postado em 03/12/2010 09:25
Depois de acertar que caberá aos petistas indicar o presidente da Câmara no primeiro biênio, o deputado Michel Temer (PMDB), vice-presidente eleito, passa por uma tentativa de enfraquecimento dentro da própria legenda. Senadores peemedebistas angariam apoio à proposta de retirá-lo da linha de frente da negociação com a presidente eleita, Dilma Rousseff, sobre cargos no futuro governo.O movimento começou no gabinete do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A meta é sacar Temer, que também acumula a presidência da Câmara, do comando da legenda e colocar o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) no posto. O argumento público a ser usado é que, como vice-presidente ; o segundo maior cargo da República ;, o deputado não contribui para ajudar a limpar a imagem de que a legenda só está interessada em cargos. ;O Temer deve se colocar no posto de segundo homem da República, não pode fazer negociação de varejo e se apequenar no debate;, pregou um parlamentar da legenda.
Nos bastidores, no entanto, é uma jogada para enfraquecer o grupo da Câmara e pressionar Dilma a garantir duas indicações de senadores peemedebistas para a Esplanada. A primeira ocorreu ontem. A presidente eleita convidou o senador Edison Lobão a voltar ao Ministério de Minas e Energia. O segundo peemedebista, que vem da cota da Câmara, é Wagner Rossi, que já ocupa a pasta de Agricultura. A expectativa é de que ambos sejam anunciados hoje, ao lado de Antonio Palocci (PT), para a Casa Civil; de Gilberto Carvalho (PT), para a Secretaria-Geral; e de Alexandre Padilha, para as Relações Institucionais. Dilma pode oficializar também os petistas José Eduardo Cardozo, na Justiça; e Paulo Bernardo, nas Comunicações.
Afago
A decisão de antecipar a indicação de Lobão e Rossi faz parte de uma tentativa da presidente eleita de contornar a insatisfação do PMDB com a oferta de participação no próximo governo. Dilma ofereceu à legenda as pastas da Saúde e das Cidades, além da Agricultura e das Minas e Energia. Como na Saúde a indicação de Sérgio Côrtes partiu do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, os peemedebistas recusaram a oferta dizendo que era cota pessoal de Dilma, colocando, no mesmo balaio, a Defesa. O ministro Nelson Jobim é do PMDB, mas não faz parte das nomeações partidárias. A outra ponta da negociação passa por uma compensação e um agrado.
Especula-se sobre a possibilidade de Dilma oferecer ao PMDB a Previdência, que seria coordenada por um senador. O mesmo grupo que quer apear Temer do posto também rejeita o ministério, reclamando que é um posto técnico, sem projeção política e só com problemas. Os dois peemedebistas nomeados pelo presidente Lula para a cadeira ; Amir Lando (RO) e Romero Jucá (RR); tiveram passagens rápidas. Jucá durou apenas quatro meses.
Num gesto de afago, a presidente eleita fez um recuo estratégico na indicação de Sérgio Côrtes. Ela emitiu sinais de que não está nada certa a nomeação, numa tentativa de convencer o PMDB a encampar o nome do secretário de Sérgio Cabral. Fontes do partido admitem que, dependendo da evolução das conversas, esse cenário é possível. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, buscou tratar como natural as reivindicações do PMDB. ;Todos os partidos têm legitimidade de postularem participação no governo em função da colaboração que têm dado e que vão continuar dando por conta de sua representatividade;, disse o petista.
Acordo
Nesse complexo xadrez de montagem de governo, o PMDB e o PT encontraram espaço para pelo menos um acerto. As legendas concordaram que caberá aos petistas indicar o nome do futuro presidente da Câmara no primeiro biênio e apoiar o nome do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para 2013 e 2014. O pacto foi selado em conversa entre o presidente petista, José Eduardo Dutra e Temer, na quarta-feira.
Participam também dos diálogos Alves e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), favorito a ser indicado pelo PT para o terceiro cargo mais alto da República. O acordo prevê ainda que o PT desiste de buscar rodízio no Senado.
Boicote na Câmara
O poder de Michel Temer também vem sendo boicotado pela bancada de deputados. Na quinta-feira, 54 parlamentares peemedebistas assinaram uma moção delegando ao líder Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) a responsabilidade de negociar os espaços no futuro governo. Num gesto diplomático, Alves disse que a tarefa cabe a Temer. A iniciativa do documento partiu do deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG).