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Oposição quer apoio da sociedade para se contrapor ao governo

Brasília - Reduzida a 20 senadores na próxima legislatura, a oposição planeja buscar apoio fora do Senado para fortalecer sua atuação no governo da presidenta eleita Dilma Rousseff. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), uma das estratégias da oposição para não ser engolida pela base governista será a de se aproximar mais da sociedade civil organizada.


;A oposição vai ter que exercitar isso com organização e competência, buscando apoio fora do Congresso para alargar suas possibilidades de função fiscalizadora;, diz Dias. Para tanto, ela deve procurar entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A ideia é se associar a essas instituições em momentos delicados para o governo, como as discussões sobre o aborto ou sobre a regulamentação dos meios de comunicação social eletrônicos.


Líder do PSDB desde o período eleitoral, quando o senador Arthur Virgílio se afastou para concorrer ao governo do Amazonas, Dias também acredita que a oposição poderá incorporar os dissidentes da base aliada, tornando-se maior em determinados momentos. ;Vamos precisar trabalhar as dissidências dentro do governo. De um lado, é positivo para o governo ter uma base aliada ampla, porque é confortável ter maioria. Mas, de outro, é preciso muita articulação política para atender a todos os interesses de uma base tão ampla.;

Para o líder do Democratas, senador José Agripino Maia (RN), o número de senadores não é tão relevante se forem feitas boas propostas. Segundo ele, o papel da oposição é que tem que estar bem definido na próxima legislatura para que ela não se torne inexpressiva.


;Nós valemos pelos argumentos que vamos usar. A oposição existe, independentemente de ser pequena, média ou grande, para fiscalizar, para denunciar;, disse Agripino. Apesar disso, não há uma agenda formada entre o PSDB, o DEM e o PPS - os principais partidos de oposição a Dilma. Os dois líderes devem esperar a chegada dos senadores eleitos para começar as discussões, o que só ocorrerá em fevereiro.

Doutor em sociologia e professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Alcides Costa Vaz também considera que a definição de propostas é o primeiro passo para a sustentação da oposição no Congresso Nacional. Para ele, o esvaziamento do debate no período eleitoral demonstra a necessidade da reconstrução das bandeiras.

A oposição precisa, antes de mais nada, reconstruir suas bandeiras;, avalia Vaz. ;Há questões que sem dúvida são importantes. Todos percebemos que há um momento de dificuldade econômica se avizinhando, um cenário internacional bem menos favorável que o do presidente Lula.;

Na opinião dele, a estratégia de aproximação com instituições da sociedade civil pode ser frustrada pela proximidade delas com o atual governo. O professor acredita que elas podem ganhar força, mas isso não significa que atuarão com a oposição. ;Elas podem desempenhar um papel mais marcante, mas não necessariamente na condição de oposição. Não as vejo, do ponto de vista ideológico e político, como instituições de oposição. A CNBB por exemplo, teve uma posição de enfrentamento (à candidatura de Dilma) por causa do aborto, mas na questão fundiária e indigenista é muito favorável às políticas do atual governo;, aponta Vaz.

Já no que diz respeito às dissidências, o professor da UnB vê possibilidades mais promissoras para DEM e PSDB. Segundo ele, a presidenta eleita já está enfrentando dificuldade para negociar com o PMDB antes mesmo de assumir e isso poderá se acentuar no futuro. O principal aliado do futuro governo, na opinião dele, será o ;objeto de perpétua barganha;.

Apesar disso, Vaz ressalta que a capacidade de negociação de Dilma não deve ser subestimada. ;A Casa Civil da Presidência da República é a antessala do gabinete do presidente, onde todas as demandas políticas aterrissam. Essa história de que a presidenta tem perfil técnico e não político é bobagem. Ela lidou com questões políticas nos últimos seis anos (quando foi ministra-chefe da Casa Civil).;