Igor Silveira
postado em 06/11/2010 08:00
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a formatura da última turma de diplomatas de seu governo para enaltecer a política externa brasileira nos oito anos em que esteve no poder e dar sinais do que aguarda da sucessora Dilma Rousseff nessa área. Em discurso no Itamaraty, Lula disse esperar que a iniciativa de seu governo de só colocar no posto de embaixador diplomatas de carreira tenha "serviado de lição" para todos e que essa valorização dos profissionais do ministério continue. E, em um momento em que a expectativa é grande em torno do anúncio do gabinete de Dilma, Lula sugeriu, em tom de brincadeira, que o chanceler Celso Amorim, depois de ultrapassar o Barão do Rio Branco nos dias à frente do ministério, deve, agora, "parar um pouco". O barão chefiou a pasta por 3.356 dias, contra 3.395 de Amorim. Lula, que se sentou entre Amorim e o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota - um dos nomes mais cotados para o posto de chanceler no governo Dilma -, não poupou, contudo, elogios a um dos únicos ministros de seu gabinete que permaneceu no posto desde o início de seu governo, em 2003. "O Brasil tem na figura do Celso o mais importante ministro das Relações Exteriores de todos os que estão fazendo política externa no mundo hoje", afirmou Lula.
Segundo o presidente, ele e o chanceler trabalharam por "telepatia" nos últimos oito anos e compreendem da mesma forma as palavras "soberania, respeito e autoestima". "Temos muita afinidade, mas o Celso é mais esquerdista do que eu. Deve ter aprendido com o Samuel (Pinheiro Guimarães, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, e ex-secretário-geral do Itamaraty)", brincou.
Críticas
Lula também criticou os seus antecessores que colocaram em embaixadas no exterior políticos que perdiam as eleições e eram "contemplados" com um cargo que, na visão do presidente, deveria ser de uma pessoa que tinha estudado e se preparado a vida inteira para chegar àquela função. "O Itamaraty já teve ministros extraordinários, mas muitas vezes teve gente nem tão grande que caiu de paraquedas aqui para fazer política externa", criticou, em um aceno de que o melhor para a diplomacia seria que o sucessor de Amorim fosse de carreira, e não opções externas, como os já cotados ministro da Defesa, Nelson Jobim, ou o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira. No entanto, o próprio Lula indicou, no início de seu governo, o ex-presidente Itamar Franco e então aliado como embaixador do Brasil em Roma.
Ainda durante o discurso, Lula ressaltou que os 115 diplomatas que estavam sendo homenageados ontem vão representar um país governado, pela primeira vez, por uma mulher. "E não é qualquer mulher. Dilma foi presa, torturada e chega à Presidência da República pela via democrática. Ela ousou, quando tinha 20 anos, colocar as mangas de fora e lutar por liberdade democrática neste país, quando muita gente foi sacrificada", lembrou.
Eleições
Antes de embarcar para Moçambique e Coreia do Sul, na próxima semana, Lula fez um pronunciamento oficial, ontem à noite, em redes de rádio e televisão, comemorando a votação tranquila ocorrida no último domingo. O presidente optou por um tom mais ameno, inclusive, na hora de falar da participação da oposição no próximo mandato da presidente eleita Dilma Rousseff, considerando importante a contribuição de políticos aliados e adversários ao governo da petista.
Esse não foi o último pronunciamento de Lula em rede nacional. Ele deve aparecer, em dezembro, para se despedir e agradecer o apoio da população nos últimos oito anos.