postado em 18/12/2010 08:37
São Paulo - Dois políticos que roubaram a cena nas eleições em São Paulo foram diplomados ontem pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) despertando reações antagônicas. Francisco Everardo Oliveira (PR-SP) foi aplaudido no momento em que recebeu diploma de deputado federal, enquanto Paulo Maluf (PP-SP) foi bastante vaiado. Os dois tiveram o mandato por um fio. Maluf porque não passou, em um primeiro momento, pela Lei da Ficha Limpa; e Tiririca porque teve de provar que sabe ler e escrever. A cerimônia ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O palhaço de 1,3 milhão de votos foi o primeiro a ser diplomado. Bastante emocionado e vestindo um terno elegante, ele ergueu o diploma com lágrimas nos olhos. Várias pessoas aplaudiram com emoção a diplomação do humorista que participa de um programa na TV. "A vitória dele é importante para mostrar que existe um Brasil de pessoas humildes e batalhadoras que vivem no nada", disse o advogado Henrique Miglionza, do PR.
Francisco Everardo começou a chamar a atenção quando apareceu no programa eleitoral da televisão caracterizado com as roupas coloridas do personagem popular. Na primeira aparição, disse: "Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu. Vote em mim que eu te conto". Diplomado, ele contou que está estudando bastante a Constituição Federal para não decepcionar seus eleitores e avisou que o figurino do palhaço vai ficar bem longe do Congresso. "O Tiririca está do lado de fora. O meu mandato será exercido com seriedade", afirmou. Ele frisou ainda que levantará a bandeira dos artistas de circo e dos ciganos.
Já as vaias que Maluf recebeu quando pegou o diploma não o abalaram. Político experiente até nos momentos de adversidade, ele esperou as manifestações acabarem para distribuir cumprimentos. Com um sorriso no rosto, apertou a mão do governador eleito Geraldo Alckmin (PSDB) e da senadora eleita Marta Suplicy (PT-SP). "Não ouvi vaia alguma. Não ouço essas coisas", disse, pouco antes de entrar em seu carro blindado e deixar a cerimônia.
Maluf foi eleito deputado federal com 497,2 mil votos, mas, como foi condenado, em abril, por improbidade administrativa, teve sua candidatura peneirada pela Lei da Ficha Limpa. Anteontem, saiu o último recurso cabível que permitiu a sua diplomação. Assim que chegou à cerimônia de diplomação, ele disse que se sentia "glorificado" com a decisão do Supremo Tribunal Federal. "Sempre disse que era inocente", repetiu. Ao todo, foram diplomados, em São Paulo, 94 deputados estaduais, 70 deputados federais, dois senadores e seus suplentes, o governador e o vice.
Palhaçada, só na TV
O palhaço Tiririca não existe em Brasília. É o que garante o deputado eleito e diplomado Francisco Everardo Oliveira Silva, o recordista de votos na corrida à Câmara. Mesmo com terno e gravata bem cortados, ele ainda lembra o humorista da televisão que ganhou fama cantando Florentina. Para assumir o mandato, Tiririca vem recebendo assessoria integral. Uma equipe lhe ensina o que faz um deputado, como ele deve se portar nos corredores da Casa e quando fizer um pronunciamento. "Ele não vai ser um fantoche. Estamos trabalhando para que ele seja bem atuante", disse um assessor que pediu para não ser identificado.
Tiririca não tem uma ficha corrida tão extensa quanto à de Paulo Maluf. Mas a sua chegada à diplomação não foi fácil. Uma série de denúncias envolvendo falsidade ideológica e até ocultação de bens surgiram tão logo saiu o resultado das eleições. Desde então, o promotor Maurício Lopes começou uma tentativa implacável de impedir que o palhaço fosse diplomado. A primeira ação de Lopes denunciou que Tiririca não sabia ler e escrever e que tinha mentido ao informar a sua escolaridade no registro de candidatura. O palhaço foi obrigado a fazer um teste de leitura e escrita. Apesar de ter errado mais de 70% da prova, a Justiça Eleitoral garantiu que ele pode exercer o mandato. O Ministério Público recorreu e, agora diplomado, Tiririca passou a ter foro privilegiado. Só poderá ser julgado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Liberação apertada
Por muito pouco, o deputado eleito Paulo Maluf (PP-SP) não fica sem um gabinete na Câmara dos Deputados. Só na véspera da diplomação, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Marco Aurélio Mello decidiu que ele merecia ser empossado, já que estava no crivo da Lei da Ficha Limpa. Maluf é acusado de participar de um esquema para superfaturar a compra de frangos pela Prefeitura de São Paulo nos anos 1990. A ação que condenou o político o tornou inelegível, mas uma série de recursos garantiu a sua vaga no último minuto do segundo tempo.
Com a absolvição de Maluf, o candidato Sinval Malheiros Pinto Júnior (PV) perdeu a vaga na Câmara. Ontem, pela terceira vez, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) paulista refez a contagem de votos e modificou o resultado das eleições. Com a nova totalização, o quociente eleitoral para o cargo de deputado federal passou de 305.589 votos para 313.062. Como ainda há recursos a serem julgados no TSE, poderá haver outra retotalização.
Em 2005, Maluf foi preso por 40 dias acusado de intimidar uma testemunha e permaneceu na sede da Polícia Federal de São Paulo. Respondeu também a inquéritos envolvendo denúncias de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção e crime contra o sistema financeiro. Mas o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou que a prisão dele era juridicamente ilegal por conta de problemas de saúde.