postado em 08/12/2010 08:10
O senador Gim Argello (PTB-DF), suspeito de desviar recursos do Orçamento da União para institutos fantasmas, usou notas de empresas que não funcionam nos locais registrados e de proprietários que não confirmam ter prestado os serviços para o parlamentar para justificar gastos com a verba de gabinete. Grande parte dos recursos ; de caráter indenizatório ; foram pagos a prestadores de serviço ligados a área de eventos e marketing. Este ano, Gim só apresentou documentos referentes aos valores gastos até maio. Foram R$ 45 mil. No ano passado, R$ 149.360. As notas têm quantias semelhantes ; R$ 6 mil e R$ 7 mil ;, apesar de as empresas e os serviços serem diferentes.José Cruz/Agência Senado
O senador Gim Argello, por meio de sua assessoria, negou quaisquer irregularidades
Cada senador tem direito a R$ 15 mil por mês para despesas com o mandato, incluindo divulgação de atividade parlamentar, contratação de consultoria, locomoção e hospedagem. O valor é cumulativo e, caso não seja usado integralmente, pode ser aproveitado no mês seguinte. O parlamentar renunciou ontem ao cargo de relator-geral do Orçamento de 2011 para ;não atrapalhar; a aprovação da peça orçamentária do próximo ano, depois das denúncias (leia mais na página 4).
A Cinco Soluções, registrada em nome de Jeová Alves de Sousa Junior, recebeu R$ 6 mil em abril. A empresa fica num apartamento residencial no Gama Leste. O Correio visitou o local. Ninguém estava em casa. Segundo vizinhos, a moradora é uma senhora que ;fica pouco em casa; e ;está sempre sozinha;. A Cinco também foi usada para o pagamento de funcionários da pré-campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), pela Lanza Comunicações, do jornalista e consultor Luiz Lanzetta.
A reportagem não localizou Jeová. O capital da empresa é de R$ 5 mil. Segundo registro da Junta Comercial do Distrito Federal, a Cinco faz ;elaboração e desenvolvimento de projetos, eventos culturais, montagem de eventos, gravação de CD, produção fotográfica, revisão e tradução de texto;.
Em fevereiro e março, Gim pagou R$ 7 mil à VB Assessoria de Comunicação. Cada parcela no valor de R$ 3,5 mil. A empresa está registrada em um endereço no Bairro Arapoangas, em Planaltina. Na porta da casa, uma placa sugere ;aulas de reforço em matemática;. Não há sinal de empresa do ramo de comunicação, assessoria e jornalismo. ;Há muito tempo, uma pessoa me pediu, em nome de Valdir, para usar esse endereço. Não disse o que era. Na inocência, deixei. Nunca recebi nada. Só chega correspondência;, afirma Robson, morador do local há mais de uma década. Ele e a mulher afirmam desconhecer Valdir Borges dos Santos, proprietário da empresa. ;Só sei que ele é do Plano (Piloto) e é uma pessoa influente.; A VB Assessoria foi fundada em 1992 com capital de R$ 15 mil. Valdir é dono de R$ 14.925 e a irmã dele, Shirlei Borges, dos outros R$ 75. Os dois não foram localizados.
Os recursos de gabinete podem ser usados para a contratação de consultorias, assessorias, pesquisas, trabalhos técnicos de apoio ao exercício do mandato parlamentar. Nessa rubrica, Gim Argello privilegiou um grupo de empresários. Aline de Oliveira Cardoso, Jefferson Augusto Mesquita e Hernane Oliveira Pinto têm empresas diferentes, com nomes variados. Todas no mesmo endereço, no Sudoeste. Ao todo, o grupo recebeu R$ 42 mil. As notas mantêm o valor padrão de R$ 6 mil.
Recuo
Procurado pelo Correio na segunda-feira, Jefferson, num primeiro instante, negou que tenha feito trabalhos para o senador. Depois de informado da existência das notas, confirmou a participação em projetos publicitários ;há muito tempo;. A reportagem solicitou que ele apresentasse valores e notas. O empresário ficou de retornar as ligações, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta. Este ano, a Publish recebeu R$ 6 mil em fevereiro, março e maio. No ano passado, o mesmo valor foi pago durante quatro meses para as empresas do grupo.
O Senado também indeniza gastos com locomoção e combustível. Em 2009, Gim deu preferência para o Auto Posto Sorriso, em Águas Claras. O proprietário é Bruno Teixeira Albuquerque, condenado pelo Tribunal de Justiça do DF (TJDF) por grilagem de terras. O empresário foi acusado de liderar um esquema que usava uma cadeia de contratos de cessão de direito à posse de lotes para dar, segundo a Procuradoria-Geral do DF, uma aparência de legitimidade ao parcelamento.
As notas do posto também foram emitidas no valor de R$ 6 mil. ;Nunca vi o senador aqui, mas pode acontecer de um assessor pedir nota num determinado valor e nós fazemos;, afirma Bruno, alegando que não tem registro dos valores emitidos.
A assessoria de imprensa do senador nega qualquer irregularidade e informou que desde maio não usa a verba indenizatória. Segundo o gabinete de Argello, a VB foi contratada para criar programas de televisão na web. Em seguida, esse mesmo projeto foi repassado para a Cinco Soluções.