postado em 03/01/2011 08:23
No primeiro dia de trabalho como presidente da República, Dilma Rousseff recebeu, na manhã de ontem, representantes da Espanha, de Portugal, do Uruguai, do Japão, da Coreia do Sul, de Cuba e da Palestina. Um encontro facilitado pela presença dos líderes internacionais na capital do país para prestigiar a posse da petista. Na conversa travada reservadamente com cada um deles, a presidente negociou futuras parcerias econômicas e troca de conhecimentos tecnológico e científico. O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, acompanhou o evento. Incumbência encarada antes mesmo de ele participar da sua cerimônia de transmissão de cargo, ocorrida na tarde de ontem.O primeiro a se encontrar com a presidente Dilma foi o príncipe das Astúrias, Felipe de Bourbon, atual herdeiro da coroa espanhola. O príncipe entregou à presidente uma carta escrita por seu pai, o rei Juan Carlos da Espanha. Segundo o ministro Patriota, a agenda bilateral entre a Espanha e o Brasil, e a organização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro foram os principais assuntos da conversa. Em seguida, Dilma recebeu o presidente do Uruguai, José Mujica, com quem conversou sobre a intenção de manter a frequência de visitas ao país, além de ampliar e intensificar as relações internacionais entre as duas nações.
Logo depois, foi a vez de Kim Hwang-Sik, primeiro-ministro da Coreia do Sul. Ele falou com a presidente sobre o interesse do país em negociar um acordo de livre comércio com os integrantes do Mercosul. Em contrapartida, a presidente comunicou ao primeiro-ministro que pretende equilibrar a balança comercial, que hoje favorece a Coreia. Eles falaram também sobre possíveis parcerias relacionadas à alta tecnologia em setores como petróleo, indústria naval e energia nuclear, e sobre a licitação do trem de alta velocidade que deve ser construído entre as capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, projeto de interesse do país asiático.
Espaço na ONU
O quarto a se encontrar com a presidente foi o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. O representante lusitano destacou o crescimento da participação do Brasil no cenário político e econômico internacional, e disse apoiar o pleito brasileiro de conquistar espaço na Organização das Nações Unidas ; o Brasil tenta lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. ;Portugal apoia o Brasil para conquistar o seu espaço no Conselho das Nações Unidas, tanto na questão geopolítica, quanto na geoeconômica;, disse.
O premiê disse ainda que, de acordo com a nova política externa do país, o Brasil tornou-se prioridade e também destacou a importância de se ampliar as parcerias entre empresas brasileiras e portuguesas. Questionado sobre a possibilidade do Brasil comprar títulos da dívida pública portuguesa, ele disse que não tratou sobre esse tema com a presidente Dilma, mas recomendou o investimento. ;Este é um assunto que compete aos ministros de finanças. Mas comprar títulos portugueses é um ótimo investimento, que recomendo a todos vocês;, disse.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, o primeiro vice-presidente de Cuba, José Ramóm Ventura, e o ex-primeiro-ministro do Japão, Taro Aso também se reuniram individualmente com a presidente Dilma Rousseff na sala de audiências do Palácio do Planalto.
Taxas reduzidas
O Mercosul ; formado atualmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ; já assinou acordos de livre comércio com Israel e Egito e, desde 2005, mantém negociações com a União Europeia. O livre comércio é um acordo entre países que possibilita a circulação de mercadorias nacionais com taxas alfandegárias diferenciadas e reduzidas. A Venezuela tenta desde 2006 entrar no Mercosul, mas ainda depende de aprovação do parlamento paraguaio ; os congressos nacionais dos demais países da América do Sul já concordaram com a sua participação.
Ligações para Lula
; Em sua cerimônia de posse, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, contou que Dilma ligou para perguntar se ele já tinha telefonado para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dia depois de o petista deixar a Presidência. É o dever de casa que a presidente Dilma Rousseff propõe aos seus novos ministros. Depois da revelação, os ministros presentes na cerimônia de posse de Carvalho começaram a ser indagados sobre a tarefa.
Funcionários teriam facilitado lobbies arquitetados por Erenice Guerra
A sindicância interna que apurava a participação de servidores da Casa Civil no escândalo envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra chegou ao fim sem prever punições. O relatório final só indica a abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar um convênio firmado, em fevereiro de 2005, na gestão do então ministro José Dirceu, com a empresa Unicel, representada pelo marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos.
A decisão foi tomada pelo ex-ministro Carlos Eduardo Esteves Lima. O ministro interino passou o cargo ao novo chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ontem. Esteves Lima foi nomeado depois que a ex-ministra Erenice Guerra pediu demissão motivada pelas denúncias de tráfico de influência na pasta.
O prazo da comissão já tinha sido prorrogado duas vezes, sendo que a última delas teve como único objetivo não coincidir com a semana final da campanha presidencial. A expectativa era de que o resultado só fosse divulgado em abril.
Dois ex-funcionários foram investigados: Vinicius Castro e Stevan Knezevic. De acordo com a Casa Civil, não houve comprovação de que Castro estava envolvido com o esquema comandado pelo filho de Erenice, Israel Guerra, de quem era amigo. Já a situação de Knezevic será decidida pelo Ministério da Defesa, já que ele é servidor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Castro deixou o governo logo no início do escândalo e Knezevic voltou para o órgão de origem.
O procedimento interno de investigação não tem poderes para punir Erenice. A Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência da República, é quem está com o caso da ex-ministra. Uma cópia do relatório final da sindicância será remetida ao órgão e outra ao Ministério da Defesa. A apuração do caso Erenice ainda segue no âmbito da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao deixar o cargo, a ex-ministra pediu que os dois órgãos fizessem a investigação das denúncias.
Viagens aos vizinhos
Apesar de a agenda de viagens internacionais da presidente Dilma Rousseff ainda não ter sido divulgada oficialmente, já se sabe que os primeiros destinos da petista serão a Argentina e o Uruguai. Depois, ela deverá ir aos Estados Unidos e à China. Os indicativos foram dados ontem pelo novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, durante a sua posse, e por Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, mas nenhuma saída do Brasil tem data definida.
;Conversei com a Dilma a respeito de um programa de viagens presidenciais para os próximos meses, que incluirá visitas aos países vizinhos e a alguns de nossos principais parceiros econômicos e comerciais, como os Estados Unidos e a China;, afirmou Patriota, em seu discurso.
Garcia confirmou que as viagens deverão ser iniciadas pelo Uruguai e pela Argentina e que, depois, Dilma deve ir à Bulgária, onde nasceu seu pai. Em abril, é praticamente certo que a presidente irá a Pequim participar da cúpula dos Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e futuramente pela África do Sul. Hoje, está prevista uma reunião de coordenação de Dilma para definir a agenda dos seus primeiros dias.