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Ministro da Justiça defende criação da Comissão da Verdade

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta terça-feira (15/3), em Brasília, que o país tem o dever não só de tornar públicos os erros cometidos no passado por agentes a serviço do Estado, como também de reparar as vítimas destes mesmos erros.

Ao comentar o trabalho desenvolvido pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e defender a criação da chamada Comissão Nacional da Verdade, Cardozo minimizou às críticas às indenizações pagas a anistiados, alegando que quem sofreu durante a ditadura tem o direito, "por lei e por justiça", não só de ver seu sofrimento reconhecido, mas também de ser ressarcido financeiramente.

"Reparar significa anistiar, indenizar e praticar gestos pedagógicos e políticos que demonstrem que o Estado reconhece seus erros do passado e arca com os ônus no presente", afirmou Cardozo, durante a homenagem da Comissão da Anistia às mulheres que lutaram contra a repressão política e, nas palavras de Cardozo, "contra o preconceito à mulher e à liberdade humana". "Vivemos outros tempos, outro momento, mas é sempre importante lembrarmos do passado para não repetirmos os mesmos erros".

Entre as seis homenageadas no evento, estava Maria Thereza Goulart, viúva do ex-presidente João Goulart, deposto do cargo pelo golpe militar de 1964. Junto com o marido, Maria Thereza teve de, na época, deixar o país e se exiliar no Uruguai e, posteriormente, na Argentina, onde o ex-presidente morreu.

Também foram homenageadas a ex-militante da União Nacional dos Estudantes (UNE), Sonia Hipólito; a ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Denize Crispim; a ex-militante da Juventude Universitária Católica e ex-dirigente da UNE, Rita Sipahi; Damaris Oliveira Lucena, que quando presa integrava a VPR; e a jornalista Rose Nogueira, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), hoje presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e servidora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

"Graças a Deus eu estou viva, mas muitos não estão e este pedido de desculpas do Estado é extensivo a todas as mulheres que lutaram", declarou Rose, ao explicar o misto de alegria, reconhecimento e tristeza que tomou conta dela ao receber a cópia da portaria em que o Estado brasileiro reconhece sua condição de vítima da perseguição e da violência dos órgãos repressores.

"Presa, eu fui conhecer meu filho quando ele tinha quase um ano. Fui impedida de amamentá-lo. Fui agredida e, por quase 50 dias, impedida de tomar banho. Por isso eu cheirava mal e, então, eles me batiam mais", contou Rose, descrevendo experiências semelhantes às narradas pelas demais homenageadas nesta terça-feira.

A experiência de Denize Crispim não foi muito diferente. Detida quando estava grávida de seis meses, ela só foi solta após seu marido, Eduardo Leite, o Bacuri, ter sido preso, em 1970. Segundo o site do grupo Tortura Nunca Mais, o drama de Bacuri, que, na época, tinha 25 anos, "é o mais terrível de todos os casos conhecidos de crime político". Segundo se sabe, Bacuri foi torturado por meses e chegou a receber de seus algozes, na cela, um jornal que noticiava sua fuga da prisão. Ele permaneceu preso e incomunicável até sua morte. Denize conta que foi na prisão que o viu pela última vez, já desfigurado pelas agressões.

"Até hoje, certos segmentos ainda têm um preconceito contra nós, mas eu estou pouco ligando, pois sou melhor que eles. Lutávamos contra o empobrecimento [em todos os sentidos] do país", concluiu Rose Nogueira, cobrando a instalação da Comissão da Verdade para esclarecer as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura militar.