segundo turno e mais um mês de eleição, período longo para aparecerem novas denúncias ou suspeitas de irregularidades. (TP).

28 de setembro

Dessa data até 48 horas após o encerramento das eleições, nenhum eleitor poderá ser preso ou detido, salvo em flagrante delito

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