Agência France-Presse
postado em 10/11/2010 11:26
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta quarta-feira (10/11) de revolução a abertura da primeira fábrica de medicamentos contra a Aids na África, financiada pelo Brasil, durante uma visita ao local em seu segundo dia de viagem a Moçambique.
"O fato de estarmos construindo a primeira fábrica de medicamentos para combater a Aids no continente africano pode ser apreciado quase como uma revolução", declarou o presidente brasileiro na cerimônia oficial.
Esta fábrica de medicamentos antirretrovirais (ARV), financiada com 21 milhões de dólares por parte do Brasil, entrará parcialmente em funcionamento no final de 2011.
A primeira máquina entregue pelo Brasil foi exibida. O equipamento foi recebido pelo governo de Moçambique no fim de outubro e é usado para o treinamento da embalagem das pílulas.
"Eu espero estar aqui como convidado porque nós temos uma presidente (Dilma Roussef) que vai tomar posse no Brasil no dia 1º de janeiro, portanto quero ser convidado para tirar o primeiro comprimido junto com o presidente (Armando Emilio) Guebuza na fábrica de antirretrovirais em Moçambique", completou Lula.
De acordo com o ministério da Saúde do Brasil, 80% dos recursos financeiros para a aquisição de medicamentos em Moçambique procede de países doadores.
Com a implementação da fábrica, Moçambique inicia a aquisição do conhecimento da tecnologia na produção publica de medicamentos, de acordo com os atuais padrões de Boas Práticas de Fabricação (BPF), o que deve reduzir a dependência e ampliar a autonomia neste setor, com a possibilidade de converter os atuais doadores em parceiros desta nova iniciativa.
O ministro da Saúde moçambicano, Alexandre Manguele, também elogiou a iniciativa.
"Significa muito, significa que para enfrentarmos um dos mais graves problemas de saúde pública, podíamos contar apenas com medidas preventivas", disse.
"Com a fábrica instalada aqui vamos produzir os medicamentos que precisamos, então vamos poder multiplicar a vida das pessoas que enfrentam uma doença mortal numa doença crônica que podemos tratar", completou.
"No momento posso garantir que estamos tratando quase 210.000 pessoas, mas acreditamos que isso deve ser talvez cerca de 50% dos que necessitam".
Para Hayne Felipe, diretor de Farmanguinhos, unidade técnico científica da Fiocruz, o primeiro objetivo é aumentar a capacidade de tecnologia de combate do HIV-Aids em Moçambique.
O Brasil decidiu financiar o projeto, cuja ideia nasceu por ocasião da primeira visita de Lula ao país há cinco anos.
A fábrica funcionará com tecnologia brasileira e as matérias-primas destinadas à fabricação de oito tipos de antirretrovirais serão importadas da Índia.
O objetivo declarado do Brasil, pioneiro na luta contra a doença, é ajudar a África a obter antirretrovirais mais baratos.
O Brasil estabeleceu um acesso universal e gratuito aos antirretrovirais, uma política radical adotada em 1996 e que fez do país um dos pioneiros na produção de antirretrovirais genéricos, despertando agitados debates pela resistência e a proteção das licenças de exploração. No total, 0,61% dos brasileiros foram infectados pelo vírus HIV.
Assim, o Brasil é considerado hoje um modelo para os países em desenvolvimento. Segundo a agência do Banco Mundial encarregada da luta contra a pandemia, esta política salvou mais de meio milhão de vidas.
Moçambique é um dos países do mundo mais afetados pelo vírus da Aids, com 2,5 milhões de portadores, ou seja, 11,5% da população. Apenas 200.000 pacientes recebem antirretrovirais.