Politica

PMDB une força com partidos para não perder espaço em novo governo

O esforço visa evitar mudanças nas presidências do Congresso

postado em 17/11/2010 08:52
Depois de ler sobre os movimentos do PT em busca de ministérios que hoje estão sob sua cota, o PMDB reagiu formando um bloco partidário com o PR, o PP, o PTB e o PSC, para assim, tentar criar uma espécie de cinturão entre os cargos que esses partidos ocupam. Juntos, os cinco partidos, que receberam o apelido de centrão da base Dilma Rousseff, vão somar 199 deputados em 2011, segundo cálculos do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). ;Todos os dias lemos que (Antônio) Palocci vai para a Saúde, que o PT quer Comunicações. PMDB quer Transportes. Pelo menos, nesses partidos, estamos fechados: nenhum reivindica o espaço que hoje é ocupado pelo outro. Só quem pode fazer qualquer mudança é a presidente Dilma;, diz o líder, avisando de antemão que seu partido não fará qualquer movimento para ocupar o Ministério dos Transportes. ;Não seremos problema. Estamos apenas organizando as peças no tabuleiro para que Dilma movimente;, diz o líder peemedebista.

Outros integrantes da base, entretanto, são mais incisivos. Em conversas reservadas, eles afirmam que o objetivo é mesmo dar um aviso ao PT para que não avance sobre os espaços dos aliados de forma a evitar surpresas desagradáveis no futuro. Afinal, na eventualidade de o PMDB se sentir preterido em algum ministério ou outro cargo, esses 199 deputados podem desequilibrar a correlação de forças e tirar do PT a Presidência da Casa no ano que vem. Mas isso é um outro momento, que, diz Henrique Alves, não está em discussão agora. ;O bloco só será formalizado em fevereiro, na nova legislatura. Por enquanto, é informal, mas já funcionará como um bloco;, explica o líder do PMDB.

Em política, ninguém anuncia um bloco com tanta antecedência, a não ser que tenha algum interesse imediato. E o dos partidos é manter poder. O PP deseja continuar no Ministério das Cidades. O PR, no de Transportes. O PTB almeja retomar o Ministério do Turismo, cargo que Walfrido Mares Guia transformou numa pasta politicamente atraente ao ampliar as verbas e atender emendas de deputados e senadores e hoje está com o PT. O PSC, embora não tenha cargo, entrou no bloco em busca de mais força para negociar poder.

Com relação à presidência das duas casas, o novo centrão traz embutido o recado de que não adianta o PT insistir em rodízio no Senado. Afinal, ao longo do governo Lula, a Casa sempre elegeu um peemedebista para presidente, respeitando o que determina o regimento interno. Mesmo quando a Câmara foi ocupada pelo PMDB. Hoje, por exemplo, a Câmara é presidida por Michel Temer e o Senado, por José Sarney, ambos do PMDB. ;Não há por que insistir em mudanças. O Senado é outra história;, comenta Henrique Eduardo Alves.

Reação petista
O PT não gostou. Sua primeira reação foi reclamar com o vice-presidente eleito, Michel Temer, também presidente do PMDB. Alves, que esteve com Temer na segunda-feira em São Paulo, afirma que só avisou ao presidente de seu partido sobre o bloco ontem à tarde, depois da reunião com os líderes. Ninguém acreditou. O PT vai procurar hoje os partidos mais à esquerda para avaliar como juntar forças para enfrentar o PMDB e o novo centrão.

Os petistas não terão uma surpresa muito agradável quando se debruçarem sobre o mapa da Câmara em 2011. PT, PSB, PDT, PCdoB, PMN, PRB e PV somam 192 deputados. A oposição; DEM, PSDB e PPS ;, 108. Sobram 14 deputados. Dos 14, três são do PSol e não pretendem se aliar ao governo. Os outros 11 representam o PHS, o PSL e partidos que dificilmente vão em bloco para apoiar os projetos do PT de ocupar a Presidência da Câmara em 2011.

Ou seja, nessa de arrumar o tabuleiro para Dilma, muitos acreditam que o PMDB deu um xeque mate no PT, que ou respeita os espaços dos aliados ou terá que ceder as joias da coroa, como a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Afinal, para alguns peemedebistas, só esses cargos justificam perder as pastas da Saúde ou das Comunicações. E agora entraram também nesse lote Cidades e Transportes, áreas do PP e do PR.

Origem constituinte
O apelido vem da constituinte de 1988, quando os partidos mais conservadores se uniram para evitar um texto muito à esquerda e terminaram conhecidos por esse nome. Também chamado de Centro Democrático, o grupo era formado por parlamentares do PMDB, do PFL, do PDS e do PTB, além de outras legendas menores.

Na pauta, salário e bingo
Ivan Iunes

A reunião dos líderes partidários na Câmara dos Deputados serviu para que os representantes das bancadas lançassem sobre a mesa discussões espinhosas, como o aumento dos próprios salários e o retorno dos bingos. Os parlamentares pleiteiam reajustar as próprias remunerações para o atual teto do funcionalismo público, que é de R$ 26,7 mil, valor pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Hoje, eles recebem R$ 16,5 mil. Já o trunfo apresentado pelos deputados para defender a volta dos bingos é de que os valores arrecadados pelo governo poderiam ser investidos em saúde.

O acordo fechado entre os líderes é de que o reajuste salarial dos parlamentares será definido pela Mesa Diretora. Amanhã, eles têm uma reunião agendada com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Além do Congresso, deputados e senadores também querem aprovar novos valores para o presidente da República, que hoje recebe R$ 11,4 mil, e para os ministros. Desde a última alteração nos salários, em 2006, a inflação defasou os ordenados em 17,8%.

Enquanto o aumento nos próprios contracheques anda bem encaminhado, deputados da bancada a favor do bingo ainda buscam argumentos para conseguir a liberação do jogo em todo o país. Ontem, durante a reunião de líderes, o argumento era de que a atividade poderia ter a arrecadação em tributos revertida para a saúde, o que evitaria a edição de uma nova CPMF.

O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), defendeu a regulamentação do bingo, mas alertou que o governo federal não deve orientar a bancada sobre o tema. ;Sou favorável a legalizar os jogos e a alternativa para financiar a saúde seria positiva, mas o governo não vai se posicionar sobre isso;, disse.

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