Rio de Janeiro ; A deputada alemã no Parlamento Europeu Gabriele Zimmer (GUE/NGL - Esquerda Nórdica Verde) prometeu levar ao partido e ao Parlamento Alemão uma série de denúncias contra a empresa Thyssenkrupp CSA Siderúrgica do Atlântico, em Santa Cruz, no Rio. A informação foi dada após encontro da parlamentar com executivos da empresa.
Com sede na Alemanha, a ThyssenKrupp é acusada pelas comunidades vizinhas ao empreendimento de impor restrições à pesca na Baía de Sepetiba, onde construiu um píer sobre o mangue e um porto, atrapalhando a reprodução de peixes e a passagem de pequenos barcos, além de poluir o ar e de contratar serviços de milicianos que intimidam lideranças locais.
"Eles podem achar não tão problemático que a imagem deles fique desgastada no Brasil, mas com certeza, ficarão preocupados se isso ocorrer na Europa", disse Zimmer à comunidade, ao relatar as explicações da empresa sobre os problemas, depois de reunião de mais de três horas com os executivos, em Santa Cruz.
Impactos
Com as informações que reuniu durante visita as comunidades, Gabriele pretende cobrar, na Europa, explicações da ThyssenKrupp para os impactos da obra no Brasil. Segundo a parlamentar, provocado pelo Legislativo, o Executivo pode exigir das empresas alemãs explicações sobre empreendimentos instalados fora do país.
Na reunião da última semana com a Thyssen, a deputada teve muitas questões respondidas, mas não se deu por satisfeita. Agora, quer confrontar os dados, ouvindo especialistas do setor. A principal questão é a emissão de partículas no ar pelos fornos da siderúrgica, que estaria provocando doenças respiratórias e de pele na população.
Por causa do descontrole na emissão de partículas de grafite, no mês passado, a ThyssenKrupp foi multada em R$ 1,8 milhão pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea) e não recorreu da sentença. Há época, alegou falha em um dos equipamentos, em fase de testes, e garantiu que apesar do desconforto os níveis detectados da substância não causariam dano à saúde.
Porém, quem sentiu na pele os efeitos do problema conta que a situação não foi passageira. "O pó brilhante deles entra na casa da gente, na comida, na água, em tudo. Nós, mas principalmente as crianças, ficamos cheias de marcas pelo corpo, de bolinhas com pus, com crises de respiração e ardência nos olhos", contou Viviane Santos, que mora a 300 metros do empreendimento.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que criou uma comissão para acompanhar os impactos das atividades da siderúrgica na saúde da população, diz que ainda não há dados técnicos ou de saúde que confirmem a poluição, mas há indicações de que "uma intensidade grande de poluição durante os meses de agosto e setembro" se refletiu em vários relatos de problemas de saúde por parte das pessoas que moram perto da obra.
"Além desse problema de poluição anormal e intensa há o início do transporte por linha de ferro [de minérios] que não somente produz ruído como possivelmente é responsável pelo aumento de partículas no ar, que já estavam em níveis elevados com a entrada em operação da siderúrgica [em junho]", alertou um dos pesquisadores, Marcelo Firpo.
A companhia informou à deputada que a ferrovia é de responsabilidade da empresa Vale e que não tem como esclarecer o problema, embora a empresa brasileira, produtora de minério, seja sócia do empreendimento alemão.
Explicações
Em relação à contratação de serviços de transporte fornecidos por empresas denunciadas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, a Thyssen explicou que não mantém vínculos com empresas condenadas na Justiça e que não pode fiscalizar as subcontratadas por seus fornecedores.
Em nota, a Thyssen CSA relatou que todos os questionamentos da parlamentar foram respondidos. A empresa alegou que deu explicações detalhadas sobre as operações da empresa e os programas desenvolvidos nas comunidades pesqueiras e de moradores da região no entorno do complexo siderúrgico, sem mencioná-los especificamente.