Politica

Parlamentares recém-eleitos disputam nos bastidores os gabinetes do Anexo I

Além da privacidade, escritórios têm vista privilegiada para o Lago Paranoá

postado em 27/10/2010 09:00
A tradição política do Congresso indica que galgar degraus na vida parlamentar não se restringe apenas a vencer a disputa majoritária, mas a ocupar um gabinete no Anexo I do Senado. Com a saída de grandes caciques da Casa, derrotados nas urnas em 3 de outubro, muitos dos cobiçados escritórios ficarão livres. E parlamentares recém-eleitos já iniciaram a ofensiva para garantir os melhores espaços, que conferem não só status entre os colegas, mas também conforto pelos próximos oito anos. O primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), já recebe as demandas, apesar de a diplomação dos novos senadores ser apenas em 1; de fevereiro.

Na maioria dos pedidos, os senadores neófitos chegam com a solução já acertada com os parlamentares que não conseguiram se reeleger. De tucano para tucano, o gabinete do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), irá para o novato Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). O disputado escritório do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) deverá receber, no próximo ano, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB).

Quem também deve ganhar um confortável escritório no Anexo I é Itamar Franco (PPS-MG). O mineiro pode herdar o espaço de Marco Maciel (DEM-PE), não reeleito. Todos os ex-presidentes da República ; José Sarney (PMDB-AP), Fernando Collor (PTB-AL) e agora Itamar ; ocupam andares no Anexo I.

Os demais parlamentares que sonham com um dos disputados gabinetes ainda podem disputar as vagas que serão deixadas por Efraim Morais (DEM-PB) e Gerson Camata (PMDB-ES). Já o espaço do senador Gilvam Borges (PMDB-AP) está ;sub judice;. O parlamentar obteve menos votos que João Capiberibe (PSB-AP), mas foi considerado eleito porque a candidatura do socialista ainda está em análise na Justiça eleitoral. Capiberibe foi enquadrado nos critérios da Lei da Ficha Limpa e, caso não consiga ser diplomado, Borges se manterá no escritório.

Família unida
Ainda no metro quadrado mais disputado do Senado, a família Garibaldi tenta encontrar espaço para abrigar pai e filho, que estarão juntos na próxima legislatura. Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) já ocupa um gabinete no Anexo I, mas agora tenta levar seu pai e colega de partido, Garibaldi Alves, para perto dele. Suplente de Rosalba Ciarlini (DEM), Garibaldi pai assumirá a cadeira deixada pela conterrânea, eleita governadora do Rio Grande do Norte. Atualmente, o escritório da senadora fica na ala Teotônio Vilela.

Derrotado na disputa pelo governo de São Paulo, o senador Aloizio Mercadante (PT) tenta passar seu gabinete para a colega Marta Suplicy (PT-SP), outra ;privilegiada; que pode estrear sua carreira política no Senado gozando de privacidade e da vista para um dos cartões postais de Brasília.

Privacidade
O gabinete de Tasso Jereissati, assim como os dos parlamentares considerados do ;alto clero; na Casa, fica no Anexo I ; o edifício alto entre as cúpulas do Congresso, que também abriga escritórios de deputados. O local é considerado privilegiado porque, além da vista para o Lago Paranoá, os congressistas têm praticamente um andar privativo e podem chegar aos respectivos gabinetes por entradas menos concorridas, sem sofrer abordagens. No quesito privacidade, o espaço do senador Romeu Tuma (PTB-SP), falecido ontem (leia mais na página 8), é um dos preferidos pelos parlamentares que evitam encontros indesejáveis. O escritório tem saída direta para a garagem do Senado.

Ficar perto do plenário é o objetivo
Na Câmara, a corrida dos deputados é pelos gabinetes do Anexo IV. Eles são próximos ao plenário, evitando que os parlamentares caminhem muito, e também são reservados a ponto de garantir privacidade. A distribuição ficará nas mãos do primeiro-secretário, Rafael Guerra (PSDB-MG), que não se reelegeu. Segundo ele, alguns colegas têm manifestado interesse em mudar de gabinete, mas a divisão será feita por meio de sorteio. Foi a forma que a Câmara encontrou de evitar lobbys e troca de favores entre os congressistas.

A ideia é que idosos e deputados com dificuldades de locomoção tenham prioridade e ocupem gabinetes de fácil acesso. ;Nossa ideia é sortear. Alguns têm preferências, mas será feita uma ordem de prioridade. De acordo com essa lista é que vamos mapear a nova distribuição;, explica o deputado tucano. A Casa ainda está fazendo um levantamento dos gabinetes que ficarão vagos a partir do próximo ano.

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