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Petista José Genoino pode ser o escudeiro de Jobim no Ministério da Defesa

Com bom trânsito entre as Forças Armadas, deputado paulista, que não conseguiu se reeleger, deve receber indicação para cargo no Ministério da Defesa

postado em 06/01/2011 08:00

O deputado José Genoino foi guerrilheiro durante a ditadura militar e chegou a ser preso na década de 1970O PT quer emplacar o deputado José Genoino (PT-SP), que não conseguiu se reeleger, para um posto no Ministério da Defesa e conta com a boa vontade do titular da pasta, Nelson Jobim. São duas as opções: uma assessoria especial ou a Secretaria de Organização Institucional. Com bom trânsito entre os militares, Genoino tem atuado como interlocutor informal do ministro em assuntos diversos, como, por exemplo, a proteção dos campos de petróleo na camada pré-sal, a Comissão da Verdade sobre a regime ditatorial (1964-1985) e o Plano Nacional de Defesa.

Genoino ficou como segundo suplente na corrida pela Câmara dos Deputados e dificilmente conseguirá retomar a cadeira. Por isso, os petistas tentam encontrar algum posto para reabilitá-lo, um esforço que vem sendo feito desde que o parlamentar teve de renunciar à Presidência do PT, acusado de ser um dos mentores do mensalão em 2005 (veja memória).

Desde o escândalo, Genoino retraiu-se e saiu dos holofotes. No ano passado, entretanto, o partido delegou a ele a responsabilidade de representar a bancada nas votações em plenário. Mesmo nos bastidores, o deputado federal não age mais de maneira inflamada, como quando era uma das vozes mais ouvidas da oposição contra o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Ex-guerrilheiro que atuou no conflito do Araguaia (1972-1975), Genoino foi preso logo depois do início da incursão, em abril de 1972, sob codinome de Geraldo. Apesar disso, é um parlamentar bem visto entre setores das Forças Armadas.

Genoino foi um dos consultores de Jobim na elaboração do Plano Nacional de Defesa, que reforça o papel das Forças Armadas no controle de áreas de fronteira, no combate ao tráfico de drogas, na proteção ambiental e cria a figura do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, que figura acima na hierarquia dos Estados-Maiores de Exército, Marinha e Aeronáutica. O plano faz com que a Força Aérea (FAB) passe a ter poder de polícia para efetuar prisões em flagrante, poder que não tinha até o projeto ser aprovado pelo Congresso, em agosto do ano passado.

Caças
A principal definição do Ministério da Defesa no governo da presidente Dilma Rousseff, ex-guerrilheira, como Genoino, é a compra de 36 caças para a FAB, numa transação que pode chegar a R$ 15 bilhões. A decisão sobre a compra das aeronaves vem sendo adiada há anos. Três empresas disputam a venda: a francesa Dassault, fabricante do Rafale; a norte-americana Boeing, que ofereceu o modelo F-18 Super Horne; e a sueca Saab, responsável pelo Grippen. O governo tem uma clara preferência pela tecnologia francesa, apesar de o valor dos suecos estar bem abaixo dos concorrentes.

Polêmica
A criação da Comissão da Verdade tramita no Congresso Nacional e faz parte do 3; Programa Nacional de Direitos Humanos. O órgão tem como objetivo a apuração de casos de violação de direitos humanos durante o regime militar e apontar os agentes a serviço do Estado responsáveis pelos atos. Os militares temem que a comissão ganhe viés revanchista e tendencioso.

Dilma Rousseff se reúne hoje com ministros das áreas econômica e socialErradicação da miséria na pauta
; Igor Silveira
A série de encontros entre os ministros recém-empossados e a presidente Dilma Rousseff continuou ontem. A petista recebeu, pela agenda oficial, Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário; Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e Guido Mantega, da Fazenda ; o único chefe de pasta com gabinete fora do Palácio do Planalto que esteve com Dilma duas vezes desde que ela assumiu o cargo. Hoje de manhã, ela tem reunião com os ministros das áreas econômica e social para discutir a principal promessa da campanha presidencial: a erradicação da miséria.

Depois de encontrar todos os ministros em compromissos individuais e de marcar a primeira reunião ministerial, que será realizada em 14 de janeiro, Dilma Rousseff pretende promover um evento com todos os governadores do Brasil ; os aliados e os da oposição ; e com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para falar sobre segurança pública.

Nesse primeiro momento, a presidente tem ouvido as ideias de cada um dos ministros, além de saber da atual situação dos ministérios, e tem cobrado um diagnóstico técnico das áreas. No caso do titular da Educação, Fernando Haddad, por exemplo, que estava na agenda de terça-feira, foi discutido o projeto de educação em tempo integral para estudantes do ensino médio. Dilma também tem pedido aos integrantes do governo para manterem a discrição. Por isso, os ministros têm evitado dar entrevistas depois das reuniões.

Uma das poucas novidades do Palácio do Planalto, ontem, é a espera pelo atual porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, que está de férias até o início de fevereiro, para que ele possa ser exonerado do cargo e dê lugar ao diplomata Rodrigo Baena.

Hoje, Dilma tem agenda marcada com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que foi mantida pela presidente no cargo.

MEMÓRIA
Protagonista do mensalão
Um dos protagonistas do escândalo do mensalão, José Genoino é apontado pelo Ministério Público como participante do núcleo político da organização criminosa, ao lado do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

No processo, Genoino foi denunciado por corrupção, acusado de negociar o pagamento a parlamentares da base aliada do governo Lula em troca de apoio político em votações importantes no Congresso Nacional. Em 2005, foi obrigado a renunciar ao posto de presidente do PT depois de ter sido descoberto que ele foi co-responsável por um empréstimo de R$ 2,4 milhões ao assinar sem ler um documento que autorizava a transação financeira, levado por Delúbio. Genoino afirmou, à época, que tomou a atitude confiando em seu antigo auxiliar.

O esquema do mensalão tem origem nas dívidas assumidas pelo PT na primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula Da Silva. Em 2002, os petistas concordaram em pagar R$ 10 milhões ao PL (hoje PR) pelo apoio. Esse repasse foi negociado por Delúbio e por José Dirceu, segundo acusação do presidente do PL à época, Valdemar Costa Neto. Para quitar parte do débito, os petistas pediram socorro ao publicitário Marcos Valério, que fez seguidos empréstimos e os repassou aos cofres partidários. O processo referente ao episódio ainda corre no Supremo Tribunal Federal. (TP)

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