Igor Silveira
postado em 28/12/2010 08:43
Quando um turista mais animado com os traços do arquiteto Oscar Niemeyer tenta pisar sobre a rampa do Palácio do Planalto para fazer uma foto, logo é repreendido pela segurança. O caminho por onde a presidente eleita, Dilma Rousseff, subirá no próximo sábado para receber a faixa presidencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é guardado por homens das Forças Armadas, sob a supervisão do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR). A eficiência mostrada aos visitantes no dia a dia, no entanto, não foi a mesma no fim da manhã de ontem. Um grupo de manifestantes tomou e permaneceu na rampa por quase uma hora até ser retirado por seguranças.A menos de uma semana da posse, a vulnerabilidade do acesso ao segundo andar do prédio, onde estão os salões de eventos, chamou a atenção de quem passava pela Esplanada dos Ministérios no momento. Para evitar sustos durante a cerimônia do próximo fim de semana, a organização vai contar com cerca de 3 mil profissionais, incluindo militares e integrantes das polícias Federal, Militar e Civil. O GSI-PR, porém, preferiu não se pronunciar sobre o ocorrido de ontem porque, de acordo com a assessoria do órgão, não se manifesta sobre o esquema de segurança da sede do governo federal.
Os cerca de 100 estudantes partiram da Rodoviária do Plano Piloto, fecharam parte da Esplanada, tentaram invadir o Congresso , subiram a rampa do Planalto e quase quebraram a porta de vidro da entrada do Palácio da Justiça.
Mesmo um tanto tardio, já que o reajuste salarial dos parlamentares, do presidente da República e dos ministros foi aprovado em 15 de dezembro ; parte da população que presenciou a manifestação contra o aumento aplaudiu e fez buzinaços a favor do protesto, marcado pelo uso de nariz de palhaço e camisas pretas.
;Sou a favor da atitude dos jovens, mas creio que não vai adiantar muito;, disse a vendedora Carla Rafaela, que viu o protesto na rodoviária. Com coros de ;salário de luxo, parlamentares de lixo;; ;fora todos, fora já, salário para o povo e não para parlamentar;; e ;eu não sou otário, tira do meu bolso para aumentar o seu salário;, o grupo, classificado por líderes como apartidário, entrou em confronto com a polícia em pelo menos dois momentos da caminhada.
Cerca de 30 homens da Polícia Militar que acompanhavam a passeata queriam que os estudantes ocupassem duas faixas da Esplanada. No momento em que eles empurravam o grupo, um tumulto foi iniciado e gás de pimenta foi lançado. ;Eles saíram chutando cones, nos ofendendo e revidamos;, afirmou um dos policiais. Houve corre-corre no gramado da Esplanada e um policial chegou a sacar uma arma. Pelo menos dois estudantes tiveram ferimentos.
Câmera
O estudante de ciência política da Universidade de Brasília Rafael Barroso, de 23 anos, que participava do ato filmando a movimentação, teve a camisa rasgada. ;Eles queriam as imagens depois que registramos agressões;, acusou.
Em meio à empolgação e gritos de ;truculentos;, alguns jovens pegaram pedras e paus, mas foram desestimulados por colegas. ;O movimento desses jovens é legítimo e da paz. Estou de luto contra essa vergonha do Congresso. Como pode essa aprovação se não há dinheiro para outras áreas fundamentais e nem para um reajuste decente aos aposentados?;, questionou a aposentada carioca Glória Lotfi, de 70 anos, que está em Brasília e foi participar do movimento com os netos.
PM promete apurar
Diante das acusações de truculência, o comando da PM prometeu investigar possíveis excessos. ;Vamos apurar, mas não há estudante com ferimento mais grave;, argumentou o major Alcenor, subcomandante do 6; Batalhão da PM e responsável pela operação. ;Vocês (da imprensa) viram que a gente tentou o diálogo, mas foi impossível. O movimento é desorganizado;.
Vetados no Congresso
Antes de ocupar a rampa do Palácio do Planalto, o grupo com aproximadamente 100 estudantes tentou entrar no Congresso Nacional pela Chapelaria, principal acesso dos parlamentares, que já estão de recesso.
;O protesto era pacífico, mas mesmo assim a polícia legislativa nos xingou e ainda cuspiu em algumas pessoas. Eles nos bloquearam e decidimos então subir a rampa do Planalto;, contou Sérgio Vinícius, estudante de jornalismo. A intenção era circular pelas instalações da Câmara e do Senado com cartazes críticos ao aumento. Como não conseguiram, entraram no espelho d;água. Segundo ele, o movimento foi organizado pela internet e por meio do boca a boca.
No dia 21, o grupo em Brasília também protestou contra o aumento salarial de 61% aprovado pelos parlamentares da Câmara e do Senado, em tramitação recorde, para senadores e deputados, e percentuais acima de 130% nos vencimentos do presidente da República, vice-presidente e ministros. No entanto, por decisão das polícias legislativas, eles não foram autorizados a entrar. O grupo, que tem entre os integrantes jovens dos movimentos Fora Arruda e Fora Sarney, promete novas manifestações em 8 de janeiro.
Paulista
Em São Paulo, cerca de 50 estudantes também organizaram um protesto na Avenida Paulista na tarde de ontem contra o aumento salarial dos parlamentares, ministros e presidente da República. A manifestação foi divulgada por meio de rede sociais e teve início no vão do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP). Em Salvador também houve manifestação de estudantes contrários ao reajuste.