postado em 04/11/2010 08:42
Bastou a presidente eleita, Dilma Rousseff, fazer seu primeiro pronunciamento no Palácio do Planalto incorporando a função de chefe de Estado para que a oposição, até então silenciada pelo resultado das urnas, mostrasse o tom da resistência que a petista encontrará no próximo ano. Integrantes do PSDB e do DEM na Câmara e no Senado rebateram a afirmação de Dilma sobre suposta movimentação dos governadores para a recriação de imposto semelhante à Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), e o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) conclamaram os governadores eleitos por partidos da oposição a se manifestarem contra a afirmação de Dilma, em um movimento ;xô, CPMF;. ;Dilma nem assumiu e já usa o subterfúgio de dizer que os governadores estão se movimentando;, criticou Bornhausen.
Durante a discussão do relatório de receita do Orçamento 2011, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), responsável pela indicação do montante de arrecadação do próximo ano, evitou misturar o debate do roteiro de gastos da União com o embate político, mas atacou a criação do novo imposto. ;A carga tributária é muito alta. Jamais vamos falar sobre imposto novo, nova tributação;, afirmou Araújo.
O discurso da presidente eleita antecipou o debate previsto para o próximo ano. Para estancar as articulações com vistas à criação de um novo tributo para custear investimentos em saúde, a oposição se mobiliza em uma contraofensiva para colar em Dilma uma imagem negativa, de defensora da ampliação de impostos.
Bandeira
Pela segunda vez no mesmo ano legislativo, a oposição usa os debates do reajuste do salário mínimo como arma contra o governo. Dilma prometeu que até 2012 o valor do salário atingiria a casa dos R$ 600, marco usado como bandeira de campanha para 2010 pelo seu adversário José Serra (PSDB).
Os oposicionistas decidiram abraçar o salário mínimo de R$ 600 nas discussões sobre o reajuste indicado no Projeto de Lei do Orçamento como forma de deixar a marca de Serra já nos primeiros meses de transição da presidente eleita. ;Vamos lutar para ter o salário de R$ 600;, afirmou Bornhausen. O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), integrante da comissão do Orçamento, afirmou que o partido seguirá ;o desejo de seu presidente; para definir o valor do mínimo no primeiro ano do governo Dilma.
;O salário nós defendemos, mas aumento da tributação não há apoio nosso. Temos é que diminuir gastos;, pontua Flexa Ribeiro. O temor do governo no momento é que parlamentares da base apoiem o DEM e o PSDB na proposta de aumentar o mínimo. Hoje, as centrais sindicais debaterão o valor proposto pelo governo com o relator do orçamento, senador Gim Argello (PTB-DF). O parlamentar deve acenar com salário de R$ 550, mas o pleito das centrais é de um mínimo de R$ 580, valor que se aproxima da proposta da oposição.
OS CRÍTICOS ;DOS SONHOS;
A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criticou o comportamento ;raivoso; do DEM e do PSDB durante seus oito anos de mandato (veja mais na página 5), também mereceu ironias da oposição. Líderes das siglas que fizeram resistência ao governo do PT reagiram à declaração de Lula dizendo que o presidente teve ;a oposição dos sonhos; e que Fernando Henrique Cardoso sofreu muito mais na mão do PT. ;A oposição que o Lula teve é a que todo presidente pede a Deus. Foi uma oposição generosa, responsável e construtiva. Raramente atuou com veemência;, afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
No exercício de autocrítica, a oposição destaca que Lula só teve dor de cabeça quando o Senado derrubou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). O senador Demostenes Torres (DEM-GO) afirmou que a presidente eleita terá o mesmo tratamento ;respeitoso; que a oposição dedicou a Lula.
Já o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), que atribuiu sua derrota nas urnas ao empenho pessoal do presidente, reclamou que a oposição é que foi agredida. ;Acho engraçado o presidente Lula falar em oposição raivosa. Ele é quem vai aos estados e agride as pessoas gratuitamente. O presidente é ingrato. Quando ele teve problemas por conta do mensalão, fez apelo para garantir a governabilidade e atendemos. Vamos aguardar a Dilma, vamos deixá-la governar;, afirmou Heráclito.