Nunca um atraso custou tão caro para Dilma Rousseff, a nova presidente da República. Se não tivesse demorado 20 minutos além do previsto para começar a desfilar pela Esplanada dos Ministérios, teria conseguido interagir mais com os cerca de 30 mil militantes petistas e simpatizantes que aguardavam para ver ao menos um relance da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto.
Ao herdar uma característica do antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, campeão em colecionar atrasos em cerimônias, Dilma passou pela multidão com a capota do Rolls-Royce presidencial fechada devido à forte chuva ; ao acordar, às 7h, a ansiedade da presidente aumentou quando ela viu o céu carregado.
Apesar do aguaceiro, Dilma abaixou o vidro da janela do automóvel, que na primeira metade do trajeto estava fechado, para acenar ao público. Ela nem sequer conseguiu fazer o tradicional percurso de subir a rampa do Congresso e teve de entrar pela chapelaria, um cenário sem glamour, que parece mais um estacionamento de alta rotatividade de carros oficiais.
Toda a ansiedade no trajeto, refletido num sorriso contido enquanto estava enfurnada no carro ao lado da filha, Paula, deu lugar a um momento catártico no Congresso. Ela entrou no plenário da Câmara acompanhada pelo vice, Michel Temer (PMDB), e pelos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB), e da Câmara, Marco Maia (PT), aos gritos de ;Olê, olê, olá, Dilma, Dilma;. A presidente, sempre fria em momentos mais emotivos, foi tomada pela felicidade. Ao sentar na cadeira mais alta do Congresso e ouvir de Sarney que estava sendo empossada presidente, Dilma deu um suspiro que parecia misturar alívio com contentamento.
A formalidade documental para alçá-la à Presidência da República durou 10 minutos. O discurso durou cinco vezes mais, com direito a choro contido quando ela lembrou dos companheiros em armas que caíram na luta contra a ditadura. Ao sair do Congresso, a chuva havia passado e Dilma conseguiu desfilar em carro aberto nos 200 metros que a levaram ao Palácio do Planalto.
A ex-militante, que lutou, foi presa e torturada pelos militares, passou a tropa em revista, agora como comandante-em-chefe, a quem seus ex-perseguidores devem obediência. ;De uma certa forma, estou me sentindo como se aqueles que lutaram contra a ditadura estivessem subindo essa rampa agora;, disse, em tom efusivo, Ieda Seixas, que ficou um ano e meio presa com Dilma em São Paulo.
Brincadeira
Na rampa, Dilma olhou para Lula e acenou em tom de brincadeira, como quem gostaria de dizer: ;O senhor desce ou eu subo?;. Um dos ensinamentos que o mentor passou para sua sucessora é a informalidade, que ela ainda reluta em aceitar. Dilma, ao lado de Temer, subiu a rampa, trocou um longo e apertado abraço com Lula e todos se dirigiram ao parlatório, para a passagem da faixa. Depois, Dilma depois desceu a rampa para dar adeus à pessoa responsável por colocá-la sob os holofotes.
Sozinha, recebeu os cumprimentos de chefes de Estado e representantes de delegações estrangeiras, como o venezuelano Hugo Chávez, que chegou a dizer que ;as mulheres são superiores aos homens;. A conversa mais longa foi com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. Para fechar as formalidades, empossou os ministros e bateu a foto oficial do governo que começou ontem.
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