Ivan Iunes
postado em 06/01/2011 08:00
;As pessoas não arregaçam as mangas, participam da eleição e depois viram fantasmas. Elas são de carne e osso. O governo é nosso também. O PMDB deseja que isso fique claro até para que possamos evitar problemas no Congresso;. O alerta, embora dito de forma elegante e com a voz tranquila, foi feito em uma conversa do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), com os ministros da Casa Civil, Antônio Palocci, e o de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Para bons entendedores, estava claro: ou o PMDB era bem tratado ou o troco viria na eleição do petista Marco Maia para a Presidência da Câmara e nas votações importantes, como a do salário mínimo.O encontro fez PMDB e PT fecharem uma ;trégua; de 10 dias. Após o período, os peemedebistas estarão de volta a Brasília para ver se o combinado foi cumprido. Dentro do acerto está, por exemplo, a manutenção de indicados do PMDB em cargos-chave, caso do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
A conversa se deu pouco antes do jantar que reuniu a cúpula do PMDB, na noite de terça. Alves jurou fidelidade ao projeto da reeleição de Marco Maia para a Presidência da Câmara. Também disse que a discussão do mínimo e a proposta de acrescer mais R$ 20 aos R$ 540 concedidos pelo governo, passando o salário para R$ 560, nada tem a ver com as mudanças no segundo escalão que desagradaram à legenda e abriram a primeira crise entre os partidos ; desconfiança que só fez crescer nas 72 horas depois da posse da presidente, Dilma Rousseff.
Palocci pediu calma aos peemedebistas e disse a Alves que não havia motivos para preocupação. Garantiu que Elias Fernandes ficará no Dnocs ; área agora sob a tutela do PSB. Palocci e Luiz Sérgio acertaram que não haveria nomeação sem aviso prévio. Ficaram ainda de definir critérios para trocas de comando nos escalões do governo. Ontem, em São Paulo, o vice-presidente, Michel Temer, reconheceu que há forte disputa por cargos, mas entoou o coro da concórdia, principalmente em relação ao mínimo. ;O PMDB só fará aquilo que seja compatível com as possibilidades do erário. Fora daí, o PMDB não votará contra o governo.;
Contraponto
Apesar da trégua anunciada, ambos ; governo e PMDB ; saíram desconfiados. No governo, há receio de que Alves não segure o PMDB em torno de Maia e do mínimo de R$ 540, especialmente depois das declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que deu a entender que prevaleceria a visão do Executivo.
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, reagiu ao ministro. Ameaçou apresentar Proposta de Emenda Constitucional (PEC) concedendo à tramitação dos vetos presidenciais o mesmo rito das medidas provisórias. Se os vetos também trancassem a pauta, a exemplo das MPs, o Executivo ficaria com pés e mãos atados. ;Existem centenas de vetos na fila e o Executivo já se acostumou ao fato de que veto não se vota. Isso precisa mudar, até para respeitarem o Congresso. Mas, é claro, só valeria para os novos vetos;, defendeu Cunha.
O governo receia o poder de articulação dos peemedebistas. Por isso, há quem diga ser inevitável negociar um novo valor do mínimo. ;As lideranças da base têm mais ligação com o PMDB do que com o PT. Se o PMDB tiver posição livre, acredito que a gente acompanhe;, avalia o senador Ciro Nogueira (PP-PI). ;A eleição da Câmara, aliás, tem tudo para ser uma tragédia anunciada. O governo teria mais tranquilidade na mão do Aldo (Rebelo);, resume Nogueira, que observa de longe a movimentação dos peemedebistas no Congresso.
Quadros
Até o dia 18, data da nova reunião entre as cúpulas partidárias, ninguém tira o olho do Diário Oficial da União, em especial da Seção 2, onde saem as nomeações. A crise entre PT e PMDB vem numa crescente desde a transição, quando Dilma tirou do partido o Ministério das Comunicações, o da Saúde e o da Integração. Ainda que insatisfeito, o PMDB não reagiu de primeira. Mas bastou mexer nos cargos de segundo escalão para que o partido demonstrasse insatisfação. O PMDB tem a certeza de que o PT age para reduzir seu espaço de poder. E vai reagir como puder para preservar seus domínios em quadros do segundo escalão, que juntos têm orçamento de mais de R$ 20 bilhões.
Carona indigesta
A bancada sindicalista pegou carona na crise e engatou na bandeira do aumento salarial do PMDB a defesa do mesmo índice de reajuste do vencimento para aposentadorias de quem ganha mais de um mínimo. Há ainda uma série de aumentos em fase de negociação na Câmara, que voltam com força em fevereiro. Se a insatisfação do PMDB contaminar outros partidos, Dilma pode ter problemas para represar essas propostas no Congresso.
Traição pelo jornal
A primeira baixa sentida pela bancada foi a saída de Alberto Beltrame, indicação do PMDB do Rio Grande do Sul, da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS). Os deputados reclamam que só souberam pelos jornais da substituição dele por Helvécio Magalhães, secretário de Planejamento de Belo Horizonte. Também pela imprensa, a legenda descobriu que o ministro Alexandre Padilha pretendia trocar a direção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), hoje ocupada por Faustino Barbosa Filho, indicado pelo PMDB.