Politica

Petistas querem mais espaço na divisão dos ministérios

Além do princípio de conflito interno para definir o candidato da sigla à Presidência da Câmara, PT pode criar indisposição com aliados

postado em 11/11/2010 09:41
O PT pode criar problemas para a presidente eleita, Dilma Rousseff. O partido coloca-se como entrave na formação do próximo governo ; cobrando mais fatias do bolo na divisão ministerial ; e quer que o acordo firmado com o PMDB sobre a alternância na Presidência da Câmara passe a incluir também o comando do Senado. Para completar, os petistas estão à beira de uma briga interna sobre quem será o candidato para o cargo.

As legendas aliadas de Dilma concordam com a posição do vice-presidente eleito, deputado Michel Temer (PMDB-SP), de que é melhor manter, a partir de janeiro, o desenho que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez para a Esplanada dos Ministérios. O PT está na contramão desse consenso e quer ocupar postos estratégicos. Os petistas veem com ceticismo um pré-acerto entre as legendas que apoiaram Dilma sobre não almejar pastas alheias. O PMDB deixaria de pleitear os Transportes, que está na cota do PR, e as Cidades, hoje ocupada pelo PP. Os partidos também desistiriam de emplacar um nome na Integração Nacional, por exemplo.

Mas, sob o argumento de que precisam ocupar pastas que conversam com sua base social, os petistas estão de olho na Saúde e numa pasta da área de infraestrutura. A sigla reclama que não tem responsabilidade sobre órgãos que atuam com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). ;A confecção dos ministérios deve ser feita com base na representatividade, temos que ver quais conversam com a nossa base social;, disse o deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA).

A visão cética das intenções dos aliados no futuro governo reflete-se na composição da Presidência das duas Casas do Congresso. ;Essa ideia está em discussão. O objetivo é evitar uma disputa entre candidatos aliados;, afirmou, José Eduardo Dutra, presidente do PT.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) entende que não se pode construir um acordo na Câmara sem incluir os senadores. ;Temos que combinar com o Senado e precisamos fazer uma discussão com os outros partidos também. Não ficar só PMDB e PT;, afirmou.

Numa tentativa de fazer um afago aos outros aliados ; e também à oposição ;, os petistas querem abrir a discussão, hoje limitada a PT e PMDB, a PSB, PCdoB, PR, PP, PTB, além de DEM e PSDB. Mas antes de buscar os aliados, precisará resolver a disputa interna. Hoje, são quatro nomes que se apresentam como postulantes à Presidência da Câmara.

;Precisamos encontrar nomes que têm peso na bancada e dentro da Casa;, afirmou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Chinaglia, Cunha, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e o vice-presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), brigam pela indicação. Peemedebistas dizem que se o PT rejeitar o acordo, haverá disputa e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) não abrirá mão de entrar numa eleição com a base aliada dividida.

Reuniões com ministros
; O deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores da equipe de transição da presidente eleita, Dilma Rousseff, afirmou que já estão ocorrendo reuniões com os ministros do governo Lula para monitoramento das áreas. ;Estive com o Fernando Haddad (Educação) para falar sobre as políticas do setor. O Antonio Palocci também esteve com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A ideia é avaliar o que está em curso e o que poderá ser feito em todas as áreas;, disse. Segundo Cardozo, ainda não há definição de nomes de futuros ministros.

Cota negra em debate
Luciana Bezerra
Especial para o Correio

Integrantes do movimento negro entraram no debate sobre a partilha de poder e de cargos no governo da presidente eleita, Dilma Rousseff. O primeiro a se manifestar sobre o assunto foi o presidente da ONG Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), frei David Santos. Ele encaminhou uma carta à presidente em que defende uma cota de 30% de negros na equipe ministerial. ;É um alerta para que ela seja fiel ao seu programa de governo. Lá, ela assegurou que as políticas de ações afirmativas e de promoção da igualdade sejam transversalizadas no âmbito de ministérios, secretarias e demais órgãos da Administração Pública Federal;, disse.

Frei David lembrou ainda o alto percentual de votos que Dilma registrou entre a população de negros e pardos. No primeiro turno das eleições presidenciais, por exemplo, a petista teve 30% a mais de votos do que José Serra entre eleitores afrodescendentes com maiores rendimentos e/ou que cursaram mais séries na escola. ;O voto negro de todo o Brasil foi maciçamente para a então candidata;, afirmou o frei.

A iniciativa do presidente da Educafro ganhou o apoio do líder da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial da Câmara, deputado Carlos Santana (PT-RJ). ;Já que lutamos pela instituição de cotas nas universidades, acho que devemos fazer isso em todas as esferas públicas e privadas;, declarou.

Para o diretor da área de Formação e Política da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Julião Vieira, não seria interessante defender um regime de cota, já que a presença de representantes da comunidade no próximo governo pode ser superior aos 30%. ;Estamos preparando para o fim de novembro uma reunião, em Salvador (BA), para discutirmos como será possível ampliar essa participação.;

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