Politica

Concurseiros desaprovam congelamento dos concursos públicos

Embora alguns encarem o adiamento das seleções públicas como chance de se preparar melhor, a maioria lamenta a decisão

postado em 11/02/2011 08:00
O adiamento dos concursos públicos e das nomeações anunciado pelo governo vai alterar a rotina de milhares de candidatos em todo o Brasil. De um lado há os comemoram por conseguirem mais tempo de preparação para as provas. De outro, os lamentos de quem deixou o emprego e fez compromissos esperando a sonhada aprovação e o desânimo dos recém-aprovados que aguardam a convocação. O fotógrafo João Américo Filippi, 28 anos, foi classificado para o cadastro reserva do Ministério Público da União (MPU), que conta com projeto de lei sancionado para abrir 6.804 cargos até 2014. ;Eu estava na expectativa de começar a trabalhar, no máximo, agora em fevereiro;, contou Filippi, que começou a estudar para as seleções públicas em 2008.

Assim como Filippi, milhares de pessoas no país deixaram a carreira de lado para estudar. ;É uma situação desesperadora para uma pessoa como eu, que estou formada, não trabalho, me dediquei e, agora, fiquei sem perspectivas;, desabafou Isabella Mezzeth, 25 anos, que adiou o projeto de cursar uma especialização para prestar concursos. Isabella foi aprovada para o cadastro reserva da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além do MPU, e esperava ser nomeada em breve. ;Infelizmente, terei de esperar. A opção é continuar estudando e torcer para que haja novas seleções.;

A analista de sistemas Andrea de Oliveira, 33 anos, pediu demissão há um ano para estudar. Passou na prova do Ministério do Turismo ; que ofereceu 112 vagas ; e aguarda a nomeação. ;Fiquei preocupada, pois estava contando com essa convocação. Agora, quero fazer o concurso da Polícia Federal, que também está ameaçado, mas vou continuar estudando;, Andrea.

O anúncio de suspender as nomeações também deixou Adelson Viana, 28 anos, agoniado. Graduado em direito e concursado do Banco do Brasil, ele sonhava em migrar para sua área de formação. ;Passei para o cadastro reserva do MPU e tinha muita expectativa de ser nomeado em breve.; Viana diz ter desistido, inclusive, de estudar para outras seleções. ;Eu vou aguardar agora porque, pelo visto, as nomeações serão em número reduzido;, acredita. O matemático Leonardo Marinho, 31 anos, é servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas aguarda a nomeação para o Banco Central. ;Estava com esperanças de ser chamado ainda no primeiro semestre, mas, pelo visto, deve ficar para o segundo.;

Estudos
Embora compreensível para os especialistas, o comportamento de Viana e Marinho não é o mais indicado. Na opinião de Thiago Sayão, presidente do Complexo Educacional Damásio de Jesus, de São Paulo, os candidatos não podem diminuir o ritmo de estudos, pois a medida anunciada pelo governo não afeta as seleções estaduais e municipais. ;Sem dúvida, haverá restrição na esfera federal, principalmente no primeiro semestre, mas isso atinge a minoria dos certames do país;, apostou o professor.

Sayão ressaltou que, por conta da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o governo terá de reforçar o quadro de servidores. ;A área de segurança pública precisará de recursos humanos. O concurso da Polícia Federal, por exemplo, é muito aguardado. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, frisou que as análises serão feitas caso a caso;, ressaltou o especialista.

Quem segue o conselho de Sayão é a universitária Camila Mortati, 30 anos. ;A medida foi positiva, pois muitos vão desistir e a concorrência será menor. Agora vou continuar estudando com mais tranquilidade;, ponderou Camila, que dedica nove horas do dia se preparando para seleções públicas. O educador físico Diego Luís Pereira de Oliveira, 27, também comemorou a decisão. ;Foi uma forma de motivação. Aqueles que estão batalhando para provas como a do Senado, que são muito difíceis, ganharam tempo;, avaliou. A administradora Rosimeire Rocha Guedes, 35, entretanto, não pensa da mesma forma. ;É um banho de água fria. Muita gente suspende a vida para estudar e o governo anuncia uma mudança como essa. É desanimador.;

Vagas
O ano passado foi farto em concursos públicos para os candidatos. Levantamento da Vestcon mostra que houve cerca de 220 mil vagas ofertadas nos governos municipais, estaduais e federal em todo o país. Antes do anúncio do corte no Orçamento, a previsão era de que outras 200 mil oportunidades fossem abertas nas três esferas do poder neste ano. O processo seletivo que mais criou expectativas e polêmicas foi o do MPU, que abriu 594 vagas e cadastro reserva para cargos de níveis médio e superior. Ao todo, 754.791 pessoas se inscreveram, uma média de 1.270 candidatos por vaga. Desse total, 318.791 concorreram ao cargo de analista e 435.998 ao de técnico. Segundo o MPU, até hoje foram nomeadas 1.073 pessoas. ;Não sabemos quantas pessoas serão convocadas neste ano. Estávamos esperando a definição do Orçamento para fazer essa previsão;, informou o órgão.

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