postado em 31/12/2010 08:00
Das ruas, onde ainda menino oferecia serviços de engraxate, ao gabinete bem decorado do Palácio do Planalto, o ambiente de trabalho de Luiz Inácio Lula da Silva mudou. A informalidade, não. No último dia de expediente efetivo no prédio de 36.000m; ; dentro do qual decidiu os rumos do país nos últimos oito anos ;, o presidente da República estava solto. Quebrar protocolos nunca foi tarefa difícil para ele, mas ontem o despojamento começou no traje. Dispensando o terno e a gravata, o presidente usou, no início da manhã e longe dos fotógrafos, uma guaiabeira, roupa leve da região do Caribe, em tons vermelhos. Para as aparições públicas, vestiu uma camisa branca, por fora da calça preta social. E dá-lhe poses. Foram centenas de fotos ao longo do dia com servidores, visitantes, convidados das cerimônias oficiais e familiares dos funcionários. De formalidade mesmo, a assinatura de medida provisória elevando o valor do mínimo para R$ 540.Ajudante de serviços gerais do Palácio do Planalto há cinco meses, a baiana Natalina Maria de Jesus repreendia a colega, Meg Gomes dos Santos, no corredor do segundo andar. ;Não acredito que ela perdeu a chance de tirar foto com Lula. Agora já era;, lamentava Natalina, 44 anos. Arrependida pela vergonha que a impediu de pedir uma foto ao lado do presidente mais popular que o país já teve, Meg explica suas razões. ;Sei lá, fiquei sem jeito. Ele estava tão perto, a uns dois metros de mim, chegou a me olhar, como que dizendo que se eu quisesse ele tiraria a foto comigo;, conta a brasiliense de 35 anos. A disponibilidade do presidente percebida por Meg se confirmou ao longo do dia. Depois do lançamento simultâneo de várias obras, no final da manhã, o público disparava flashes sem parar. ;Só mais uma, só mais uma;, dizia Lula, sempre sorrindo.
Aliás, o clima de felicidade, depois de uma semana chorosa por onde andou, foi notado por auxiliares mais próximos. ;Ele está muito alegre hoje, tirando fotos a toda hora, há uma movimentação grande por aqui;, disse Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República. O próprio Garcia, pouco antes das 19h, dirigiu-se à portaria do Palácio do Planalto para liberar a entrada de familiares que também queriam tietar o presidente. Uma verdadeira comitiva, formada por três gerações da mesma família, foi ao prédio levada por outro funcionário, o agente de segurança Paulo Roberto Souza. A cunhada, Patrícia Cabral Nunes, não disfarça a ansiedade. ;Vai ser um milagre fazer essa foto com o presidente. Imagine quantas pessoas não queriam conseguir isso;, diz a mulher de 39 anos, mãe de Davi, de oito meses.
Aos 73 anos, Antonia Souza, mãe de Paulo Roberto, também é só felicidade. ;A gente ama o Lula;, derrete-se a senhora. Apesar da animação do grupo, vindo do Gama e de Sobradinho, a sessão de fotos com funcionários e parentes marcada para ontem foi adiada para hoje. Mas a família não voltou para casa sem uma recordação. Eles conseguiram, pela camaradagem de um funcionário, pisar na rampa do Planalto, por onde Dilma subirá antes de receber a faixa presidencial das mãos de Lula. ;Ninguém consegue estar aqui, não;, dizia Paulo Roberto ao grupo, que hoje marcará presença, de novo, no Planalto, disposto a conseguir a tão sonhada imagem com o presidente. Um encontro com o escalão avançado, equipe de funcionários que trabalham em toda a preparação das viagens oficiais de Lula, também está marcado. Cada integrante desse grupo está preparando um presente simbólico para o presidente.
Agenda oficial
Lula parece querer aproveitar intensamente o que lhe resta como presidente do Brasil. Nas três últimas semanas, por exemplo, solicitou agenda oficial aos fins de semana, algo pouco comum em sua gestão. E intensificou o corpo a corpo, uma marca registrada de Lula, junto ao povo que o prestigia nas ruas. Tanto alvoroço, entretanto, causou dores em seu pescoço, devido aos puxões que levava em cada incursão no meio de multidões. Um segurança teve de ser destacado para ficar atrás do presidente, evitando os solavancos provocados pelos seguidores de Lula.
Assessores próximos comentam a emotividade do presidente nos últimos dias. ;Ele embarga a voz na hora de falar com funcionários mais antigos, tem ficado até mais chorão;, conta um auxiliar, pedindo anonimato. Para Luiz Paulo Barreto, ministro da Justiça, a última pesquisa apontando popularidade na casa dos 87% fez toda a diferença. ;Saudoso todo mundo fica, mas acho que ele está realizado com esse reconhecimento;, diz. Questionado sobre as últimas emoções no Planalto, Lula se esgueira: ;Sabia que tinha dia para entrar e para sair;. Ao finalizar uma cerimônia ontem, no melhor estilo Lula, alertou os presentes: ;Feliz ano novo e se beber, não dirijam;.
Salário
Medida provisória assinada garante aumento do salário mínimo de R$ 510 para R$ 540 a partir de 1; de janeiro de 2011. A definição do valor, segundo Lula, vai evitar um aumento forte no deficit da Previdência e, ao mesmo tempo, preservar o poder de compra do piso salarial do país. Embora Lula tenha prometido, ao longo dos oito anos de governo, dar um aumento real do salário mínimo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou que o valor para 2011 não terá ganho real por causa do Produto Interno Bruto (PIB) negativo de 2009.
Visita de búlgaro
A presidente eleita, Dilma Rousseff, recebeu a visita do primeiro-ministro da Bulgária, Boyco Borrisov. Ele veio a Brasília especialmente para a posse da petista, amanhã. Durante o encontro, no Itamaraty, Dilma foi presenteada com um quadro que mostra a árvore genealógica da família Rousseff ; o pai dela era búlgaro ;, e com uma foto da irmã de seu pai, Vana. A presidente, por sua vez, deu uma bola de prata a Borrisov, fã do futebol brasileiro. No encontro, ambos trataram de uma cooperação bilateral nas áreas de transporte e de tecnologia da informação. O primeiro-ministro convidou Dilma para uma visita à Bulgária em 2011. Ela disse que pretende ir ao país do leste europeu no próximo verão da Europa, entre junho e setembro. No dia da posse, Borrisov entregará à sucessora de Lula uma mensagem do governo búlgaro e outra da União Europeia.