postado em 06/01/2011 08:00
Um verdadeiro mercado de gabinetes acontecia na Câmara de quatro em quatro anos, quando os deputados não reeleitos negociavam a entrega do seu escritório nos anexos da Casa com os recém-eleitos. Os mais procurados, maiores e com banheiro, ficavam no anexo 4 da Casa. A negociata corria solta entre a eleição, em outubro, e a posse dos parlamentares, em fevereiro. Os que deixavam o mandato muitas vezes exigiam o aproveitamento de seus funcionários de confiança para entregar o gabinete. Outros faziam negociações não republicanas.Em janeiro de 1999, o então deputado Elias Murad (PSDB-MG) fez várias exigências para entregar o seu gabinete a um suposto interessado. Primeiro, pediu a contratação de três funcionários. Em seguida, acrescentou o nome da governanta que trabalhava no apartamento funcional onde morava, mas com salário pago com a verba de gabinete. Eram R$ 600 naquele ano, hoje, algo em torno de R$ 1,3 mil, levando em conta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC-A). ;É uma coisa extraordinária. Toma conta, lava, passa roupa. Está comigo há 12 anos;, propagandeou.
Entusiasmado, ofereceu também o imóvel funcional que ocupava, de propriedade da União: ;Está reformado e tudo;. Mas ele quis fechar um pacote completo: ;Agora, eu tenho uns aparelhos lá que são meus: um ar-condicionado... Isso dá, no máximo, em torno de R$ 800 (R$ 1,7 mil, hoje). Tudo, a televisão, o aspirador de pó, essas coisas;. O negócio não foi fechado porque o suposto comprador era, na verdade, um repórter.
No mesmo período, a então deputada Alzira Éwerton (PSDB-AM) também negociou a entrega do seu escritório, mas tentou empurrar junto a sua chefe de gabinete, com salário de R$ 2,5 mil (R$ 5,4 mil, hoje), e a própria filha, com renda de R$ 1,5 mil. Naquela época, não era vedada a contratação de parentes nos gabinetes. A farra acabou quatro anos mais tarde, quando foi instituído o sorteio para a distribuição dos imóveis. Mas as brechas para privilégios surgem a cada ano. (LV)