postado em 28/02/2011 08:40
São Paulo ; Depois que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou que vai investir R$ 3 milhões para reconstruir o museu do Instituto Butantan, atingido por um incêndio no ano passado, o ex-presidente da instituição, Isaías Raw, 83 anos, voltou a criticar o acervo de cobras, aranhas e escorpiões conservados em formol que insistem em manter no local. ;A coleção queimada tinha valor histórico inestimável, mas não faz sentido algum recompor o museu porque esse tipo de pesquisa está defasado;, disse Raw, que ainda atua como pesquisador no instituto. O cientista disse que, como diretor do Butantan, já havia alertado os responsáveis pelo acervo de coleções de animais peçonhentos que o álcool usado para conservar os bichos evaporava constantemente, criando um ambiente com vapores que poderiam provocar um incêndio de altas proporções. ;O ideal era substituir o álcool por glicerina, um tipo de conservante mais seguro. Acontece que os pesquisadores e o departamento de engenharia do instituto se recusaram a tomar conhecimento da advertência;, ressaltou.Raw disse que o Butantan precisa dar um salto no tempo e passar a fazer pesquisas moleculares. Para isso, basta coletar parte dos animais e não mantê-los inteiros em vidros. ;Precisamos entrar na era da biologia molecular, que já tem 50 anos. Mais importante do que o número de cobras, é manter o DNA que deve ser sequenciado, e isso não está sendo feito;, critica Isaías Raw.
Nenhum dirigente da instituição quis rebater as críticas de Raw. O presidente da Fundação Butantan, José da Silva Guedes, ressaltou a importância das atividades dos pesquisadores no aniversário de 110 anos da instituição. ;Noventa por cento das vacinas produzidas no Brasil são feitas aqui. A Fiocruz faz apenas 10% delas. E a totalidade das nossas vacinas são compradas pelo Ministério da Saúde;, explica Guedes.
Atualmente, o Butantan produz vacinas para difteria, coqueluche e tétano (tríplice); hepatite B; raiva e gripe. Para a Campanha de Vacinação do Idoso 2011, o instituto pretende entregar cerca de 3 milhões de doses. Serão as primeiras vacinas antigripe produzidas nacionalmente em toda a história do Butantan. A fábrica está pronta e possui todos os equipamentos, mas ainda faltam R$ 60 milhões para entrar em funcionamento. Uma parte desse dinheiro deverá vir do governo de São Paulo, segundo anunciou Geraldo Alckmin.
Alckmin prometeu que o novo prédio do instituto ficará pronto até o fim do ano. Ele terá dois andares, com uma área total de 1.600 metros quadrados. A parte que abrigará as coleções foi dividida em sete salas.
MEMÓRIA
Acervo destruído
O incêndio de grandes proporções provocado por um curto-circuito destruiu todo o laboratório de répteis do Instituto Butantan, na Zona Oeste de São Paulo, em 15 de março do ano passado. O fogo começou em uma manhã de sábado, quando não havia ninguém no prédio. O sistema de alarme contra incêndio não funcionou e, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local, boa parte do acervo já havia virado cinzas. Mais de 70 mil espécies só de cobras conservadas em formol foram queimadas. As chamas atingiram só o prédio onde cientistas faziam pesquisa com répteis e aracnídeos. Na época do incêndio, a comunidade científica classificou a perda como irreparável. Isso porque boa parte dos pesquisadores que conheciam o acervo sustenta que o local tinha exemplares inéditos, ou seja, ainda não descritos pelos cientistas do Butantan. Além da maior coleção de ofídios da região tropical, a parte do galpão que foi dominada pelas chamas guardava cerca de 178 mil exemplares de aranhas. Logo após o incêndio, cientistas brasileiros e internacionais passaram a questionar a importância de um acervo como o do Instituto Butantan, que levou mais de um século para se formar e menos de uma hora para se transformar em cinzas. (UC)