Politica

Ciro Gomes manda dizer que está fora do governo Dilma, mas PSB insiste

postado em 21/12/2010 08:00
Depois de ter a certeza de que não seria convidado para o Ministério da Saúde, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) fez chegar aos ouvidos do governo de transição que está fora do primeiro escalão de Dilma Rousseff. O desenho acertado ontem, numa reunião de uma hora e meia entre Dilma e a cúpula do PSB, voltou ao rascunho acordado dias atrás: o pernambucano Fernando Bezerra Coelho vai para a Integração Nacional e os cearenses indicarão o futuro titular de Portos e Aeroportos. O governador do Ceará, Cid Gomes, deixou Brasília no fim da tarde sem jogar completamente a toalha pelo irmão. Ele disse que voltaria a falar com Ciro para avaliar se seria melhor o deputado aceitar o cargo ou indicar outro nome.

A indefinição dos cearenses deixou os ministros do PSB no fim da fila de anúncios, ao lado dos ministros da Controladoria-Geral da União (CGU), do Desenvolvimento Agrário (MDA) e de Políticas para as Mulheres. Esses três devem ficar com o PT, que ontem ganhou mais uma das joias da coroa na Esplanada, o Ministério da Saúde. Para lá vai Alexandre Padilha (leia mais na página 3). No lugar de Padilha no Ministério de Relações Institucionais, Dilma não descarta o atual líder do governo da Câmara, Cândido Vaccarezza.

Na hipótese de Dilma confirmar Vaccarezza na articulação política, ficará em aberto o cargo de líder do governo na Câmara, vaga que chegou a ser cogitada para indicação da bancada do PSB há dois dias. Inicialmente, os deputados socialistas indicariam o futuro ministro da Micro e Pequena Empresa, mas a presidente eleita deixou para escolher o titular depois que criar o cargo por medida provisória, no início de janeiro. Assim, terá um cargo em sua cesta para acomodar um aliado no futuro.

Da reunião de ontem com Dilma e Antonio Palocci participaram, além de Cid Gomes, o presidente do partido e governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos; o vice, Roberto Amaral; e o governador eleito do Espírito Santo, senador Renato Casagrande. Os socialistas desembarcaram em Brasília no início da tarde, depois de uma noite de discussão em Pernambuco, onde chegaram a cogitar não participar do governo. Eles queriam três ministérios ou dois e um posto de destaque. Dilma só ofereceu dois ministérios e deixou o terceiro espaço como uma ideia para o futuro.

A possibilidade de não participar do governo não prosperou porque poderia parecer desfeita. Depois de vários telefonemas e conversas com o futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e com Ciro batendo o martelo de que estaria fora, a solução parcial foi o senador Antonio Carlos Valadares ocupar a Integração Nacional e os titulares do partido em Pernambuco ficarem com Portos e Aeroportos. Tudo mudou quando, na conversa com Dilma, foi dito que o atual presidente do PT, José Eduardo Dutra, suplente de Valadares no Senado, deseja permanecer no comando do partido. Bem quisto no governo e fora dele, Dutra não quer passar a ideia de que estaria desesperado por um mandato. Assim, tudo voltou ao rascunho original.

Orlando
Os interesses do PT pesaram também na hora de manter o atual ministro do Esporte, Orlando Silva, no mesmo cargo. Originalmente, Dilma pediu ao PCdoB que indicasse uma mulher e fechou o convite a Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda. Orlando Silva ficaria como responsável pela Autoridade Pública Olímpica (APO), órgão que ainda será criado.

[SAIBAMAIS]No domingo, contudo, Orlando foi chamado para uma conversa com Palocci depois de a presidente eleita receber apelos da comunidade esportiva em prol da permanência dele. Para completar, o PT do Rio não descarta ser compensado com a possibilidade de indicar o titular da APO caso não emplaque o deputado Luís Sérgio (PT-RJ) no lugar de Alexandre Padilha nas Relações Institucionais. A APO coordenará as ações das Olimpíadas do Rio de Janeiro e há meses o PT fluminense sonha com a indicação. O PT do Rio só desistirá da APO se puder controlar as empresas públicas que vão cuidar da montagem da infraestrutura e do futuro patrimônio olímpico. Será mais uma briga para futuro, quando a APO estiver concluída.

Ironia histórica
Em 1994, logo que Fernando Henrique Cardoso foi eleito no primeiro turno para ocupar o Palácio do Planalto, o nome de Ciro Gomes ganhou força. FHC queria que ele ocupasse o Ministério da Saúde, com plenos poderes para cuidar da área que o tucano considerava crucial para seu governo. Ciro recusou. Fez chegar aos ouvidos do presidente eleito que preferia o Ministério da Fazenda, cargo que ocupava na época a convite de Itamar Franco. Fernando Henrique tinha outros planos para a pasta. Fez de Pedro Malan seu escolhido para a área.

Desta vez, a história se repete, mas de forma inversa. Ciro queria a Saúde, mas a pasta não lhe foi oferecida.

E caminha para, mais uma vez, ficar distante do primeiro escalão.


Acervo do Instituto Lula

; Enquanto Dilma dá os últimos retoques em seu ministério, caminhões de mudança carregados de itens do acervo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acumulou nos oito anos em que esteve à frente do governo começaram a deixar ontem o Palácio da Alvorada. A mudança de Lula e da primeira-dama, Marisa Letícia, vai custar R$ 19.499 aos cofres públicos. No Palácio do Planalto, também houve movimentação de funcionários que vão transportar mais de 1,5 milhão de objetos. Dentre as lembranças de viagens e presentes que o presidente ganhou em eventos do governo, há garrafas de vinho e cachaça, charutos, camisas de times de futebol, bonés, obras de arte, além de livros, cartas, fotos e vídeos. O presidente, que deixa o cargo em 1; de janeiro, pretende alugar um galpão em São Paulo para guardar os objetos até que o Instituto Lula seja inaugurado.

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