Politica

Hugo Chávez cede a vez para Hillary Clinton na hora de cumprimentar Dilma

postado em 02/01/2011 11:48

Isabel Fleck,

Carolina Khodr

Diante da presidente eleita, Dilma Rousseff, dois dos mais ilustres convidados internacionais trocaram uma gentileza inesperada. Colocados em sequência na fila dos cumprimentos, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, viram-se obrigados a interagir pela primeira vez desde o imbróglio diplomático gerado com a recusa de Chávez em receber o novo embaixador nomeado pelos EUA para Caracas. Segundo o chanceler Celso Amorim, Chávez honrou o cavalheirismo latino e cedeu a Hillary seu lugar na fila. Os dois, porém, não voltaram a encontrar-se no coquetel oferecido às delegações visitantes no Itamaraty: Chávez deixou Brasília no início da noite, embora tivesse reunião bilateral marcada com Dilma para a manhã de hoje.

Presidente venezuelano (D) troca amabilidades com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.;O Chávez foi muito gentil e cavalheiro: ele teria precedência (por ser chefe de Estado), mas deixou-a passar na frente;, disse Amorim depois da cerimônia de no Planalto. O chanceler, único ministro a permanecer durante os oito anos ao lado de Lula, foi também o único que o acompanhou até a descida pela rampa do Planalto. ;É muito emocionante, acho que o Brasil viveu um momento histórico importante: depois de termos tido uma transição bonita, que foi do presidente Cardoso para o presidente Lula, o presidente Lula transferiu o poder para uma mulher, com o apoio que ele tinha;, disse Amorim. Hoje à tarde, ele transmite o cargo para o sucessor (e amigo) Antonio Patriota.

Segundo Amorim, um dos líderes mais entusiasmados durante o discurso de Dilma foi o presidente Chávez. ;Todos estavam muito emocionados, mas principalmente os que acompanharam o presidente Lula por mais tempo, como o presidente Chávez, que estava quase chorando;, contou. O governante venezuelano encheu Dilma de afagos, como é seu estilo, mas o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, foi nostálgico bem à moda lusitana. ;Ele disse: ;Ah, já temos saudades;;, contou Amorim.

Vieram para a cerimônia de posse 10 presidentes, nove primeiros-ministros e um vice-presidente, além de dezenas de embaixadores e representantes das Nações Unidas. A grande maioria dos chefes de Estado e de governo, no entanto, são da região. Faltaram altos representantes de importantes parceiros, como França, Índia, China e Irã. Para Amorim, no entanto, o esvaziamento se deve, em grande parte, ao fato de a posse ser realizada no dia 1; de janeiro. ;A gente sempre gostaria que tivesse mais (presentes), mas a data realmente é pouco feliz;, disse o ministro.

Mesmo na vizinhança, presidentes próximos, como a argentina, Cristina Kirchner, o equatoriano, Rafael Correa, e o boliviano, Evo Morales ; que tinha confirmado presença ; não prestigiaram a nova presidente do Brasil. Segundo Amorim, Morales não justificou a ausência, mas provavelmente foram ;questões internas;. ;O que ouvi dizer foi que, como ele tinha de mudar uma legislação que tinha acabado de baixar, isso talvez tenha criado algum problema;, disse, referindo-se ao aumento da gasolina.

Passagem relâmpago
Hillary Clinton teve uma passagem relâmpago por Brasília: apenas três horas. A secretária de Estado Base Aérea às 16h20, quando Dilma saía do Congresso em direção ao Planalto, e foi a última a chegar ao palácio, já quando a presidente encerrava o discurso no parlatório. Para receber os cumprimentos de Hillary, Dilma precisou da ajuda de um tradutor. As duas conversaram rapidamente, de mãos dadas. A americana foi a primeira convidada a chegar para o coquetel no Itamaraty, mas foi embora antes da chegada da presidente. Segundo a embaixada americana, Hillary teve de embarcar às 19h30, por conta de restrições de horários do avião militar que a trouxe. ;É maravilhoso estar aqui, estou muito feliz pelo Brasil;, disse Hillary à imprensa antes de deixar o Itamaraty.

Para Amorim, apesar da rápida passagem, a simples presença de Hillary foi um gesto importante. ;Que eu saiba, foi uma das primeiras vezes que os Estados Unidos mandam uma secretária ou secretário de Estado para a posse. Geralmente mandavam vice-ministros;, observou.

Em seu primeiro discurso, no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff falou da política externa que pretende seguir e, na presença de vários colegas da América Latina, afirmou que pretende trabalhar para que o crescimento do país seja estendido a toda a região. ;Seguiremos aprofundando o relacionamento com nossos vizinhos sul-americanos. O Brasil reitera, com veemência e firmeza, a decisão de associar o seu desenvolvimento econômico, social e político ao de nosso continente. Podemos transformar nossa região em componente essencial do mundo multipolar que se anuncia, dando consistência cada vez maior ao Mercosul e à Unasul;, disse.

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, lembrou que o governo de Lula foi muito importante para o Brasil e manifestou a expectativa de que Dilma continue no mesmo rumo. ;Chile e Brasil sempre foram países amigos. Eu conversei com a presidente Dilma e vamos continuar no mesmo caminho. O Brasil é uma potência não só na América Latina, como no mundo;, afirmou. O presidente também falou sobre a questão da polarização política entre esquerda e direita na America Latina. ;Não deveria mais existir isso. O que precisamos é trabalhar juntos.;

Transição antecipada
O ministro Celso Amorim e seu sucessor, o embaixador Antonio Patriota, não aguentaram esperar até a transmissão solene do cargo, marcada para hoje no Itamaraty. Como secretário-geral das Relações Exteriores, o novo ministro esteve presente à sessão de cumprimentos da presidente Dilma Rousseff com os convidados estrangeiros. Já com a cerimônia em andamento, Amorim cedeu a Patriota a posição que ocupava de início, logo em seguida ao vice-presidente Michel Temer. O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que já ocupava o cargo no governo Lula, estava mais atrás na fila.

Durante oito anos, Ricardo Stuckert, mais conhecido como Stuckinha, foi a sombra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como Lula, o fotógrafo oficial da Presidência da República desde 2002 acompanhou não apenas os fatos que marcaram a história do país nos últimos anos, mas também registrou diversos momentos pessoais e cotidianos do ex-presidente. Agora, Stuckinha arruma as malas para sair de Brasília.

Mas a história da família com o Planalto, que começou em 1979 com Roberto Stuckert ; Stuckão, como é chamado, foi o fotógrafo oficial do último presidente do regime militar, general João Baptista Figueiredo (1979-1985) ; não está acabando. Mesmo após a troca de governo, um Stuckert vai permanecer na capital federal. Fotógrafo oficial durante toda a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff, Roberto Filho substituirá o irmão no cargo.

Assim como o pai, que fotografou o último governante militar, e o irmão, que registrou os momentos do primeiro operário que chegou ao poder, Roberto, o Stucka, será responsável por registrar quatro anos que ficarão para sempre na história do Brasil. Marcando três ciclos bastante distintos na trajetória da família Suckert, ele será o fotógrafo da primeira mulher presidente do país.

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