postado em 30/12/2010 08:00
Igor SilveiraO presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou o tradicional tom dos encontros entre o chefe de Estado brasileiro e outros líderes internacionais. Boa praça, o petista mantinha o clima descontraído e menos formal que o antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Mesmo sem falar qualquer outro idioma além do português, parecia um velho companheiro recebendo um amigo que não via há muito tempo quando ciceroneava autoridades estrangeiras no Palácio do Itamaraty. Sempre sob o olhar do chanceler Celso Amorim e do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, recepcionava os convidados levando-os pelo braço para dentro do prédio. Lula, no entanto, está longe de ser uma unanimidade na área das relações internacionais, especialmente devido à aproximação com regimes criticados por entidades de defesa dos direitos humanos.
Com a justificativa da diplomacia e de olho em uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), Lula irritou alguns dos presidentes das grandes potências do mundo, incluindo o norte-americano Barack Obama, depois de encontros com o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad e com os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Hugo Chávez, além da proximidade histórica com os irmãos Castro, em Cuba.
Direitos humanos
A presidente eleita, Dilma Rousseff, porém, não deve ser tão complacente com casos como o da iraniana Sakineh Mohammadi, condenada à morte por adultério e suposta participação na morte do marido. Na primeira entrevista no Palácio do Planalto depois de eleita, ela mandou um recado. ;Isso (o apedrejamento) é uma barbaridade e sou radicalmente contra. Terei uma posição bem intransigente quanto aos direitos humanos, mas vamos defender a paz e receberemos todos aqueles que estiverem dispostos a dialogar conosco em paz;, afirmou.
Na manutenção da política implementada por Lula, Dilma resolveu manter um diplomata de carreira no comando do Ministério das Relações Exteriores. Antônio Patriota, que era o número dois na gestão de Celso Amorim, foi escolhido para ser o próximo chanceler. A medida foi incentivada pelo presidente Lula, que ressaltou ser contra colocar políticos em cargos importantes do Itamaraty para saldar contas de candidatos aliados que perdem eleições.
;O Brasil tem na figura do Celso o mais importante ministro das Relações Exteriores de todos os que estão fazendo política externa no mundo hoje;, destacou Lula em um discurso no Itamaraty no início de novembro. ;O Itamaraty já teve ministros extraordinários, mas, muitas vezes, teve gente nem tão grande, que caiu de paraquedas aqui para fazer política externa;, completou. Vale lembrar, porém, que o próprio Lula já indicou um político para uma embaixada importante em 2003: o ex-presidente Itamar Franco, que foi o titular em Roma.
Tête-à-tête planetário
Veja o que Dilma Rousseff precisa fazer para sair da sombra de Lula na questão da diplomacia internacional:
; Ocupar o espaço deixado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, desde a época de líder sindical, era conhecido por autoridades internacionais
; Estabelecer um diálogo melhor com o governo do presidente norte-americano, Barack Obama, e aparar algumas arestas causadas pela relação do Brasil com o Irã
; Na América Latina, expandir o Mercosul e consolidar o Unisul
; Negociações internacionais para ajudar a destravar e resolver a rodada de Doha, para diminuir as barreiras comerciais com outros países
; Promover uma reaproximação com Israel depois que o Brasil reconheceu a Palestina de maneira unilateral