Igor Silveira
postado em 27/01/2011 08:00
A prévia para a eleição que definirá o comando do Democratas pelos próximos quatro anos acontecerá na escolha do novo líder do partido na Câmara, na segunda-feira, véspera do início da nova legislatura do Congresso. Na ocasião, os grupos encabeçados pelo atual presidente da legenda, o deputado Rodrigo Maia (RJ), e o ex-senador Jorge Bornhausen (SC) vão medir forças. Enquanto o parlamentar fluminense apoia ACM Neto (BA), que já foi líder do DEM e ocupou a cadeira de corregedor da Casa na última composição da Mesa Diretora, o catarinense aposta as fichas em Eduardo Sciarra (PR), que entra no pleito substituindo Marcos Montes (MG).
A desistência de Montes foi anunciada na segunda-feira por meio de nota. De acordo com o texto, o deputado culpa Rodrigo Maia por tentar semear a discórdia na ala mineira da sigla e, para evitar divergências entre os conterrâneos, Montes aponta Sciarra como a melhor solução. A troca de candidatos passa, sim, pela questão regional, mas tem outro fator determinante: a falta de apoio da bancada de Minas Gerais, que não daria votos para eleger Montes, e o receio de se indispor com o senador eleito Aécio Neves. Mais. Eduardo Sciarra, de perfil conciliador, transita bem entre os dois grupos do DEM e teria mais chance de vitória que o correligionário mineiro.
A poucos dias da votação, os dois candidatos descartam qualquer tipo de acordo e serão mesmo submetidos ao crivo dos 43 deputados eleitos pelo partido para a 54; Legislatura da Câmara. Tanto os aliados de Sciarra quanto os de ACM Neto cantam vitória pelos corredores da Casa e garantem que os postulantes não entrariam na disputa sem a certeza do sucesso.
Oficialmente, os concorrentes pregam respeito um ao outro, fazem elogios mútuos e garantem que, ao término da disputa, tentarão manter a unidade do partido. ;Caso eu seja eleito, vou trabalhar para evitar que os prejuízos ao DEM sejam ainda maiores por conta dessa disputa;, afirma Sciarra que, segundo cálculos de aliados, venceria o páreo por uma diferença de quatro ou cinco votos.
ACM Neto também está confiante na vitória. ;O deputado Sciarra é um grande quadro do partido e não tenho motivo algum para falar qualquer coisa negativa a respeito dele. Ao contrário. O importante é que o DEM busque uma unidade depois dessa decisão;, diz.
Em busca de força
A conquista da liderança na Câmara significa bem mais que o desenho da nova configuração do DEM. Para grande parte dos integrantes da sigla, o resultado tende a definir o futuro do partido. Com um time bem mais modesto que na época da gestão de Fernando Henrique Cardoso à frente da Presidência da República ; o DEM ostenta, em 2011, um quadro formado por dois governadores, sete senadores, 43 deputados federais e um prefeito de capital ;, a legenda tenta se reerguer. O deputado Rodrigo Maia, que se tornou presidente da legenda com o apoio do próprio ex-senador catarinense Jorge Bornhausen, agora adversário, quer o senador Agripino Maia (RN) no comando do DEM e tem o apoio de ACM Neto e do tucano Aécio Neves.
A ala de Bornhausen cogita o nome do ex-vice-presidente Marco Maciel (PE) para vencer a eleição de março. Maciel é querido entre os integrantes do DEM e tem bom trânsito na legenda. No entanto, é justamente o temperamento ;boa praça; de Maciel que deve fazer com que o pernambucano não aceite o convite para concorrer ao pleito.
Seja qual for o candidato do político catarinense, em caso de vitória o maior beneficiado será o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Nos bastidores, ventila-se um acordo que, com o apoio de José Serra (PSDB-SP), o êxito na disputa pela Presidência do DEM resultaria na mudança de Kassab para o PMDB, com o objetivo de herdar o espólio de Orestes Quércia (PMDB-SP), que morreu no fim do ano passado, e manter o controle no estado. Com o prefeito de São Paulo migrariam, também, seis dos oito deputados paulistas e, ainda, segundo o que teria sido acordado, o DEM não reivindicaria os mandatos pela lei da fidelidade partidária. Enquanto a segunda-feira não chega e, com ela, a decisão pela liderança do DEM na Câmara, os parlamentares continuam costurando apoios e tentando manter o maior número possível de aliados como estratégia de sobrevivência.
Deputado Eduardo Sciarra (DEM-PR) fala sobre disputa pela liderança na Câmara