Politica

Dilma convoca Palocci, Bernardo e Padilha para aliviarem tensão com o PMDB

postado em 05/01/2011 08:00
Logo na primeira semana de governo, a presidente Dilma Rousseff escalou os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci; das Comunicações, Paulo Bernardo; e da Saúde, Alexandre Padilha, para fazer a negociação com o PMDB diante da crise derivada da montagem dos cargos de segundo escalão. A tríade foi formada num momento em que o PT cobra do titular da Secretaria de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, responsável pela negociação política do Palácio do Planalto, atuação mais firme para não ser engolido e jogado para escanteio pelas circunstâncias da turbulência que se anuncia no Congresso.

Os três ministros vão capitanear as conversas com lideranças do PMDB na Câmara e no Senado, atuando como bombeiros para diminuir a tensão entre parlamentares dos dois partidos. Vão discutir também os espaços a serem ocupados na máquina administrativa e evitar embaraços na eleição da Presidência da Câmara ou na votação do novo salário mínimo.

A convocação ocorreu depois que o vice-presidente Michel Temer sugeriu que as indicações no segundo escalão fossem interrompidas para dar espaço para as conversas entre as duas legendas. A proposta, levantada na segunda-feira, na primeira reunião de coordenação de governo, foi apoiada por Palocci e chancelada por Dilma.

O temor do governo é que a presidente fique refém da disputa entre os dois partidos e não consiga se desvencilhar das demandas, como fazia Luiz Inácio Lula da Silva. ;O Lula era diferente. Deixava os partidos se estapearem por cargos, depois ia para o povo para capitalizar e saia como bonzinho;, afirmou um petista.

Há uma apreensão entre parlamentares petistas sobre o jogo de cintura de Dilma para encerrar a crise. A limpeza nos Correios, as indicações do setor elétrico, como Flávio Decat para a Eletrobras, tiveram aval da presidente. Ela determinou aos ministros que postos nas estatais devem ser ocupados por técnicos experimentados e não loteados por partidos.

Pressões continuam
;A pessoa não pode ser demitida só porque não tem broche do PT;, reclamou Henrique Alves, depois de se reunir com Luiz Sérgio. O peemedebista ficou por cerca de 40 minutos no gabinete de Sérgio, no quarto andar do Palácio do Planalto, para discutir a crise no segundo escalão. Apesar da ordem de interromper as indicações, os petistas continuam ávidos por cargos. O ex-ministro da Pesca Altermir Gregolim ficou de pires na mão no gabinete de Sérgio porque gostaria de ser indicado para a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ou a alguma diretoria da Eletrosul.

Com o clima conflagrado, sobra reclamações sobre todos. Os petistas reclamam da atuação de Michel Temer, que, segundo eles, divide-se entre a atuação como vice-presidente da República e dirigente partidário. Já se começa a falar até da retomada da divisão do PMDB entre grupos da Câmara e do Senado. O alvo da insatisfação é o senador Valdir Raupp (RO), novo presidente da legenda. ;Fomos conversar com o Raupp e ele disse que a demanda era com o pessoal da Câmara. Isso significa que ele não tem procuração para decidir sobre o partido;, disse um petista.






Entrevista - Fernando Bezerra Coelho

Chegada a ;hora de renovar;
; Denise Rothenburg
; Leonardo Cavalcanti

Em entrevista ao Correio, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, avisa que a direção dos órgãos vinculados será trocada para promover uma maior interação com a Secretaria Nacional de Irrigação, o novo braço do ministério que ficará responsável pela definição das políticas do setor. A mudança atingirá o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).

2011 será de aperto financeiro. Em termos de recursos, dá para concluir a obra da transposição?
Hoje, a obra tem uma execução, do ponto de vista financeiro, de 50%, e 35% físico. Para cumprir o cronograma, precisaremos de um orçamento alentado no ministério. Para concluir o eixo Leste em 2011 e o Norte no fim de 2012, estimamos uma necessidade de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões.

Mas é quase todo o orçamento do ministério para este ano;
Estamos falando em dois anos, R$ 2,5 bilhões por ano. E há outros investimentos na área de recursos hídricos. No PAC I e II, estão previstos recursos da ordem de R$ 14 bilhões.

E as chuvas? Todo o ano é uma tragédia anunciada. O que dá para fazer para que, em 2012, não haja?
Na verdade, é preciso investir muito mais em prevenção do que na mitigação dos prejuízos. Vamos nos articular com o Ministério de Ciência e Tecnologia, com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), para criar um sistema de alerta e identificação de áreas de risco que permitam ao governo federal, sob a articulação da Integração, programar intervenções em encostas e morros.

Uma das guerras que o senhor vai enfrentar já é a das nomeações. Henrique Eduardo Alves disse hoje ao Correio que deseja a permanência do diretor do Dnocs;
Ele me comunicou isso e eu comuniquei que a nossa orientação é promover a renovação dos quadros. A Presidência do Dnocs será constituída com a participação do PMDB. Vamos ouvir o Rio Grande do Norte, o líder Henrique Eduardo Alves, o PMDB, mas é importante que se entenda a hora de renovar os quadros.

O ministério sempre foi muito político. Como se faz essa separação de uma parte política de um trabalho técnico?
Sou político também, a política feita de forma correta valoriza o serviço público. (;) No caso da composição dos quadros, vamos querer qualidade, competência e transparência, e faremos essas escolhas com a anuência da área política. É chegado o momento de renovar. Isso não é juízo de valor sobre o trabalho que foi feito, realizado. Estamos diante de uma situação em que estamos criando a Secretaria Nacional de Irrigação, que vai articular a política nacional de irrigação, cujos órgãos de execução são o Dnocs e a Codevasf. É importante que um novo grupo dirigente possa alcançar as instâncias de decisão. Portanto, vai haver renovação da Codevasf e do Dnocs.






A ordem é inflacionar metas
; Josie Jeronimo
A presidente Dilma Rousseff tem orientado seus ministros que não se prendam ao possível e estabeleçam metas acima das possibilidades orçamentárias para alcançarem pelo menos uma parte das promessas. O método de Dilma ganhou o apelido de teoria do arco e flecha. De acordo com o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o enxugamento dos gastos foi sinalizado, mas Dilma já avisou que é preciso fazer mais com menos. ;A presidenta sempre diz que meta é que nem um alvo em arco e flecha, tem que mirar mais alto para acertar.;

Seguindo a sua teoria, a presidente elegeu Saúde, Justiça, Educação e Comunicações como as áreas com maior número de metas inflacionadas. Depois de mirar mais alto e prometer entregar 6 mil creches, criar uma rede de prevenção ao câncer e de atendimento a dependentes de drogas durante a campanha, caberá ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acertar um alvo: reduzir o tempo de espera à assistência médica. A construção de 500 unidades de pronto atendimento e 6 mil creches também fazem parte da ;inflação; das promessas.

Na Educação, Fernando Haddad deve se concentrar em ampliar o ProUni para o ensino médio e em reduzir o analfabetismo, mas não terá margem para incrementar projetos que envolvam investimentos orçamentários. Paulo Bernardo, que trocou o Planejamento pelas Comunicações, é o responsável pela mira mais alta de Dilma: a universalização da internet banda larga. A pasta esbarra na falta de interesse da iniciativa privada em atuar em regiões com poucos assinantes. A Telebrás será acionada para atuar nessas áreas. A restruturação da Empresa de Correios e Telégrafos é outro alvo do governo.

Para o Ministério da Justiça, comandado por José Eduardo Cardozo, a promessa de levar as Unidades de Polícias Pacificadoras (UPPs) a todas as regiões do país pode ser concretizada pela ação articulada entre estados e governo federal. Os ministérios do Desenvolvimento Social e de Ciência e Tecnologia também estão no bojo dos projetos inflacionados, mas os titulares recebem menos pressão, até agora. Diante da sinalização de cortes e redução de gastos, alguns ministros já falam em ampliar as Parcerias Público-Privadas.

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