Ivan Iunes
postado em 28/12/2010 08:05
Uma comparação entre as delegações estrangeiras presentes à primeira posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e as que devem comparecer à passagem da faixa para Dilma Rousseff é reveladora de algumas mudanças do Brasil no cenário internacional. Embora os países representados sejam basicamente os mesmos, assistirão à subida de Dilma pela rampa do Palácio do Planalto representantes da Palestina, Catar, Marrocos e de países da América Central ; ausentes há oito anos. As faltas mais significativas são as dos presidentes francês, Nicolas Sarkozy, e do cubano, Raúl Castro.Até o momento, 14 chefes do Executivo e 11 primeiros-ministros confirmaram presença na posse, na tarde de 1; de janeiro. A maioria é constituída por países em desenvolvimento ou da América do Sul, Central e da África, vários deles com relações políticas e comerciais estratégicas com o Brasil (veja quadro). Ao contrário da posse de Lula, países europeus como a Suécia não mandaram representantes do primeiro escalão. Cuba, que teve Fidel Castro na cerimônia de 2003, também não. Os Estados Unidos enviarão a secretária de estado Hillary Clinton em nome do presidente Barack Obama, enquanto a França não definiu quem substituirá Sarkozy. Mesmo tendo no horizonte um contrato avaliado em R$ 6 bilhões para a aquisição de caças Rafale para a Força Aérea Brasileira, a França deve enviar apenas um ex-primeiro-ministro para representar o país ; reforço inferior ao Sete de setembro de 2009, quando Sarkozy veio pessoalmente.
O quadro mostra que, embora tenha iniciado um processo de inclusão do Brasil como protagonista das relações exteriores, o governo Lula teve especial êxito em atrair para o seu campo de influência exatamente os países em desenvolvimento.
;Dilma iniciou seu posicionamento acerca de relações internacionais tentando sinalizar para os EUA e países europeus no sentido de evitar desconfianças. Ela deve diminuir o ímpeto com que Lula tratava as negociações com o Irã, por exemplo, mas não abandonará a interlocução direta e a ênfase no comércio bilateral;, aposta o doutor em relações internacionais e professor da Universidade de Brasília Carlos Vidigal.
Limites
A própria Dilma, em entrevista ao jornal The Washington Post, fez questão de condenar as violações de direitos humanos por parte do governo de Teerã. ;Eu me sentiria desconfortável, como uma mulher eleita presidente, ao não dizer nada contra o apedrejamento (da viúva iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério);, explicitou Dilma. Entre as presenças já confirmadas, a mais significativa politicamente será a de Mahmoud Abbas. O presidente da Autoridade Palestina vem para a posse depois de o governo Lula ter enviado uma carta reconhecendo os limites territoriais do estado palestino estabelecidos antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967.
As áreas conquistadas por Israel durante o embate permanecem como ponto de conflito. A posição oficializada por Lula aumentou a desconfiança dos EUA e de países europeus em relação à atuação internacional do Brasil. ;Ao atuar no caso do Irã, por exemplo, o Brasil conseguiu explicitar a posição dos EUA e dos europeus, que é a de não negociar;, diz Vidigal.
Ontem à noite, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, informou que não virá a Brasília. Ela será representada pelo chanceler Héctor Timerman.