Politica

Campanha de 33 deputados teve dinheiro de empresas com contratos na Câmara

postado em 24/12/2010 08:28

Plenário da Câmara: dos 33 parlamentares que receberam dinheiro de prestadores de serviço da Câmara, 25 tentavam a reeleiçãoUm grupo de 33 deputados federais fez campanha com a ajuda de empresas que recebem dinheiro da própria Câmara. As doações somam R$ 1,4 milhão (veja quadro) e patrocinaram uma bancada sem coloração partidária, que chegou ao fim das eleições em pé de gratidão com as contratadas. O levantamento, feito pela reportagem, cruzou as prestações de contas declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a relação de fornecedores de materiais e serviços à Casa nos últimos anos, de acordo com o Portal da Transparência do Legislativo.

Os agraciados integram várias legendas, a maioria governista. Mas foi um tucano quem recebeu mais. Eleito com 1.588.403 votos, Paulo Bauer (PSDB-SC) deixa a Câmara e passa a ocupar uma cadeira de Santa Catarina no Senado. Ele obteve R$ 200 mil da Santa Rita Comércio. Apenas entre 2008 e 2009, a empresa, que bancou também outros dois candidatos, recebeu R$ 94.542,92 da Casa, vendendo aparelhos de ar condicionado, refrigeradores e bombas de águas pluviais. De acordo com o site do Legislativo, as aquisições foram feitas por meio de pregão.

Em segundo lugar na lista aparece Onyx Lorenzoni (PT-RS), reeleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul, com 84.696 votos. Ele recebeu R$ 150 mil da Forjas Taurus S/A, que, sem licitação, vendeu armas de fogo à Câmara por R$ 73.590. José Mentor (PT-SP) surge como o terceiro que mais recebeu doação das fornecedoras. Reeleito por São Paulo com 139.691 votos, ele obteve R$ 133.075,10 da Gráfica e Editora Brasil Ltda, que já imprimiu cartazes para a Casa. O valor doado pela empresa corresponde a 5,2% da receita do candidato (R$ 2.531.677,61).

Mentor não foi o único beneficiado pela doação da Gráfica e Editora Brasil. A empresa foi a que mais desembolsou, entre as fornecedoras catalogadas pelo site da Câmara, a deputados federais. Ela doou R$ 332.568,31 a nove parlamentares. De acordo com as prestações de conta de todos os agraciados, o valor recebido pela gráfica é ;estimado;, o que significa que a empresa doou material de campanha aos concorrentes, como santinhos e panfletos. Depois de Mentor, Carlos Abicalil (PT-MT), candidato mato-grossense derrotado ao Senado, foi o que mais recebeu da empresa: R$ 75.793.

Entre os candidatos beneficiados pelas empresas, a maioria tentou continuar na Câmara: 25 concorreram a deputado federal; um, a governador; um, a vice-governador; um, a vice-presidente; e cinco, a senador. Celso Russomano (PP-SP) foi o único que pleiteou a vaga de governador. Terceiro colocado em São Paulo, foi financiado pela Colorcril Autoadesivos Paraná Ltda, recebendo R$ 77.688,31, também como valor ;estimado;. A empresa forneceu etiquetas adesivas para impressoras, tendo recebido cerca de R$ 30 mil este ano.

Desembolso

Candidatos a deputado federal que não ocupam o cargo atualmente também receberam uma ;forcinha; das fornecedoras da Casa. Juntas, elas doaram R$ 1.357.872,70 a eles, valor bem próximo ao que desembolsaram aos atuais parlamentares. Só a concorrente Flávia Morais (PDT-GO), eleita por Goiás com 152.553 votos, recebeu R$ 728.730 da Stock Comercial Hospitalar Ltda, que fornece medicamentos à Câmara. O valor doado corresponde a 30% da receita da candidata (R$ 3.039.397,04). Também eleito por Goiás, Armando Vergílio (PMN-GO) recebeu R$ 300 mil da Porto Seguro Companhia de Seguros Gerais, que protege equipamentos cinematográficos da Casa.


O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso parte do princípio de que não há troca de favores entre as fornecedoras e os deputados, mas pondera que depende de cada candidato. ;Prefiro acreditar que não há uma permuta entre os doadores e receptores. Mas é claro que, quando um concorrente recebe uma doação de interessadas, deve ter como postura não se sentir pressionado pelo valor arrecadado a beneficiá-la;, afirma. Ele defende ainda uma reformulação no mecanismo de financiamento de campanhas eleitorais. A reportagem entrou em contato com as assessorias dos deputados citados no texto, mas nenhuma delas respondeu.

O NÚMERO

R$ 200 mil

Valor recebido pelo deputado Paulo Bauer, do PSDB catarinense, da empresa Santa Rita Comércio, que vende aparelhos de ar-condicionado para o parlamento

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