Alice Maciel
postado em 17/01/2011 08:53
Os eleitores, por meio do voto e da Lei Ficha Limpa, fizeram uma limpeza na Câmara dos Deputados. A nova face do Congresso, no entanto, não recebeu alvejante suficiente. Uma parcela considerável dos fichas sujas sobreviveu às urnas, eleitos mesmo com as denúncias de envolvimento em uma lista de escândalos que vai da Máfia dos Sanguessugas à Operação João de Barro. Tiveram ainda a contribuição da Justiça Eleitoral, que afrouxou a Lei da Ficha Limpa e liberou a candidatura de políticos barrados pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).Com 101.639 votos, o deputado federal reeleito João Magalhães (PMDB-MG) retorna à Câmara, mesmo com as acusações de envolvimento em dois dos maiores escândalos de corrupção dos últimos oito anos: a Operação dos Sanguessugas que estourou em 2006 atingindo 65 parlamentares acusados de usar emendas na compra de ambulâncias superfaturadas; e a Operação João de Barro, realizada pela Policia Federal em junho de 2008. O peemedebista está entre os suspeitos de receber propinas em troca da apresentação de emendas parlamentares em favor de municípios mineiros. Neste mesmo escândalo, aparece o nome do deputado federal Ademir Camilo (PDT-MG), também reeleito com 72.967 votos. Os dois políticos negam participação nos escândalos e dizem que foram injustiçados pela PF.
Com o mesmo discurso ;politiquês;, o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) classificou como levianas as acusações de que teria participado da Máfia das Ambulâncias ; mesmo tendo sido apontado como um dos líderes do esquema e beneficiado com R$ 631 mil, o segundo maior montante entre todos os congressistas envolvidos. A desculpa convenceu o eleitorado de Capixaba, que terminou a eleição com mais de 52 mil votos.
Em alguns casos, mesmo a condenação pelos TREs e a ficha comprovadamente maculada fez com que a população repensasse o voto na hora de ir às urnas. O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PR-RJ) teve recorde de votos no estado, mesmo tendo sido condenado pelo TRE-RJ por abuso de poder econômico nas eleições de 2008. Em dezembro, o TSE ordenou que o TRE-RJ refizesse o julgamento por erro processual.
Outra surpresa de fim de ano para os brasileiros foi a liberação da candidatura de Paulo Maluf (PP-SP), reeleito deputado federal com quase 500 mil votos em São Paulo. O paulista teve o registro negado devido a uma condenação, de abril do ano passado, por compra superfaturada de frangos para a Prefeitura de São Paulo, em 1996. Acabou liberado pela Justiça. Decisões semelhantes afrouxaram a aplicação da Ficha Limpa no caso do deputado federal Pedro Henry (PP-MT). Declarado inelegível pelo TRE-MT por ter sido condenado em 2006 por compra de votos, ele ainda é réu no caso do mensalão. Também barrados pelos TREs, Beto Mansur (PP-SP), Augusto Maia (PTB-PE) e Manoel Salviano (PSDB-CE) também conseguiram uma brecha da Justiça para se elegerem.
A diretora do Movimento de Combate à Corrupção (MCCE), Jovita José Rosa, reclama das decisões judiciais que abrandaram a Lei da Ficha Limpa. ;A Justiça está agindo quase que politicamente. Estão liberando políticos que têm uma ficha suja que não é segredo para ninguém;, afirma. Para o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Velloso, no entanto, os tribunais estão apreciando os recursos com mais rigor, cautela e calma. ;Os casos estão sendo analisados coma cabeça no lugar;, defende.