Politica

Dilma cobra entendimento com aliados, mas lobby por cargos acirra ânimos

Ivan Iunes
postado em 20/11/2010 08:00
Convocado para celebrar a vitória de Dilma Rousseff, o encontro de dirigentes do PT com a presidente eleita acabou permeado pelo momento turbulento da relação com o PMDB e marcado pelo choro contido da ex-ministra. Mais: deixou em entrelinhas bem marcadas que a disputa por ministérios na Esplanada tende a acirrar cada vez mais os ânimos até 15 de dezembro, quando a composição total deve ser anunciada.

Ao diretório nacional do partido, Dilma falou em maturidade do PT na relação com os demais partidos e na compreensão dos problemas do país. O discurso vem em um momento em que o PMDB anunciou a formação de um bloco de 202 deputados para disputar a Presidência da Câmara. O problema é que esse movimento, liderado pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é visto como uma ;chantagem; de olho na formação do governo.

;É importante enfatizar a maturidade do Partido dos Trabalhadores em sua relação com os demais partidos da coligação que vai governar o Brasil a partir de 1; de janeiro;, afirmou a presidente eleita para representantes do Diretório Nacional da legenda. A palavra maturidade foi repetida duas vezes. Na segunda, Dilma usou o termo ao lado de generosidade para classificar a maneira como a legenda evoluiu desde sua fundação e pedindo clima de união no seu governo.

Praticamente no segundo seguinte ao anúncio do resultado das eleições presidenciais, o PT está sob pressão dos aliados. Eles querem que a legenda abra mão do lobby por ministérios no futuro governo para abrir espaço aos outros integrantes da coligação. Dilma elogiou a posição do partido, de estabelecer regras de convivência política por conta da ;multiplicidade e diversidade; do Brasil.

Os petistas não tiveram a mesma cautela da presidente eleita e abordaram diretamente a relação com o PMDB. ;O PT e o PMDB estão condenados a se entenderem e a governarem juntos com os outros partidos que apoiaram a presidente Dilma.

Seria irresponsabilidade nos desentendermos;, avisou o ex-ministro José Dirceu, que ainda deu uma estocada no principal aliado: ;O PMDB é o segundo maior partido do país e tem influência decisiva no parlamento. O PT é o partido que tem de ter mais responsabilidade, porque é o partido da presidente eleita;.

O clima de união é apimentado por uma ameaça de generalização da disputa entre as legendas. O Senado começa a dar sinais de estar contaminado pelo frisson da Câmara. ;O caminho é as duas casas respeitarem a proporcionalidade. Caso exista um rodízio na Câmara, o PT do Senado pretende discutir o mesmo acordo no Senado;, ameçou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Militância
Dilma tentou se desvencilhar do clima de guerra que se avizinha e limitou-se a fazer a cobrança indireta por maturidade. Geralmente fria em seus discursos, a presidente eleita emocionou-se pela segunda vez desde que foi eleita. A primeira foi quando agradeceu à liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por sua eleição.

Agora, ficou com a voz embargada e os olhos marejados quando lembrou a mobilização da militância. ;Andei este país de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Tem um fato que quando a gente é candidato é um verdadeiro abraço de mãe, que é quando você desce no aeroporto e vê, primeiro, a bandeira, uma camiseta e uma imensa solidariedade. Isso até me comove;, disse. Dilma não escreveu com antecedência o discurso. Levou um documento com pontos a serem tratados e falou de improviso.

Site da transição
O grupo responsável pela transição de governos corre para levar ao ar a partir deste fim de semana um portal com informações sobre a ;troca de guarda; no Planalto. A página www.brasil.gov.br/transicao contará com a agenda da presidente eleita, Dilma Rousseff, além de notícias, fotos de encontros, decretos e outras informações referentes ao programa de governo da petista para os próximos quatro anos. As informações técnicas sobre programas do governo federal, consideradas sigilosas, não estarão no site.

Tom mais brando

Depois da polêmica sobre descriminalização do aborto, o documento aprovado ontem pelo Diretório Nacional do PT faz apenas uma breve citação ao tema para sublinhar a separação entre Estado e Igreja. ;Cabe ao partido, respeitando convicções religiosas e ideológicas, enfatizar o caráter laico do Estado brasileiro, defendendo todos aqueles segmentos da sociedade que foram e são historicamente discriminados;, consta do texto.

Outra polêmica levantada na campanha ; o controle social da mídia; apareceu no documento na forma de combate ao conservadorismo. ;Está colocada a urgência da reforma político-institucional e da democratização da comunicação;, afirma trecho do documento.

;Respeitando a liberdade de imprensa e de expressão, o PT tem de realizar um debate qualificado acerca do conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade e dos meios de comunicação;, emenda. (TP)

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