Politica

Férias? Só depois de assegurar o cargo comissionado na Esplanada

Temporada de disputa intensa pelos 21,8 mil postos comissionados na Esplanada faz com que grande parte dos funcionários deixe o descanso de lado para tentar garantir a vaga na estrutura federal

postado em 08/01/2011 08:00
Estacionamento lotado em pleno janeiro: A troca de guarda no comando de vários ministérios trouxe um cenário inusitado para a Esplanada em janeiro. O movimento em busca de cargos, que opõe PT e PMDB, aqueceu a disputa pelos 21,8 mil postos comissionados. Como resultado, boa parte dos servidores de livre nomeação preferiu adiar as férias para tentar segurar o cargo e deixou os ministérios à plena carga. Em contraste com os últimos anos, quando estacionamentos ficaram quase vazios, agora simplesmente não há vagas. ;Adiei as férias para a última semana do mês por receio de perder o cargo. Se ocorrer troca na chefia da coordenação em que trabalho, a possibilidade de sair é maior. Assim, prefiro manter a vigilância;, diz um servidor do Ministério da Ciência e Tecnologia que preferiu o anonimato para não arriscar de vez o cargo.

A corrida pelos postos de Direção e Assessoramento Superiores (DAS) na Esplanada pode até não ter o mesmo peso político dos de primeiro e segundo escalões. Mesmo assim, os salários, que variam de R$ 2.115,72 a R$ 11.179,36, provocam disputa tão acirrada quanto. Titular de um cargo DAS 2 na Integração Nacional, com salários de R$ 2.694,71, José Queiroz foi nomeado na cota do PMDB no governo Lula, na gestão de Geddel Vieira Lima. Como o atual ministro, Fernando Bezerra, é de outro partido, o PSB, o servidor, de 43 anos, acabou com o posto a perigo. ;O cargo de confiança demonstra a vinculação de uma pessoa a uma corrente política, mas como trabalho em área técnica, as possibilidades são maiores. Se for para sair é uma porta que se fecha e outra que se abre;, diz.

Até concursados, como Thaís, ficaram para não dar brecha a sustosA senha para que os comissionados não deixassem esfriar a cadeira partiu dos próprios ministros. Ainda durante o governo Lula, quem não tinha posição cômoda na Esplanada antecipou o período de descanso para arregaçar as mangas na eleição de Dilma Rousseff (PT). Dos cinco nomes que se engajaram, apenas Paulo Bernardo e Alexandre Padilha conseguiram se manter no cargo de ministro ; ainda que tenham sido deslocados para as Comunicações e a Saúde, respectivamente. Nilcéia Freire, antiga titular da Secretaria Especial de Políticas das Mulheres; Elói Ferreira, ex-ministro da Igualdade Racial; e Luiz Barreto, do Turismo, foram substituídos.

Saiu, perdeu
De olho no espírito de ;levantou, perdeu o lugar;, um servidor do Ministério da Ciência e Tecnologia que pediu para se identificar apenas como João está apreensivo pela troca de titular na pasta ; que passou do PSB para o PT. Nos últimos anos, sempre marcou férias para o alto verão. Agora, promete trabalhar, enquanto boa parte da família está na praia. ;Estou preocupado com essa mudança. Sempre acontecem alterações e por isso fiz a opção de ficar trabalhando até saber se serei mantido;, admite o funcionário, indicado por um amigo, com boas conexões políticas, para a função no ministério.

Embora atinja principalmente os comissionados, o vento de mudanças também mexeu com os concursados, titulares das chamadas funções. Servidora do Ministério da Saúde, Thaís Mendonça de Souza, 27 anos, trabalha no Departamento de Logística em Saúde. Mesmo com o vínculo mais consolidado com a pasta, preferiu manter o estado de espera em janeiro, de olho nas substituições promovidas pelo novo ministro, Alexandre Padilha. ;Espero ficar, a não ser que apareça uma pessoa mais apta para a função. A insegurança é maior entre os colegas que estão em setores mais políticos dentro do ministério;, comentou.

Festa da ;flanela;
Se traz insegurança aos comissionados, a troca de titulares nos terceiro e quarto escalões faz a alegria dos autônomos. Com estacionamentos abarrotados, os flanelinhas, que costumam colecionar prejuízos a cada início de ano, melhoraram o rendimento do período em 50%. ;Quase ninguém entrou de férias. Estão com medo de perder emprego. Até no carnaval, que o movimento é fraco, promete. Este ano a coisa está boa;, comemora Joelito Coelho, 32 anos, que faturou R$ 250 na primeira semana do mês vigiando e lavando carros.

A partilha
Cargo Quantidade Remuneração

DAS 1 6.983 R$ 2.115,72

DAS 2 6.058 R$ 2.694,71

DAS 3 4.212 R$ 4.042,06

DAS 4 3.346 R$ 6.843,76

DAS 5 1.039 R$ 8.988

DAS 6 209 R$ 11.179,36

Fontes: Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento e Lei Orçamentária Anual 2011

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