Ivan Iunes
postado em 04/02/2011 09:30
A presidente Dilma Rousseff começou a faxina no setor elétrico pela confirmação do nome do engenheiro Flávio Decat para presidir as centrais elétricas de Furnas. A intenção dela, já anunciada anteriormente aos aliados, é trocar todos os dirigentes das empresas do setor elétrico, responsáveis por investimentos de R$ 8,1 bilhões. A nomeação de Decat passou por cima das pressões do PMDB na Câmara para manter Furnas sob sua tutela. Além disso, reabriu a divisão interna entre os peemedebistas da Câmara e os do Senado e criou mais uma crise entre o governo e a segunda maior bancada governista. A confusão chegou ao ponto de o Palácio do Planalto segurar ontem outras nomeações de integrantes do setor elétrico.Os deputados do PMDB desconfiam que a escolha de Decat foi feita pelos senadores do partido ; em rota de colisão com a parcela do partido na Câmara. Só que o nome foi chancelado por Dilma, amiga do engenheiro, com quem trabalhou nos tempos em que era ministra de Minas e Energia. Por ser do setor, Dilma quer escolher pessoalmente os novos dirigentes das estatais e não deixará que os partidos indiquem pessoas que ela não conhece para uma área em que milita e sabe quem são os melhores profissionais. ;Eu e Dilma queremos Decat. Não há nada contra ele;, resumiu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
Lobão anunciou o novo presidente de Furnas antes mesmo de uma reunião com o vice-presidente, Michel Temer, que passou o dia tentando acalmar seus companheiros de partido. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não admitiam perder o posto. Eles foram responsáveis pela indicação de Carlos Nadalutti, antecessor de Decat. Num encontro que varou a madrugada de ontem, Alves chegou a esticar a corda por conta da troca de comando em Furnas. Bateu na mesa e ameaçou romper com o governo caso o Palácio do Planalto não aceitasse uma indicação de Cunha.
O líder do PMDB na Câmara voltou a se encontrar com caciques da legenda, ontem à tarde, num hotel de Brasília, praticamente ao mesmo tempo em que o Planalto anunciava Decat. No encontro, que durou cinco horas, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), tentava acalmar os peemedebistas irritados. Com planos de concorrer à Presidência da Câmara daqui a dois anos, Alves foi aconselhado por alguns líderes do partido a não aumentar o tom publicamente, evitando novo desgaste por conta de cargos. A hora do troco dado pelos deputados peemedebistas, entretanto, não deve tardar, segundo avaliação de parlamentares da própria legenda.
Por pouco, Dilma não anunciou também o novo presidente da Eletrobras. O nome indicado para o cargo é o do ex-dirigente da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) José da Costa Carvalho. Ela decidiu esperar para resolver melhor o imbróglio com o PMDB. O atual presidente do sistema Eletrobras, José Antônio Muniz, protegido do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ainda tem futuro indefinido, mas os senadores tentam emplacá-lo na Eletronorte.
Funasa
Dando sequência ao ;day after; da eleição da Câmara, que voltou a esquentar as nomeações do segundo escalão, Dilma também bateu o martelo sobre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Alvo de disputa entre PT e PMDB, o órgão será gerido por Ruy Gomide, ex-superintendente em Goiás. Ele fazia parte de uma lista tríplice elaborada pelos peemedebistas e que foi entregue ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
O PMDB considera a escolha de Gomide uma ;barriga de aluguel;, ou seja, apresentada como da cota do partido, mas, na verdade, não é. A presidente também convidou o presidente do Banco Safra, Rossano Maranhão, para assumir a Infraero, dona de um orçamento para investimentos de R$ 2,2 bilhões. Mas há duvidas se Maranhão deixará o alto salário do banco para voltar ao serviço público.
Vaccarezza, sobre o mínimo: ;PMDB estará 100% conosco;
; O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), líder do governo na Câmara, refutou ontem a hipótese de que o reajuste do salário mínimo ultrapasse os R$ 545 ; valor estipulado pela equipe econômica do Planalto e motivo de atritos com as centrais sindicais. O parlamentar afirmou que a base do governo votará unida, incluindo o PMDB, insatisfeito com a distribuição de cargos promovida pela presidente Dilma Rousseff e com a possibilidade de haver cortes nas emendas parlamentares. ;O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), garantiu que o partido estará 100% conosco;, afirmou Vaccarezza.
Engenheiro da ;pacificação;
; Alessandra Mello
; Zulmira Furbino
Novo presidente de Furnas, Flávio Decat promete um novo modelo de gestão para a estatal, que de uns tempos para cá deixou as páginas de economia e passou para o noticiário político por causa de disputas partidárias e denúncias de chantagem e irregularidades envolvendo a empresa. ;Minha gestão será profissional, tranquila e pacífica;, afirmou Decat, em entrevista ao Correio, após o anúncio feito pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
Decat, entretanto, não quis comentar a polêmica envolvendo a disputa pela função nem as novas nomeações para outras diretorias da empresa, também cobiçadas na briga por cargos dentro da base governista. Lobão informou ontem que todos os diretores da estatal colocarão seus cargos à disposição e que os novos nomes serão discutidos em conjunto com ele e o novo presidente da empresa e, depois, as sugestões serão submetidas ao crivo de Dilma.
Executivo respeitado no setor elétrico, a indicação de Decat contou também com o aval do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e do próprio Lobão. Segundo o ministro, Decat é um técnico de confiança da presidente Dilma, com passagem pela Eletrobras durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ex-diretor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Decat é considerado por funcionários da estatal mineira um executivo com ;uma capacidade de trabalho fantástica;. Foi na gestão dele, como diretor de finanças, que a Cemig iniciou o processo de aquisições que a levaria ao posto de uma das principais concessionárias de energia do país. Ele ainda é apontado como um dos principais responsáveis pela recuperação de um crédito de R$ 3 bilhões que a Cemig detinha junto ao Estado, resultado de uma dívida decorrente da Conta de Resultados a Compensar (CRC), que remunerava as empresas de energia por não reajustarem os preços das tarifas e, com isso, impedir a escalada da inflação.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Vitória do Planalto
Com a nomeação de Flávio Decat para Furnas, Dilma Rousseff decreta o fim do reinado do PMDB do Rio de Janeiro ; leia-se do deputado Eduardo Cunha ; sobre a estatal. E volta a colocar uma barreira entre o PMDB do Senado, que tem ligações com o engenheiro, e o da Câmara, que se sentiu preterido.
A divisão do PMDB interessa ao governo, porque, enquanto os peemedebistas brigam entre si, o PT fica mais sossegado no governo e no Congresso, até que haja uma crise séria.
Pelas afirmações de Eduardo Cunha no Twitter, de que Dilma nomeia e demite quem quer, que não vai brigar e coisa e tal, e declarações de bastidores, o vice-presidente da República, Michel Temer, conseguiu segurar seu partido. Pelo menos por enquanto, o PMDB não ateará fogo ao que ainda detém no governo.
A reunião-extintor de ontem à tarde durou cinco horas e irá se estender em encontros e telefonemas nos próximos dias. Até porque, os senadores do PMDB também não estão lá muito satisfeitos. Eles tomaram um susto com a indicação de José da Costa Carvalho para a Eletrobras e tentam revertê-la. Ninguém tem dúvidas de que o troco do PMDB virá. Mas não será agora. Afinal, vingança é um prato que se come frio. (DR e II)