postado em 11/03/2011 10:00
O ex-deputado José Genoino (PT) foi confirmado ontem como novo assessor especial do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e será o principal interlocutor da pasta no Congresso e nas Forças Armadas. Apesar de ter sido preso durante a Guerrilha do Araguaia, no início da década de 1970, Genoino mantém boa relação com os militares, com quem deve tratar da Comissão Nacional da Verdade ; um dos temas mais espinhosos do governo.Na nova função, José Genoino, que já foi um dos principais petistas no Congresso, tentará recuperar parte do prestígio perdido nos últimos anos. Ex-presidente do PT, viu sua influência diminuir com o escândalo do mensalão ; em 2005, deixou a Presidência do partido devido ao episódio e hoje responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Naquela época, um assessor de seu irmão José Nobre Guimarães, que é deputado estadual no Ceará, foi preso com dólares escondidos na cueca. Com o desgaste na imagem, a carreira de Genoino entrou em declínio e ele não conseguiu se reeleger na Câmara, no ano passado. Mas vai receber aposentadoria parlamentar de R$ 11,2 mil e, na nova função, seu vencimento será de R$ 8,9 mil ; totalizando pouco mais de R$ 20 mil mensais.
Amigo de Nelson Jobim desde a época da Constituinte, Genoino será o principal negociador do governo, ao lado da ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para a aprovação da Comissão da Verdade no Congresso. O ex-deputado também ajudará na escolha dos nomes para compor o grupo, que terá como principal responsabilidade esclarecer os casos de tortura ocorridos no período da ditadura. O primeiro texto do documento acabou sendo revisto depois que Jobim ameaçou pedir demissão, ao lado dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, por temerem uma ;caça às bruxas;.
Documento
A polêmica foi reacendida nesta semana, com a divulgação de um documento no qual os militares voltaram a criticar a instalação da Comissão da Verdade. O Ministério da Defesa tentou amenizar a crise, alegando que o texto é de setembro do ano passado e trata-se apenas de um parecer da área jurídica da pasta sobre a comissão. ;Há um entendimento perfeito entre os ministros da Defesa, da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos no encaminhamento da matéria, com a qual as Forças Armadas estão em absoluta consonância;, afirmou o ministério de Jobim, por meio de nota. ;A busca da memória é um compromisso assumido de forma definitiva por todos os integrantes do Ministério da Defesa e das Forças Armadas;, acrescentou o comunicado.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos também considera o episódio encerrado e, apesar de a Comissão da Verdade ser uma das prioridades do governo, não pretende atropelar sua tramitação na Câmara. Na próxima semana, entretanto, Maria do Rosário terá uma reunião com o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), para tratar do assunto.
Prisão
José Genoino foi preso em 1972, durante a Guerrilha do Araguaia, e ficou encarcerado por cinco anos. Na época, ele era militante do PCdoB, que defendia a luta armada contra a ditadura. Porém, como parlamentar, passou a ser um dos principais especialistas na área de defesa nacional, estreitando suas relações com os militares. Um dos projetos defendidos pelo ex-deputado foi a Estratégia de Defesa Nacional, na qual as Forças Armadas fazem um planejamento por 30 anos. Genoino chegou a ser cotado para ser o ministro da área no início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que acabou não acontecendo.