Igor Silveira
postado em 08/02/2011 09:09
O ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, colocou mais uma pá de terra sobre a esperança dos sindicalistas em rever o reajuste do salário mínimo deste ano. Após a reunião de coordenação de ontem, no Palácio do Planalto, Luiz Sérgio confirmou que a presidente Dilma Rousseff manterá o valor do piso em R$ 545 e não haverá antecipação do aumento previsto para 2012. Sem acordo entre o Palácio do Planalto e as centrais sindicais ; queriam a nova cifra fixada em R$ 580 ;, caberá ao Congresso finalizar a discussão, quando a matéria for apreciada. A votação nas duas Casas deve ocorrer até 30 de abril, pois a medida provisória que trata do reajuste do piso perde a validade nessa data. Até lá, os sindicalistas farão pressão sobre os parlamentares para que o valor seja revisto.Luiz Sérgio também confirmou ontem que o governo enviará ao Legislativo um projeto de consolidação da política de reajuste do salário mínimo nos mesmos moldes do atual, mas com a validade até 2014, diferentemente do que estava previsto até então. No ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a mandar ao Congresso uma proposta que valeria até 2023.
De acordo com o ministro, o prazo até 2023, estabelecido em conversas há pouco mais de três anos, tinha a possibilidade de alteração a partir de um acordo com os próprios sindicatos. ;Quando nós discutimos e estabelecemos a meta até 2023, os próprios sindicatos reivindicaram que em 2011 deveria haver uma renegociação. Até porque seria o início de um novo governo. Assim, para evitar mais um ponto de negociação, nós estabelecemos como 2014 o prazo para essa nova política;, explicou Luiz Sérgio, lembrando que o projeto enviado por Lula não chegou a ser aprovado.
Irritação
O discurso do governo irritou os líderes sindicais. Segundo algumas representações, a linha adotada por Dilma é dúbia: enquanto nas mesas de negociações com sindicalistas os ministros ainda não bateram o martelo sobre qualquer desses pontos do salário mínimo, integrantes do governo dão declarações à imprensa como se o assunto estivesse encerrado.
Segundo o secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Quintino Severo, as negociações ainda continuam, e isso ficou claro depois da reunião realizada em São Paulo, na semana passada, entre líderes de centrais sindicais e os ministros da Fazenda, Guido Mantega; do Trabalho, Carlos Lupi; e da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
;O ministro Luiz Sérgio nem estava no encontro da semana passada. Nós consideramos que esse processo com o Executivo ainda está em andamento. A CUT não fará acordo com o governo por um mínimo de R$ 545. Se essa situação persistir, vamos transferir o debate para o Congresso. O tema é muito sensível e tenho certeza de que, lá, a decisão não será assim, tão automática;, ponderou Severo.
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Problema na base
Denise Rothenburg
O maior problema para a presidente Dilma Rousseff no quesito salário mínimo é a sua própria base parlamentar. Na reunião de coordenação de governo ontem, os ministros comentaram que PT e PDT, por exemplo, sempre brigaram por valores mais generosos do que os concedidos pelo governo. E não será agora que vão querer deixar esse papel para a oposição.
Os tucanos vão insistir nos R$ 600 que o ex-candidato José Serra defendeu na campanha presidencial. Conforme antecipou o Correio, o senador Itamar Franco (PPS-MG) chamará Serra para embasar o discurso em defesa desse valor.
A base governista não quer ficar de patinho feio nessa história. Por isso, petistas, como o senador Lindbergh Farias (RJ), defendem uma antecipação do reajuste do ano que vem, quando as projeções indicam um salário mínimo superior aos R$ 600 sugeridos por Serra.
As centrais sindicais eram contra essa tese, mas, pelo andar da carruagem, há quem diga que é melhor conquistar agora um reajuste a ser descontado depois do que deixar a oposição como a estrela do show, mostrando que é possível pagar R$ 600, enquanto o governo quer dar R$ 545.