Politica

Israel Guerra, filho de ex-ministra, embolsará dinheiro da rescisão

postado em 09/10/2010 08:37
Israel Dourado Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, perdeu o cargo na Terracap, onde não dava expediente, mas ainda conseguiu embolsar R$ 3 mil de direitos trabalhistas por conta da demissão. Israel foi demitido, recebeu a rescisão e ainda deixou para trás uma guerra de forças em torno do emaranhado de favores e politicagens que o colocaram no serviço público, apesar da sua pouca disposição para trabalhar.

A briga política começou porque o governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), orientou a direção da empresa a também demitir Marcos Vinicius Souza, diretor de novos empreendimentos e responsável pela contratação e pelos abonos de faltas do servidor fantasma. A ideia do governo era encerrar o problema e mostrar reação à rede de tráfico de influência formada pela família Guerra. Rosso, no entanto, esbarrou no senador Gim Argello (PTB-DF), padrinho político do diretor. Entre um governador que conta os dias para perder o cargo e um senador que ainda tem quatro anos de mandato, o presidente da Terracap, Dalmo Costa, resolveu fazer cara de paisagem. Por enquanto, vai manter Souza nos quadros da empresa e argumentar que o órgão reagiu ao escândalo demitindo o filho da ex-ministra.

Ao governador restou determinar que a Corregedoria investigue a legalidade do pagamento da rescisão a Israel, que recebeu salário de R$ 6,6 mil durante 21 meses (veja o quadro abaixo). Uma conta que soma mais de R$ 212 mil, incluindo férias, FGTS e 13; salário.

Caso no MP
Para tentar devolver essa quantia aos cofres públicos, o Sindicato dos Servidores do Governo do Distrito Federal (Sindser) entrou com uma representação no Ministério Público da União (MP) pedindo a abertura de uma investigação sobre a conduta do ex-funcionário. Na ação, a entidade requer que o MP solicite a devolução aos cofres públicos da quantia recebida por Israel durante os 21 meses que permaneceu nomeado. O processo está sob a responsabilidade do promotor Ivaldo Lemos, que instaurou procedimento preliminar de investigação.

Ontem, sindicalistas aguardavam a presença de Israel na sede do Sindser para negociar os valores da rescisão, como acontece com todos os servidores que deixam os cargos no governo. O filho da ex-ministra não apareceu. Nem por isso eles deixaram de realizar um discreto protesto contra a contratação realizada pelo Governo do Distrito Federal. Uma pessoa vestida de fantasma sentou à mesa de negociação com os representantes da Terracap e com o presidente do sindicato, Cícero Rôla. ;Essa é a nossa forma de reagir a esse tipo de coisa. Em nome dos servidores sérios é que protestamos. O valor da rescisão é pouco. No entanto, é dinheiro público que não pode ir para o bolso de quem não trabalha;, disse Rôla.

Os sindicalistas se preparavam para negar o cálculo dos ;direitos; que o governo supostamente deveria ao filho de Erenice. Chegaram a preparar um documento para apresentar à Terracap, justificando a negativa de homologar os valores da rescisão. Mas não foi preciso. Israel negociou diretamente com a empresa e recebeu o pagamento sem precisar da interferência do sindicato. A assessoria da Terracap disse que o repasse ocorreu por se tratar de um direito garantido por lei aos funcionários.

Entenda o caso
Chefe do esquema

Depois de ganhar o noticiário como um dos comandantes do esquema de lobby que envolvia a ex-ministra Erenice Guerra e sua família, Israel Dourado Guerra também ocupou as páginas de jornais depois que o Correio publicou reportagem mostrando que ele também era funcionário da Terracap, empresa vinculada ao Governo do Distrito Federal, e que nunca aparecia por lá.

Desde dezembro de 2008, ele era servidor comissionado da Diretoria de Prospecção e Formatação de Novos Empreendimentos da Terracap. O setor é responsável por liberar ocupações de solo, como os projetos no Setor Noroeste, novo bairro do Plano Piloto, e explorações de recursos naturais no DF. Coincidentemente, a extração de minério é o objeto social da empresa Matra Mineração, de José Roberto Camargo Campos, marido de Erenice.

A diretoria à qual Israel pertencia foi criada para abrigar o engenheiro civil Marcus Vinícius Souza Viana, apadrinhado de Gim Argello (PTB-DF), político que se diz muito amigo da ex-chefe da Casa Civil e da presidenciável Dilma Rousseff (PT).

Em uma assembleia do Sindicato dos Servidores do DF, o presidente Cícero Rôla pediu para que os presentes dissessem se já tinham visto Israel na Terracap. Só uma pessoa, dentre as 400 que estavam na reunião, levantou a mão. Apenas integrantes do alto escalão sabiam que Israel estava na folha de pagamento do GDF. Mesmo desconhecido dos servidores, o filho da ex-ministra recebia cerca de R$ 6,6 mil por mês, além do auxílio-alimentação. Ele foi exonerado pelo governador em 16 de setembro. (IT)

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