Ivan Iunes
postado em 09/01/2011 08:00
A disputa deflagrada pelos cargos no segundo escalão do governo federal abriu a porteira para pelo menos seis políticos alinhados ao Palácio do Planalto, que estavam à deriva desde a derrota nas urnas, em outubro. Depois de não conseguirem se eleger governador, senador ou deputado federal, todos buscam um cargo, o mais próximo possível da presidente Dilma Rousseff com o intuito de se manter em evidência no cenário político e não ter de voltar aos estados de origem de mãos abanando.O posto mais cobiçado pela bloco dos ;à deriva; é o de subchefe de Assuntos Parlamentares, espécie de sombra do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. A pasta será responsável por auxiliar o titular nas demandas do Legislativo. Um dos cotados para o posto é o deputado Paulo Rocha (PT-PA) ; que renunciou ao mandato em 2005 para fugir da cassação em pleno fervor do escândalo do mensalão. Sem ter conseguido a eleição para senador, ele diz que deseja permanecer no estado. ;Meu capital político está no Pará, por isso a minha preferência é por permanecer aqui;, afirmou o petista. Mesmo que não desembarque no 4; andar do Palácio do Planalto, continuar em sua base política não significa ficar de fora da máquina federal. O cargo que ele realmente almeja é um posto na regional do Pará da Eletronorte.
O posto de ajudante de Luiz Sérgio também é cobiçado por outro petista: o deputado federal Carlos Abicalil (PT-MT), que também não conquistou uma cadeira no Senado. Se não conseguir, ele aceita um cargo de confiança no Ministério da Educação, de preferência, um com destaque. Para se ter uma ideia da sanha pelos cargos comissionados, no mesmo dia da posse da presidente Dilma, a conversa que mais se ouvia nas rodas dos políticos era: qual DAS estava aberto e disponível nos ministérios. A sigla significa Direção e Assessoramento Superior, um mero jargão para designar os postos de livre nomeação.
Sábado com a família
; A presidente Dilma Rousseff passou o sábado na residência oficial da Granja do Torto. Sem compromissos oficiais, ela aproveitou para descansar e para curtir a família. A filha da presidente, Paula, e o neto, Gabriel, que moram em Porto Alegre, estão passando a semana em Brasília. A agenda da presidente prevê para hoje mais um dia sem compromissos oficiais. Segundo a assessoria do Planalto, ela ficará na Granja do Torto.
Discurso ensaiado
Um exemplo do desespero dos náufragos neste momento de preenchimento da máquina foi o discurso ensaiado pelo ex-ministro da Pesca Altemir Gregolim. Na tarde de terça-feira, o Correio testemunhou a conversa na antessala de Luiz Sérgio ensaiada pelo petista. Ele conversava com quem quisesse ouvir que gostaria de ocupar a Presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ou uma diretoria da Eletrosul. ;A Conab é a minha área de atuação, mas se não der eu volto para a iniciativa privada, fazer o quê? Mas se bem que tem a Eletrosul também e o meu currículo é todo na área elétrica;, ponderou Gregolin com políticos de livre trânsito no quarto andar do Planalto.
Essa movimentação é estimulada pelos partidos. O PDT, por exemplo, quer porque quer emplacar o candidato derrotado ao governo do Paraná Osmar Dias na Presidência de Itaipu. A partir do mês que vem, o senador deixa o mandato. O deputado federal Dagoberto Nogueira (PDT-MS), que saiu derrotado da briga pelo Senado, também está de olho na estatal vista pelos políticos como o coração de mãe da máquina pública ; aquele que sempre cabe mais um: a Eletrosul. ;São pessoas com capital político considerável, ex-senadores, governadores, que o partido tem de alocar no segundo escalão, não pode deixar perder isso;, defendeu o deputado André Vargas (PT-PR), sobre as indicações do partido.
Alguns políticos rejeitam as mexidas patrocinadas pelos partidos. Pelo menos é o que diz o deputado Pedro Wilson (PT-GO). Ele queria ; jamais foi cogitado pela presidente Dilma ; ser o próximo ministro de Direitos Humanos. Como a intenção fez água, diz que não quer um DAS no Ministério da Educação. Os aliados do deputado federal por Goiás ainda tentam convencê-lo a mudar de ideia. (TP e II)