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Custo dos marajás do Senado chega a R$ 157,7 milhões, diz TCU

Auditoria do TCU identifica o pagamento indevido de R$ 157,7 milhões a servidores no ano passado. Ex-diretores terão que se explicar

postado em 08/10/2010 08:30
[FOTO1]A remuneração indevida acima do teto constitucional paga a 464 marajás do Senado custou R$ 11 milhões por ano aos cofres públicos. Só em 2009, o pagamento irregular de horas extras consumiu mais R$ 26,7 milhões. Já o aumento dos vencimentos dos servidores sem amparo legal custou R$ 27,8 milhões por ano. Os pagamentos indevidos de vantagem pessoal ;de esforço concentrado; e ;de produtividade; geraram despesas de mais R$ 70 milhões. O total de prejuízo aos cofres públicos em um ano foi de R$ 157,7 milhões, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O Correio teve acesso à integra da auditoria relatada pelo ministro Raimundo Carreiro, do TCU. Os ex-diretores-gerais do Senado Agaciel Maia (eleito deputado distrital no domingo) e Alexandre Gazineo e os ex-diretores de Recursos Humanos Ralph Siqueira e João Carlos Zoghbi terão prazo de 15 dias para apresentar justificativa para esses indícios de irregularidades.

Para calcular os valores pagos acima do teto constitucional, os auditores consideraram itens como horas extras, gratificação pela participação em comissões especiais, remunerações relacionadas a substituição de função e gratificação aos membros da comissão de visitação ao Museu do Senado. Esses pagamentos foram confirmados por três meses seguidos, o que prova o seu caráter permanente. A auditoria lembra que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em 2003, que as vantagens pessoais devem ser incluídas no redutor do teto remuneratório.

A maior despesa extraordinária foi provocada pelo pagamento de ;vantagem pessoal nominalmente identificada; (VPNI) de produtividade e de esforço concentrado a 5.027 servidores. ;Fica caracterizado o pagamento indevido de tais parcelas a título de vantagem pessoal a todos os servidores do Senado, pois todas essas parcelas já deveriam ter sido absorvidas pelos aumentos recebidos nos últimos anos;, aponta o relatório. O prejuízo anual relacionado a essas duas rubricas foi calculado em R$ 70 milhões.

Artifícios
O TCU também apurou que o Senado está concedendo aumento na remuneração dos seus servidores sem amparo legal. Para isso usa artifícios como o pagamento da diferença da Gratificação Legislativa (GAL). ;Esse incremento na remuneração do servidor necessitaria de lei para legitimar o seu pagamento. Esse ato representa uma tentativa de garantir uma remuneração maior para os servidores;, diz o tribunal. Esses pagamentos adicionais geraram despesa irregular de R$ 27,8 milhões.

Agaciel Maia afirmou ao Correio que não é prerrogativa do diretor do Senado pagar horas extras. Ele disse que todos os pagamentos foram autorizados pela Mesa Diretora, pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ou pelo então primeiro-secretário Efraim Morais (DEM-PB), que foi isento de responsabilidade pelo TCU. Ele acrescentou que vai prestar os esclarecimentos por escrito.


O número
R$ 26,7 milhões
Valor referente às horas extras pagas indevidamente a servidores do Senado em 2009, segundo auditoria do TCU



O número
5.027
Número de servidores do Senado que, segundo o TCU, receberam pagamento de ;vantagem pessoal; em 2009




Horas extras milionárias
A auditoria do TCU apontou o pagamento indevido de horas extras no valor total de R$ 26,7 milhões no ano passado. Foram identificados três tipos de irregularidades. A primeira identificou horas extras computadas a 610 servidores antes de completadas as oito horas diárias de trabalho. Os auditores constataram que, mesmo um servidor não tendo comparecido à repartição em nenhum dia do mês, há cômputo de horas trabalhadas com o consequente pagamento de horas extras. O tribunal cita o nome de 11 servidores nessa situação.

O segundo caso foi o pagamento indevido de horas extras a 3.390 servidores feito no mês de recesso parlamentar de janeiro de 2009, autorizado pelo então primeiro-secretário do Senado, Efraim de Morais. Ele permitiu que todos recebessem o mesmo quantitativo de horas extras apurado em dezembro de 2008, sem levar em consideração se esses servidores trabalharam além da sua jornada diária. ;Esse procedimento configurou enriquecimento ilícito por parte dos beneficiários;, diz o relatório da auditoria.

A terceira irregularidade foi o pagamento de adicional acima das duas horas diárias permitidas por lei. Uma servidora chegou a trabalhar 300 horas em um mês de 21 dias úteis. ;Mais uma vez o indício de que o instituto ;hora extra; é utilizado para a complementação da remuneração;, alerta o documento do TCU. (LV)



Erenice vai depor na PF
[FOTO2]A ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra vai depor na Polícia Federal (PF), no inquérito em que seus dois filhos são investigados por suspeita de advocacia administrativa e tráfico de influência no órgão em que ela chefiava. A decisão foi tomada após a PF ouvir 15 pessoas e ter recolhido uma série de contratos e documentos encaminhados pelos Correios, pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mesmo sem os depoimentos de Israel e Saulo Guerra, filhos da ex-ministra, a apuração do caso avançou, segundo fontes da corporação. O próximo passo será examinar os computadores da Casa Civil que estavam sendo usados por alguns dos envolvidos.

Das 15 pessoas intimadas pela Polícia Federal, quatro optaram pelo silêncio: os dois filhos de Erenice, Vinícius de Oliveira Castro ; ex-assessor da Casa Civil ; e sua mãe, Sônia Castro, sócia de uma empresa de Saulo Guerra. Com exceção da mulher, os outros três são considerados os principais suspeitos no esquema que supostamente foi armado no órgão. Porém isso não vai atrapalhar o andamento da apuração, já que os investigadores se debruçaram em uma série de documentos recolhidos e deverá ser pedido à Justiça a quebra de sigilo dos extratos telefônicos dos dois irmãos e de Vinícius Castro para comprovar se houve troca de ligações entre eles em determinados períodos.

Material recolhido
A PF e o Ministério Público Federal deverão pedir à Justiça o compartilhamento do material recolhido até agora pela sindicância que apura o esquema na Casa Civil, além de recolher quatro computadores para serem submetidos a perícia técnica. Os investigadores querem ter acesso a todo conteúdo das máquinas. No decorrer da próxima semana, deverão ser checados, ainda, os sistemas de entrada e de saída de alguns prédios, em Brasília e no Rio de Janeiro, onde estiveram as pessoas envolvidas no caso. Em um desses edifícios fica o escritório de Márcio Silva, coordenador jurídico da campanha da presidenciável Dilma Rousseff (PT). Ele negou qualquer vinculação com o episódio.

Ainda não há uma data definida para que Erenice seja ouvida na Polícia Federal. Aberto em 14 de setembro ; quatro dias depois da queda da ex-ministra ;, o inquérito está com sua primeira fase quase concluída, e a PF deverá pedir a prorrogação das investigações por mais um mês, período em que ela deverá prestar depoimento. A ideia é que ocorra após a realização do segundo turno das eleições.


O número
15
Pessoas intimadas pela Polícia Federal para depor sobre o escândalo na Casa Civil. Erenice Guerra ainda será convocada

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