postado em 07/11/2010 08:36
A rotina de uma tranquila rua do Lago Sul foi transformada no último dia 31. É que os antigos moradores passaram a ser vizinhos da primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Desde então, o Conjunto 2 da QI 7 se tornou um ponto turístico para amigos e parentes daqueles que moram no local. A rua passou a ser movimentada. Jornalistas e autoridades fazem plantão em frente à casa de Dilma enquanto a presidente neófita está por lá. Os vizinhos, em geral, não se mostram incomodados. Pelo contrário, consideram que a rua vai entrar para a história. Alguns querem encontrá-la pessoalmente para tomar um café e até para propor negócios.Moradora da casa 12 desde abril, Dilma nunca conversou com os vizinhos. A residência foi alugada pelo PT por um valor estimado em R$ 15 mil mensais depois que a ex-ministra deixou o governo para se candidatar. Pertence a um dentista, que se mudou para um apartamento. Os moradores relatam que Dilma para poucas vezes em casa, já que estava em campanha nos meses que antecederam as eleições. O imóvel é bem isolado. A parte interna não é vista nem da varanda do vizinho de muro. Na fachada da casa de cor areia, há um portão branco e duas janelas que impedem os curiosos de olharem o que se passa lá dentro.
A rua onde Dilma mora fica em um dos melhores pontos do bairro mais nobre de Brasília. São 15 lotes no conjunto, sendo que apenas um está vazio. Nos demais, 12 casas estão habitadas e outras duas passam por reforma. A maior parte das mansões tem terreno de 800 metros quadrados e áreas construídas que variam, em média, entre 500m; e 600m;. O valor dos imóveis, segundo uma imobiliária consultada pelo Correio, varia de R$ 3 milhões a R$ 10 milhões.
Por lá, moram empresários, executivos, funcionários públicos, advogados e até um pecuarista que divide o seu tempo entre o Pará e Brasília. Paulo Borges, 78 anos, costuma passar apenas 10 dias por mês na capital. Ele é o vizinho de muro da casa de Dilma, mas ainda não a viu de perto. ;A rua movimentou bastante. Na hora em que saímos de carro, sentimos a diferença. Mas estou achando até bom, porque agora sempre tem segurança por aqui;, contou.
Paulo Borges diz que a mãe e uma irmã de Dilma vão com frequência ao local. O universitário Felipe Borges, 24, neto de Paulo, lamenta nunca ter visto a presidente-vizinha. ;Nunca vi a cara dela. Somos vizinhos de porta, mas nunca tomamos um cafezinho;, comentou. Ele não é o único. O ajudante-de-obras Vagner Alves, 31, que trabalha em uma reforma no fim do conjunto, disse que ;a coisa mais difícil por aqui é ver a Dilma;.
Segurança
Embora haja monitoramento na residência de Dilma, a segurança da rua é feita apenas por um vigia contratado pelos moradores. Ele fica em uma guarita em frente à casa 1. Já a Polícia Militar faz apenas uma ronda esporádica no local. Os moradores reivindicam um policiamento ostensivo, já que a maior autoridade do país reside naquele endereço. ;Pedi duas vezes para colocarem o policiamento aqui na nossa rua, mas, por enquanto, nada;, reclamou o funcionário público aposentado Robério Simionato, 74 anos.
Após a eleição de Dilma, Simionato se tornou uma figura popular na QI 7. Ele tem dado abrigo aos jornalistas que fazem plantão em frente à residência da presidente eleita. Montou, em sua garagem, uma espécie de comitê de imprensa, oferecendo água, petiscos, banheiro e infraestrutura para os profissionais cobrirem o dia a dia da petista. ;Fiz isso para dar uma força. A informação para o mundo está sendo gerada da minha garagem, que também é cultura. Não é só carro pingando óleo, não;, brincou.
Dilma, no entanto, não vai permanecer por muito mais tempo no endereço. Durante o período de transição de governos, ela cogita a possibilidade de se mudar para a residência oficial da Granja do Torto, para ter mais privacidade, até que o presidente Lula desocupe o Palácio da Alvorada, a partir de janeiro de 2011.
Euforia contida e sem tumultos
O intenso movimento que tomou conta do Conjunto 2 da QI 7do Lago Sul não tirou o humor dos moradores. Donos de casas e carros luxuosos, muitos se dizem eleitores da vizinha Dilma Rousseff, a futura presidente da República. Professora aposentada, Fany Bertoldo, 60 anos, está animada. Desde a eleição de Dilma, ela tem aberto a porta de sua casa para jornalistas irem ao banheiro e se protegerem da chuva.
;A presença da Dilma mexeu com a rua. Deu um ar de festa, de movimentação. Apesar do grande movimento, ninguém tumultuou, não houve algazarra. Os moradores entenderam a situação. Era uma rua muito tranquila e continuará sendo. Sabemos que tudo vai voltar ao normal, porque o que vivemos hoje é uma situação atípica;, avaliou Fany moradora de uma casa localizada literalmente em frente à residência de Dilma. Segundo Fany, amigos e familiares visitaram-na nos últimos dias com o pretexto de ver Dilma. ;Até conseguiram, mas ela estava sempre dentro do carro.;
Uma funcionária dos Correios contou que entrega cartas com frequência em nome da mais ilustre moradora da QI 7. ;De vez em quando, entrego correspondências em nome da Dilma. Hoje mesmo, entreguei uma conta de telefone que estava no nome dela;, orgulhou-se.
Eleitor de José Serra (PSDB), João Batista, 71 anos, motorista de uma das casas, mostrou-se orgulhoso por trabalhar na rua onde mora a nova presidente. No entanto, ele reclamou que Dilma não dá atenção aos moradores. ;Não dá nem bom-dia nem boa-tarde. Sai sempre de vidro fechado e pronto;, contou. Ele disse ter ouvido falar que a mãe de Dilma vai morar na casa depois que a petista assumir o governo.
Dono de uma empresa do ramo de engenharia, o empresário Jonas dos Santos, 39 anos, disse que Dilma Rousseff já o cumprimentou à distância, de dentro do carro. ;É um privilégio tê-la aqui. Ela é muito simpática;, afirmou. ;Hoje, teria vontade de encontrá-la para parabenizá-la. Se eu tivesse essa oportunidade, falaria que estou muito orgulhoso, desejaria sorte e saúde para ela tocar o governo e, se tivesse a chance, falaria de negócios e proporia alguma parceria com o governo;, completou.