Igor Silveira
postado em 05/01/2011 08:00
São apenas quatro dias de mandato, mas a rotina no Palácio do Planalto já é completamente diferente do que costumava ser com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma Rousseff, à frente da Presidência da República desde o último sábado, mantém o mesmo ritmo intenso de encontros, mas todos inseridos na agenda oficial como reuniões fechadas, nas quais os temas dificilmente são divulgados. A petista quer traçar um diagnóstico da atual situação do governo o mais rápido possível e, para isso, além dos compromissos diários com ministros, ela agendou outros dois com os chefes das pastas: o primeiro, que será realizado amanhã, vai reunir somente ministros da área social para discutir iniciativas para a erradicação da miséria ; principal compromisso assumido por Dilma durante a campanha presidencial.Nesse encontro, estarão presentes, pelo menos, sete responsáveis por ministérios, incluindo Casa Civil, Saúde, Educação, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário, Trabalho e Fazenda. Para a outra reunião ministerial, Dilma deu mais um tempo para que os ministros pudessem ficar a par das condições das áreas que chefiam. O compromisso está marcado para a tarde de 14 de janeiro e terá como tema principal o momento econômico do Brasil.
A presidente, conhecida por preparar extensas apresentações com slides quando precisa discorrer sobre determinados assuntos, já encomendou uma ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. De acordo com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, Mantega será o único a fazer uma exposição no encontro.
O antagonismo entre as personalidades de Dilma e de Lula reflete diretamente no dia a dia do Palácio do Planalto. O ex-presidente sempre ficou à vontade diante de uma plateia, é um mestre em fazer poses para os fotógrafos e não se incomoda com situações de improviso ; ao contrário, tira proveito do momento. Dilma, no entanto, é metódica, ainda está evoluindo nos discursos públicos e tem um perfil extremamente introvertido. Coincidência ou não, a presidente ainda não tem compromissos públicos marcados para os próximos dias. Porém, somente em quatro dias no poder, ela participou de 16 reuniões fechadas com autoridades (veja quadro).
Próximos temas
A política externa esteve na agenda oficial da Presidência da República até agora e deve permanecer pelos próximos dias. Além dos encontros com sete autoridades estrangeiras realizados no último sábado, Dilma conversou, na segunda-feira, com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, e recebeu, ontem, o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. Na pauta, uma avaliação sobre os encontros com representantes de outros países que estiveram na posse, o caso do ativista italiano Cesare Battisti e a primeira viagem internacional de Dilma, na próxima semana, para a Argentina.
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, também recebeu o embaixador do Irã, Mohsen Shaterzadeh, que parabenizou Dilma pela posse. ;Nós conversamos sobre a situação internacional e o embaixador reforçou o convite à presidente para que ela possa visitar o Irã ainda este ano. Também falamos em materializar efetivamente um acordo sobre o uso de energia nuclear para fins pacíficos;, comentou Garcia.
Além de Patriota, o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, e o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, também terão muito trabalho nos próximos dias. Eles têm a difícil missão de acalmar a sede do PMDB por cargos no governo e manter Dilma protegida dessas discussões (leia mais nas páginas 6 e 7).
Aparentando estar pouco à vontade para falar com a imprensa logo depois de tomar posse, na segunda-feira, Luiz Sérgio comentou o assunto: ;Temos de dialogar e o ministro Palocci é parte importante do governo. Os pleitos por cargos, porém, sempre chegam primeiro à Secretaria de Relações Institucionais e vamos discutir cada caso com calma;.
Lula troca a faixa pela vara de pescar
; Sem o peso da faixa presidencial sobre os ombros, Luiz Inácio Lula da Silva decidiu curtir os dias de ex-presidente da República de uma maneira impraticável até a semana passada: pescando. De acordo com assessores, por volta das 10h30 de ontem, Lula deixou sua residência em São Bernardo do Campo (SP) pela porta da frente, sem escolta especial, e entrou em um carro não oficial. Segundo a assessoria do Exército, ele foi para uma base no litoral paulista, no Guarujá (SP).