Ivan Iunes
postado em 19/12/2010 08:54
Talvez nenhum outro político que não assumirá cargo eletivo em 2011 aguarde mais o próximo 1; de janeiro do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ainda durante as eleições de outubro, FHC lançou o desafio: ;Quando o presidente Lula vier, como todo candidato democrata eleito, de novo, perder a pompa toda, perder o monopólio da verdade, está desafiado a conversar comigo em qualquer lugar do Brasil;. Pois bem, finda a eleição, FHC poderá ter o seu ansiado tête-à-tête com o sucessor em não mais do que duas semanas, ainda que seja pouco provável que essa batalha seja travada publicamente.O desafio, feito no meio da campanha presidencial como uma reação às críticas que julgou exageradas contra o seu governo, explicitou um embate que deve tomar os dois ex-presidentes a partir do ano que vem: a discussão de quem deixou a melhor herança para o país depois de oito anos à frente do Palácio do Planalto. Mesmo que o esperado combate não aconteça, pelo menos à luz do dia, tucanos e petistas já antecipam a ;disputa de heranças;.
Holofotes
Para os tucanos, ao descer a rampa do Planalto e deixar para trás a máquina de governo, a redução dos holofotes sobre Lula possibilitará um raciocínio menos emotivo sobre as duas gestões. ;Lula está deixando uma herança questionável, crédito artificial, aumento excessivo de despesas. O crescimento da renda não foi acompanhado do investimento necessário, o que traz inflação. Ele é um populista conservador;, acusa o deputado federal José Aníbal (PSDB-SP).
Ex-líder do partido na Câmara dos Deputados durante a era FHC, o parlamentar entende que o principal triunfo de Lula foi aumentar o marketing sobre as ações sociais do governo e incrementar os benefícios sociais. As medidas, no entanto, teriam sido pavimentadas pelo antecessor, por meio da aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal e a reforma do setor financeiro, além da estabilização da economia. ;O governo Lula foi conservador, não fez reforma alguma, nada. Cultivou boas relações exteriores e duplicou os benefícios sociais. Estabeleceu isso como espinha social e transformou os resultados em benefícios políticos;, diz Aníbal.
Números
Entre os petistas, a disputa não deixa de ser aguardada com ansiedade. Ex-ministro da Previdência e do Trabalho durante a gestão Lula, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) acredita que a comparação futura se dará sobre os números. ;Há coisas conceituais, nível de transparência, permeabilidade, mas o que fica são os números. O governo Lula na quase totalidade tem números bem melhores do que o do FHC, inclusive nas áreas em que eles diziam ter excelência;, provoca Berzoini. O petista cita a diminuição do desemprego e a redução da desigualdade social como pontos que desequilibram a balança a favor de Lula.
Outro ponto que os petistas apontam favorecer o atual governo é a maior inserção do Brasil na política internacional. A questão, como quase tudo que cerca a polêmica sobre o embate, muda de percepção conforme o observador. Os atuais ocupante do Planalto dão créditos para Lula e para o alinhamento a países em desenvolvimento. Já os tucanos creditam essas conquistas às bases lançadas por FHC. ;O tempo vai trazer uma comparação melhor. O governo FHC trouxe um governo redondo. O que não havia de redondo era a ameaça que Lula representava. Nestes 16 anos, o Brasil vive um círculo virtuoso, instalado pelo FHC e que o Lula sensatamente manteve;, analisa José Aníbal.
Se a comparação for feita com base na popularidade de cada presidente, ao fim dos respectivos mandatos, há vantagem clara para Lula. O atual presidente teve o governo avaliado como ótimo ou bom por 87% dos entrevistados, segundo levantamento divulgado pela CNT/Sensus na semana passada. Já Fernando Henrique Cardoso deixou a Presidência com sua gestão avaliada como ótima ou boa por 26% dos entrevistados, em pesquisa publicada pelo Datafolha em 19 de dezembro de 2002.
"Lula está deixando uma herança questionável, crédito artificial, aumento excessivo de despesas. O crescimento da renda não foi acompanhado do investimento necessário, o que traz inflação. Ele é um populista conservador"
As armas de cada um
Veja alguns dos argumentos que Lula e FHC poderiam usar caso se confrontassem publicamente para comparar as performances à frente do Palácio do Planalto
Governo FHC
; Controle da inflação
; Estabilização monetária
; Aprovação de reformas estruturantes
; Lei de Responsabilidade Fiscal
; Estabilização das instituições democráticas
; Avanços nas políticas de combate à Aids
Governo Lula
; Redução do desemprego
; Diminuição das desigualdades sociais
; Fim do endividamento com o Fundo Monetário Internacional
; Maior inserção do Brasil na política exterior
; Índice de aprovação recorde
; Recuperação pós-crise econômica internacional