postado em 05/01/2011 09:19
Depois do curto-circuito instalado entre PT e PMDB em torno dos cargos e o perigo de a briga respingar em assuntos delicados que estarão em pauta no Congresso Nacional em fevereiro, a presidente Dilma Rousseff tirou dos ministros a autonomia de nomeação para os postos de segundo escalão. As indicações serão repassadas aos ministros da Casa Civil, Antônio Palocci, e das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que, juntos, cuidarão de equilibrar as forças e de contornar as insatisfações. A ordem ajudou a reduzir a tensão, mas não acabou com a crise, uma vez que o PMDB decidiu colocar à disposição do governo todos os cargos de segundo escalão que ocupa hoje.;A orientação, não do ministro, mas do ministério, é que os ministros tenham calma. O que é vitorioso é o projeto. Não precisa sair achando que precisa mudar tudo;, afirmou Luiz Sérgio, que foi à posse do novo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Wellington Moreira Franco, do PMDB, com a missão de apagar seu primeiro incêndio no governo. Ele ainda acenou um apoio à candidatura de José Sarney (PMDB-AP) para a reeleição na Presidência do Senado. ;Se houver convergência em torno do nome do Sarney, nós nos sentiremos contemplados. Ele é o quadro mais experiente;, afirmou Luiz Sérgio. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também compareceu à solenidade, assim como vários deputados do PT. Foi a tentativa de mostrar uma política de boa vizinhança entre os dois principais partidos da base aliada de Dilma.
Mal terminou a posse de Moreira Franco, a cúpula do PMDB foi para o apartamento ocupado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, para avaliar o cenário e formalizar o afastamento de Temer do comando partidário. O encontro reuniu o presidente do Senado, José Sarney, os líderes partidários no Congresso ; deputado Henrique Eduardo Alves (RN) e senador Renan Calheiros (AL) ;, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), e alguns parlamentares.
Ali, os peemedebistas listaram os principais cargos de segundo escalão. Citaram, por exemplo, a Diretoria Internacional da Petrobras, indicada por Minas; a Secretaria-Geral do Ministério da Agricultura, também da bancada mineira; a Presidência de Furnas, lote do Rio de Janeiro; a Presidência da Transpetro; e ainda a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o comando do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Combinaram ainda, a partir de hoje, parar com as cobranças pelos jornais e partir para a luta interna, nos bastidores do poder.
Antes do encontro, Temer colocou panos quentes na crise. ;Não haverá decisão sem que haja diálogo com os partidos aliados. A base aliada será sempre ouvida;, afirmou o vice-presidente, marcando terreno como articulador político. Indagado se a presidente Dilma Rousseff ficou surpresa com a reação do PMDB, Temer disse que esse tipo debate é comum. ;Ela tem experiência. Essas coisas são assim mesmo. Como elas se repetem, servem de experiência.;
Ao fim da reunião, Henrique Eduardo Alves, por exemplo, estava bem mais sereno do que há dois dias, quando declarou que o governo não poderia ser uma ;petemocracia;: ;O PMDB adia essa discussão, aguarda um novo momento, mas sempre com a preocupação de que ocorra um amplo diálogo, não só com o PMDB, mas com toda a base aliada, afinal, somos um governo de coalizão. No momento em que o governo reabrir essa questão, a base aliada deve conduzir os seus espaços naturais para ajudar o governo Dilma.;
Antes da reunião fechada dos peemedebistas, Alves havia encontrado o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), candidato à reeleição, na posse de Moreira Franco. Conversaram na porta do edifício, e o deputado do PMDB garantiu ao petista que o apoio está mantido. Depois da reunião do PMDB, Alves dava sinais das áreas em que o governo poderá ter trabalho, e citou especificamente o salário mínimo. Ele disse que o partido tem um ;compromisso, de maneira muito determinada;, para que as reformas política, tributária e o novo piso sejam amplamente debatidos antes de qualquer decisão. ;Queremos marcar com a área econômica uma reunião para que possamos ser convencidos ou convencermos (o governo) de que este ou aquele número é o necessário para um salário mínimo justo.;
Reação
Henrique Eduardo Alves terá dificuldades em convencer sua bancada a votar pacificamente as propostas do governo e até mesmo para votar em Marco Maia para presidir a Câmara. Sete deputados de Minas, por exemplo, já marcaram um café da manhã com o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), um dos nomes citados para concorrer à Presidência da Casa. A bancada mineira do PMDB já foi procurada pelo deputado Sandro Mabel (PR-GO), que sonda suas chances de concorrer. Os mineiros consideram que foram desprestigiados na composição do primeiro escalão e se preparam para reagir.
À noite, os caciques do PMDB voltaram a se reunir. Dessa vez, na casa da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O carro oficial do vice-presidente, Michel Temer, bateu no portão e a placa do veículo caiu.
Movimentos
Há vários deputados se movimentando para testar suas chances de presidir a Câmara. Aldo Rebelo é o mais ativo, seguido de perto por Sandro Mabel, que há dois dias foi conversar com o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves. Júlio Delgado (PSB-MG) corre por fora. A avaliação geral é a de que muitos se apresentam para ver se, ao desistirem da disputa, ganham uma secretaria da Casa.
Moreira Franco espera diretrizes
Último ministro a tomar posse, Moreira Franco recebeu ontem de Samuel Pinheiro a Secretaria de Assuntos Estratégicos. O peemedebista, braço direito do vice-presidente da República, Michel Temer, assumiu o posto sem adiantar quais são seus planos para o órgão. O novo ministro afirmou que aguardará encontro com a presidente, Dilma Rousseff, para estipular as diretrizes para a nova gestão da pasta responsável por definir as ações estratégicas para as políticas de longo prazo do governo. ;Temos que ter a consciência que caberá à presidente definir as prioridades da secretaria;, discursou.
A continuidade das políticas do governo Luiz Inácio Lula da Silva, segundo Moreira Franco, deve marcar a nova gestão. ;A presidente Dilma já deu o rumo, o foco e o eixo do seu governo, que são erradicar a miséria, construir uma classe média sólida e fazer do Brasil a quinta economia do mundo;, aposta. ;O governo Dilma é de continuidade, tem a missão de dar prosseguimento ao legado do presidente Lula.; Até o fim do ano passado, Moreira Franco, ex-governador do Rio de Janeiro, foi vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal.
O peemedebista fez elogios ao ex-presidente em sua cerimônia de posse e afirmou que Lula modificou a lógica da administração pública brasileira. ;Sempre ouvimos que era preciso deixar o bolo crescer para dividir. Nesses oito anos, vislumbramos a possibilidade de crescer dividindo renda;, comentou.
Ipea
Moreira Franco já chega à secretaria com o desafio de vencer uma disputa polícia: manter o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nos domínios da pasta. Em 2007, quando a secretaria foi criada, o instituto era vinculado ao Ministério do Planejamento e depois migrou para a pasta de Assuntos Estratégicos. Hoje, há quem defenda a volta do instituto para sua pasta de origem.
Moreira deve ter reunião com Miriam Belchior, ministra do Planejamento, para tratar do futuro do Ipea. O peemedebista luta para manter o instituto. Funcionários temem que o deslocamento do Ipea para o Planejamento possa significar aparelhamento das pesquisas por partidos políticos. Aliados de Moreira Franco afirmam que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem interesse em indicar o novo presidente da instituição, caso o Ipea seja efetivamente transferido para o Ministério do Planejamento. (JJ)
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Qual será a hora do troco?
O PMDB está num dilema. Não sabe se dá o troco logo na eleição do presidente da Câmara, no início de fevereiro, ou se espera algum projeto importante, como o salário mínimo, para mostrar ao governo o poder de sua bancada. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), tem um acordo com o PT para apoiar o partido de Dilma agora e, daqui a dois anos, ganhar o aval dos petistas para comandar a Casa. Por isso, tenta desestimular candidaturas avulsas de seu partido.
Em princípio, conseguiu que os peemedebistas não concorram à Presidência da Casa, ou tenham pretensas candidaturas sufocadas por absoluta falta de votos no próprio partido. Mas, como a votação é secreta e haverá outros candidatos, Alves não tem assegurada a ampla maioria dos peemedebistas em favor da reeleição de Marco Maia (PT-RS). Oficialmente, Alves tem dito que o candidato do PMDB é Maia. Mas, se o deputado gaúcho perder, o acordo para eleger Henrique Eduardo Alves estará desfeito.
No Senado, tudo parece mais tranquilo. José Sarney será candidato à reeleição e, pelo menos a princípio, não há quem queira enfrentá-lo. A esperança do PT ; e de Alves ; é a de que a serenidade dos senadores termine contaminando os deputados. (DR)